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Presidentes podem falar palavrões em público? Macron faz um teste

O francês diz que quer infernizar a vida dos não-vacinados, mas usa um termo chulo que não combina com sua figura engomada

Por Vilma Gryzinski 6 jan 2022, 07h19

Foi de propósito ou sem querer? Quando Emmanuel Macron está envolvido, a primeira hipótese é muito mais provável.

Mas a palavra “emmerder”, que dispensa traduções, escapou com naturalidade da boca do presidente. Vamos usar um substituto que não choca os ouvidos pudicos: infernizar. 

Assim, podemos transpor o que ele disse: “Eu sou contra infernizar os franceses. Todos os dias, brigo com os mecanismos de governo que os amolam. Mas em relação aos não-vacinados, tenho a maior vontade de infernizá-los. E portanto vamos fazer isso até o fim. Esta é a estratégia”.

Fica mais forte, evidentemente com o verbo “emmerder” no lugar de infernizar. As declarações do presidente chegaram a interromper o debate na Assembleia Nacional sobre a instauração do passaporte vacinal como único mecanismo de acesso a espaços como restaurantes, bares, cinemas e similares. Um dia depois, foi aprovado.

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“Vulgar” e “indigno” foram só algumas reações da oposição, mais propensa à briga diante da proximidade do primeiro turno, em abril, da eleição presidencial.

O substantivo que deu origem ao verbo sempre foi considerado tão chulo que tem um substituto na linguagem culta, “le mot de Cambronne”, ou o que Pierre Cambronne, general de Napoleão, disse quando foi exigida sua rendição na Batalha de Waterloo. Segundo a lenda histórica, ele respondeu, francesamente: “Merde”.

Não há consenso sobre o fundamento real dessa versão, mas todo francês entende o que a resposta de Cambronne passou a significar.

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O termo chulo que parece deslocado na boca de Macron, com sua imagem de primeiro da classe (e preferido da professora), sempre impecavelmente arrumado e pronto para abordar com profundidade qualquer assunto. Ele é tão controlado que não perdeu a compostura quando foi esbofeteado por um idiota quando se aproximou do público numa cidadezinha do interior, no ano passado.

Já ninguém estranhou quando Nicolas Sarkozy, em circunstâncias parecidas, mandou o autor de um insulto ir se ferrar, um eufemismo para o termo realmente usado.

Mais agressivo do que Macron foi Justin Trudeau. O primeiro-ministro do Canadá disse sobre os não-vacinados que “eles não acreditam na ciência e no progresso e são muito frequentemente misóginos e racistas”. Uma generalização obviamente absurda – mas pelo menos sem palavrões.

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Governantes que desrespeitam a liturgia do cargo podem até não ser rejeitados quando o palavrão combina com sua persona – temos exemplos claros e imediatos na política brasileira. Nos Estados Unidos, Lyndon Johnson foi o presidente mais boca suja de todos os tempos. Ele também era grosseiro a ponto de receber ministros enquanto usava o banheiro com a porta aberta.

“As pessoas dizem que minha linguagem era ruim, mas deveriam ouvir LBJ”, disse Richard Nixon certa vez, usando as iniciais do antecessor. A “linguagem” de Nixon veio à tona quando ele teve que entregar a transcrição das gravações secretas de suas reuniões na Casa Branca. A cada uma ou duas linhas, ele aparecia dizendo algo transcrito como (expletivo deletado). 

Virou piada que aliviava o clima exacerbado que acabou levando à renúncia de Nixon. “Impeachment para o (expletivo deletado)”, dizia um cartaz nas manifestações de protesto contra ele.

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Joe Biden, que sempre fez o tipo povão, não pareceu nada constrangido quando, na qualidade de vice-presidente, acompanhou Barack Obama na cerimônia de assinatura da reforma no sistema de saúde. “Isso é de uma **** importância”, comemorou.

“Foi a melhor coisa que já fiz”, orgulhou-se o vice-presidente Dick Cheney sobre uma discussão que teve com um senador, a quem ele mandou, igualmente, ir se ferrar.

Macron sabe muito em que está andando em campo minado. Terminou a semana passada tendo que mandar trocar às pressas a bandeira da União Europeia que havia substituído o pavilhão nacional no mais conhecido dos monumentos patrióticos franceses, o Arco do Triunfo.

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A bandeira azul de estrelas amarelas era para comemorar a presidência rotativa do Conselho Europeu assumida pela França. Mas foi um passo mal calculado, principalmente considerando-se que Macron enfrenta no primeiro turno três candidatos fortes à direita: Valérie Pécresse, Marine Le Pen e Éric Zemmour. 

Mexer com a bandeira nacional no túmulo do soldado desconhecido não é uma boa ideia nessas circunstâncias.

Segundo pesquisas mais recentes, Macron tem 24% das preferências, e os três principais adversários absolutamente o mesmo resultado: 16%.

Embora a transferência de votos não seja automática, isso dá 48% de eleitores inclinados a votar num candidato de direita, o que não garante noites tranquilas para Macron. É melhor não “emmerder” nenhuma fatia do eleitorado.

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