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Por Vilma Gryzinski
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Putin cospe fogo e aumenta o perigo de arrastar potências ocidentais

Fatores de risco: mais armas e mais letais, fornecimento de informações em escala sem precedentes e hipótese de ficar sem gás

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 28 abr 2022, 12h39 - Publicado em 28 abr 2022, 05h44

“Nossa resposta a um contra-ataque será rápida como um relâmpago. Temos todas as armas que precisamos para isso. Ninguém deve se exibir sobre estas armas e não vamos fazer isso. Mas vamos usá-las.”

As palavras brutais de Vladimir Putin sobre o potencial uso de armas nucleares fazem parte de uma escalada bem planejada, destinada a assustar a opinião pública externa e animar a interna.

Mas o contexto em que foram ditas é mais preocupante: um conjunto de fatores está se combinando para aumentar a probabilidade de que a guerra na Ucrânia se propague perigosamente além de suas fronteiras.

Naquelas guerras simplificadas ensinadas na escola, a disputa por uma matéria-prima essencial levava rapidamente a um conflito armado. Até hoje professores ensinam, com fervor antiamericano, que os Estados Unidos só interferiram no Oriente Médio por causa do petróleo.

Desdobramentos recentes indicam que esse mundo simples, ou até tolo, pode estar sendo reencarnado com o conflito atual.

O abastecimento de gás, por exemplo, é o tipo de coisa com potencial extremo de risco. O que aconteceu com o fechamento da “torneira” de gás russo para a Polônia e a Romênia – dois ex-satélites soviéticos que provocam a maior ira de Vladimir Putin pelo apoio à Ucrânia – deu uma amostra. Os preços saltaram quase 20%. É o fator susto, explicam especialistas.

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Mesmo que o corte tenha sido antecipado um mês atrás, quando a Rússia comunicou que passaria a cobrar em rublos por suas exportações energéticas, o choque é enorme. Apesar de todas as movimentações para substituir o gás russo, com Emirados Árabes, Noruega e Estados Unidos correndo para tapar os buracos, a Europa continua a depender em mais de 40% das exportações vindas de um país com o qual está vivendo um conflito terceirizado.

As duas opções são altamente complicadas: trocar de fornecedor ou trocar de regime em Moscou. Se a segunda fosse factível, já estaria sendo efetuada. Como não mostrou ser, a alternativa é “sangrar” o regime russo, segundo as palavras do próprio secretário da Defesa dos Estados Unidos, general Lloyd Austin.

O nível de armamentos fornecidos à Ucrânia pelos Estados Unidos e aliados europeus, por exemplo, entrou em outro patamar com a transferência do foco para as regiões fronteiriças com a Rússia. Estados Unidos e Grã-Bretanha acabaram com a zona de sombra entre armas defensivas e ofensivas. Os estoques britânicos estão sendo quase esgotados na Ucrânia e até a relutante Alemanha vai fornecer tanques.

O governo americano não está fazendo nenhum segredo desse envolvimento. Ao contrário, está alardeando a ajuda sem precedentes dada à Ucrânia. 

Falando em sigilo, mas com o objetivo bem visível de mandar vários recados para os russos, fontes do aparato de inteligência despejaram ontem para a televisão NBC uma quantidade impressionante de detalhes sobre como a Ucrânia está sendo municiada de informações.

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Entre as mais relevantes: a Rússia não conquistou o domínio aéreo, que parecia completamente óbvio no começo da guerra dada a sua superioridade material, porque a inteligência americana informou, em tempo real, quais sistemas antiaéreos estariam para ser alvejados e em que momento. Com isso, salvaram caças e baterias antiaéreas, deslocados na última hora.

“As forças russas ficaram bombardeando, literalmente, terrenos baldios”, disse uma das fontes.

Mais: informações dadas pelos americanos permitiram à Ucrânia derrubar um avião de transporte de tropas que levava centenas de soldados que consolidariam a tomada do aeroporto de Hostomel. A partir dele, seria coordenada a ofensiva sobre Kiev.

