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Vilma Gryzinski

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O presidente acidental: serão os argentinos feitos de palhaços de novo?

Milei não tem como corresponder às monumentais expectativas que criou e que o levaram à Casa Rosada, contra tudo e contra todos

Por Vilma Gryzinski
20 nov 2023, 06h33

Nem Taylor Swift, nem o papa, nem os marqueteiros do PT, fora artistas, acadêmicos e jornalistas, entre outros iluminados, conseguiram derrubar Javier Milei – uma prova tanto das forças poderosas que ele despertou quanto da desilusão da maioria dos argentinos com um sistema que, simplesmente, não funciona.

Como corresponder a tantas expectativas?

Javier Milei é um enigma, uma espécie de Jânio Quadros da era das redes sociais que, em vez de vassoura, como o fracassado presidente brasileiro que renunciou em 1961 com menos de sete meses de governo, empunhou em sua campanha uma motosserra. O sentido é o mesmo: varrer tudo isso que está aí.

Obviamente, é impossível. O novo presidente não tem cacife no congresso para mudanças tectônicas como a dolarização. Embora tenha conseguido eleger 38 deputados e oito senadores, nem se compara a Emmanuel Macron, um fenômeno muito menos explosivo, mas fenômeno mesmo assim, que depois de se eleger presidente pela primeira vez, também conquistou a maioria na Assembleia Nacional francesa.

Se Macron, com maioria, ficou longe das grandes reformas que prometia, imaginem Milei. Mesmo tendo conseguido uma parte da oposição, a ala liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri, é preciso ser muito otimista para achar que Milei terá governabilidade.

“Assume um presidente sem experiência nenhuma de gestão em qualquer âmbito, sem governadores próprios, sem prefeitos, sem maioria parlamentar, sem a mínima organização de absolutamente nada”, soluçou o esquerdista Página 12, convencido até o fim de que Sergio Massa chegaria lá e agora repetindo a tese do “salto no vazio”.

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Ao contrário da imagem que justifica seu apelido original, El Loco (hoje é Peruca), o presidente era um economista de razoável renome no mercado financeiro antes de se transformar em fenômeno que destroçava um Banco Central de papelão na peça em que faturou com sua popularidade em programas de debate da televisão, intitulada O Consultório de Milei.

Agora, a Argentina inteira virou um consultório, e daqueles pelos quais passam só grandes emergências: a inflação caminhando para a híper, a moeda em derretimento, zero reservas, um aumento da pobreza que certamente será usado por uma oposição peronista salivando para provar que a troca de papéis, de vidraça para pedra, não antecipa uma vida fácil para o novo presidente.

O paraíso liberal pintado por Milei tem poucas chances sem aquela tal de governabilidade. Na falta de apoio do legislativo, ele não tem como cortar os gastos públicos, foco dos males argentinos, e liberar as forças positivas do mercado que realizariam o potencial de um país com tudo para dar certo, mais até do que o Brasil, em termos de fertilidade da terra e de um sistema educacional menos prejudicado do que o nosso.

Quantas vezes os argentinos apostaram na mudança, desde um peronista Carlos Menem de costeletas nutridas que instaurou medidas liberais (“Se tivesse dito o que ia fazer, ninguém iria votar em mim”, explicou ele depois), até um pouco conhecido Néstor Kirchner, chegando ao próprio Macri. Kirchner foi outro beneficiado pela demanda por commodities, como o Brasil do começo do milênio, mas plantou e expandiu um sistema que comprovadamente deu errado.

Será Milei um cisne negro que surge inopinadamente e depois se consome?

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No final da campanha, ele foi mais para o centro e prometeu que não iria privatizar a educação pública, o sistema nacional de saúde e o organismo responsável pela distribuição de órgãos para transplantes. O que nos leva à maior “prova” de que ele é um louco desequilibrado, por ter dito que seria, num futuro hipotético, a favor da venda de órgãos. Provavelmente nem Milton Friedman chegaria a tanto.

O economista americano dá nome a um dos quatro cães clonados da raça mastim inglês que ele venera como filhos de quatro patas. Filhos mesmo, não tem. Aos 53 anos, nunca foi casado. Durante a campanha, começou a namorar a humorista Fátima Flores, impagável imitadora de Cristina Kirchner. Para um país que parece ter um psicanalista por cada mesa de bar, é uma delícia imaginar as interpretações que esse namoro pode ter.

A maior de todas as loucuras que Javier Milei poderá fazer será um bom governo, ou pelo menos um governo que não seja desastroso e abrevie sua passagem pela Casa Rosada. Ninguém, e talvez nem mesmo a maioria dos argentinos que votaram nele, espera isso. “Você tem que chegar com pelo menos quatro mil nomes que conversem entre si”, resumiu Macri sobre o desafio de começar um governo novo para quem estava na oposição e tem toda a máquina para substituir.

Milei não tem quatro mil nomes, embora os candidatos certamente estejam entrando na fila. Na verdade, tem um único nome, Karina, sua irmã, conselheira suprema e protetora contra os pais que batiam nele e o humilhavam (“Todas as surras que levei quando era pequeno fazem com que hoje não tenha medo de nada”, já disse, numa confissão comovedora).

Fora Fátima, a comediante. Tomara, para o bem de todos, que não seja tudo uma grande piada.

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