Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Posses do barulho: um achava que a presidência tinha sido roubada, outro…

Um pouco de perspectiva histórica ajuda a ver que a transmissão de poder nem sempre foi o ritual elegante que virou símbolo dos Estados Unidos

Por Vilma Gryzinski 19 jan 2021, 08h24

Com as paixões políticas em temperatura de fissão nuclear, é fácil esquecer que os Estados Unidos, como qualquer país, vivem reinventando um passado idílico.

A posse à qual Donald Trump não irá para não dar o gostinho da vitória a Joe Biden tem precedentes.

Andrew Jackson, o popular (e algo populista) general que em apenas cinco meses derrotou os ingleses na guerra de 1812 e depois conquistou a Flórida aos espanhóis, tinha certeza que o presidente da Câmara, John Clay, havia roubado a presidência dele no tapetão.

Jackson tinha tido mais votos diretos do que o adversário, John Quincy Adams (filho do mais distinto John Adams, o segundo presidente americano), mas perdeu na votação no Congresso – uma guinada que Trump possivelmente pensou em emular do lado do vencedor.

Continua após a publicidade

Depois da eleição de 1824, John Clay foi nomeado secretário de Estado, prova de uma “negociata corrupta”, segundo Jackson e seus partidários. Ou o famoso toma lá, dá cá.

Andrew Jackson, pintado como um asno em caricaturas ferinas, se vingou fundando o Partido Democrático. E ganhando em 1828 uma segunda candidatura presidencial – uma alternativa que talvez tenha sido considerada por Trump em algum momento, mas hoje reduzida a pó.

O pai de Quincy Adams já havia protagonizado uma posse simplesmente melancólica: muitos dos presentes soluçaram ao ouvir seu discurso. Não de emoção, mas de tristeza por verem o mitológico George Washington deixar a presidência (mantendo-se as proporções, houve um chororô parecido quando Trump ganhou de Hillary Clinton e Barack Obama teve que engolir o seu sucessor – a expressão azeda da mulher dele, Michelle, refletiu o clima).

Continua após a publicidade

Mais tenebrosa foi a posse de James Buchanan, em 1857. O presidente eleito e outros figurões hospedaram-se no National Hotel, o maior de Washington – algo como o hotel de Trump no antigo prédio dos Correios, que explodiu de gente na posse de 20 de janeiro de 2017.

Uma doença misteriosa, atribuída a condições sanitárias duvidosas do hotel, acometeu 400 pessoas. Morreram 36, entre as quais três congressistas, confirmando a fama de insalubridade de Washington, com suas temperaturas extremas, de frio e calor, e alagados propícios à malária.

A praga ficou conhecida como a Doença do National Hotel.

Continua após a publicidade

O clima inclemente também foi responsável pela mais breve das presidências, a de William Henry Harrison.

Ele tomou posse com um discurso de uma hora e 45 minutos, começando por Roma antiga. Era março de 1841, estava um frio de rachar e Harrison não usou sobretudo.

Foi para a cama na mesma noite, derrubado, e acabou morrendo de pneumonia.

Continua após a publicidade

Harrison tinha feito uma campanha em estilo discutível, com garrafas de cidra rolando para os participantes dos comícios.

A bebida em excesso também provocou constrangimento na segunda posse do austero Abraham Lincoln, em 1865. Seu vice, Andrew Johnson, estava calibrado, supostamente por ter se automedicado contra a febre tifóide com uns copaços de uísque. 

Fez um discurso tão longo e enrolado – contra as elites – que amigos chegaram a puxar as abas do seu fraque, tentando interrompê-lo. Não conseguiu dar posse aos novos senadores, como compete ao vice-presidente.

Continua após a publicidade

Johnson também exagerou no uísque quando Lincoln foi assassinado e ele teve que tomar posse em circunstâncias dramáticas.

Mais divertida foi festa popular na segunda posse de Andrew Jackson. O povão entusiasmado invadiu a Casa Branca, num clima menos agressivo do que a tomada do Capitólio na semana retrasada, mas com figuras comparáveis, gente que nunca tinha visto os salões do poder.

O povaréu sujou os tapetes de lama, derrubou comida no chão e quebrou a louça. Rolaram um saques. Dado o descontrole, Andrew Jackson teve que sair por uma janela nos fundos.

Talvez as coisas não tenham mudado tanto assim.

No capítulo das vingancinhas constrangedoras, Herbert Hoover não olhou nos olhos nem conversou com Franklin Roosevelt quando os dois desfilaram em carro conversível em 1933.

Membros do governo Clinton fizeram um papelão, quebraram coisas e vandalizaram instalações, revoltados com a eleição de George Bush filho, conhecido pela inicial do meio, W – letra arrancada do teclado de computadores da Casa Branca.

Perder o poder dói, mas perder o poder e a cabeça é pior ainda. Esta Donald Trump pode assinar.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

2 meses por 8,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.