O aeroporto acabou reconquistado por forças ucranianas com a retirada russa para recompor suas forças no semicírculo da região leste da Ucrânia.

Mais uma informação divulgada: a CIA participa ativamente da segurança de Volodymyr Zelensky, o presidente que virou a mais importante arma da Ucrânia na guerra da informação.

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Não é exatamente uma surpresa, muitíssimo menos para os russos. Como não proteger Zelensky de um assassinato que com certeza está no topo das prioridades de Vladimir Putin?

Novidade é a forma como as autoridades americanas estão divulgando informações que normalmente seriam enterradas em sigilo até onde a lei permitisse.

Não é uma tática sem riscos. Ao abrir informações desse tipo, as autoridades americanas sabem que municiam o Kremlin a propagar que a Rússia está sendo atacada, indiretamente, pelos americanos e aliados e pode aumentar o clima de paranoia no Kremlin.

O cálculo, possivelmente, seja reforçar a impressão de que os russos colocaram a si mesmos numa posição perdedora.

É por isso que Putin, Sergei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores, e outras autoridades russas, até chegar no próprio Putin, estão subindo o volume de insinuações sobre uma terceira guerra mundial ou mesmo um conflito nuclear.

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Querem, assim, assustar a opinião pública dos países da frente antirussa. Tocar o terror, como diz a linguagem da bandidagem. Mas também falar para o público interno, reafirmando o poderio nacional num momento em que, mesmo com informações subtraídas, o impacto da guerra – 15 mil mortos, segundo balanço do secretário da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace – começa a repercutir.

Nos canais de televisão, todos controlados pelo estado, comentaristas que propõem o uso de armas nucleares contra outros países viraram moeda corrente.

Mas a crua manipulação não elimina o fato de que, quanto maior o envolvimento de Estados Unidos e aliados na Ucrânia, maior o risco de que o conflito se generalize.

Pela lógica, em algum momento as forças russas começarão a atacar as linhas de abastecimento de armamentos enviados através da fronteira com a Polônia – uma carta que Putin está guardando.

No site War on the Rocks, um nome curioso para uma plataforma que reúne especialistas americanos no mundo da guerra, Andrew Goodman conta o resultado de seus contatos constantes com Putin na época em que trabalhava no consulado americano em São Petersburgo e o futuro presidente iniciava sua carreira política num ambiente que envolvia disputas literais com gangues para controlar pontos como o porto da cidade e a exportação de petróleo.

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“O Putin que conheci em São Petersburgo nos anos 90 não era um jogador no sentido clássico, muito menos um jogador imprudente”, escreveu o ex-diplomata.

“Jogar, por princípio, implica o risco de perder. Minhas observações e interações com Putin mostraram que ele não gostava de correr esse risco. Em vez disso, planejava cuidadosamente seus movimentos, combinando intimidação, violência e manobras legais de modo sistemático para atingir seus fins.”

“Só agia quando achava que era garantido que seria bem-sucedido.”

O retrato de um líder implacável e vingativo, capaz de esperar anos pela revanche – como mandar prender e, finalmente, condenar à prisão perpétua, quando se tornou primeiro-ministro, um dirigente local que havia feito denúncias de corrupção –, não é o de um homem que aceitará concessões na Ucrânia ou irá se “conformar” com a tomada da região separatista de Donbas. Nem, ainda, se impressionará com a tática americana de propalar a ajuda à Ucrânia.

Depois da retirada das tropas russas da região de Kiev, as tulipas estão florindo nos jardins da capital, diplomatas ocidentais estão voltando às embaixadas e até há espaço para manifestações públicas, como uma de mulheres pedindo ajuda urgente para civis e militares cercados na usina siderúrgica de Mariupol.

Por mais que os ucranianos tenham tido uma vitória espetacular, ninguém pode se enganar com o clima de alívio.

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