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O mundo segundo Biden: mais do mesmo do visto na era Obama

Como senador e vice-presidente, ele teve uma experiência considerável em política externa, mas não traz para o jogo nenhuma ideia exótica ou arriscada

Por Vilma Gryzinski 24 nov 2020, 08h39

Os iranianos estão contentes e os israelenses estão preocupados. Isso praticamente resume as expectativas em relação a um dos aspectos mais vitais do futuro governo Joe Biden.  

Sua eleição representa uma “oportunidade” para os Estados Unidos “corrigirem os erros do passado e retornarem ao caminho do compromisso com obrigações internacionais”, segundo Hassan Rouhani, o presidente iraniano. Tradução: adoraram o resultado.

Uma inédita e secreta reunião de Benjamin Netanyahu com o poderoso príncipe Mohammad Bin Salman, com participação de Mike Pompeo, o secretário de Estado já nas semanas finais da era Trump, indica a preocupação de Israel e da Arábia Saudita com a bastante provável acomodação dos Estados Unidos com o Irã.

E possivelmente uma tentativa, frustrada, de ganhar um trunfo de última hora, sob a forma da oficialização das relações entre israelenses e sauditas.

Ao contrário de Donald Trump, que habitualmente – embora nem sempre – jogava a precaução pela janela do Salão Oval, Biden não deve fazer gestos dramáticos como rasgar o acordo nuclear, ruim, com o Irã; cortejar Kim Jong-un; impor sobretaxas à China ou espicaçar os aliados europeus para que paguem sua parte do guarda-chuva de segurança proporcionado pelos Estados Unidos.

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A política externa de Biden vai ser mais feijão com arroz. Ou hambúrguer simples. Como secretário de Estado, escolheu Tony Blinken, um confiável assessor de longa data. Para conselheiro de Segurança Nacional, ficou com outro nome da casa, Jake Sullivan.

É de se prever, portanto, que não haverá o troca-troca típico de Trump nesses dois cargos-chave da política externa.

Blinken, na época subsecretário de Estado, acompanhou Biden na missão desenhada para fazer as pazes entre o governo Obama e a presidente Dilma Rousseff, injuriada por ter aparecido entre os numerosos chefes de estado “captados” pela poderosa rede eletrônica de escutas da espionagem americana.

(Aviso aos ingênuos: a “captação” não desapareceu por um ato de mágica.)

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Foi Blinken quem apelou à mineiridade da convidada, numa recepção em 2015, citando Fernando Brant e a canção que fala “amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração” (tropeçou na pronúncia do responsável pela prodigiosa interpretação, Milton Nascimento).

Blinken estudou na França quando criança, acompanhando a mãe e o segundo marido dela, e fala francês como um nativo. 

Ultimamente, era analista de política externa da CNN, uma espécie de banco de reservas enquanto a porta giratória do governo não dá mais uma volta. Nem precisa dizer que apoiou entusiasticamente todas as narrativas sobre uma colaboração maligna entre Trump e a Rússia.

O que vai sobrar, no governo Biden, para o Brasil de Jair Bolsonaro é a pergunta mais imediata. 

Provavelmente nada, exceto caso a – inexistente – pólvora bote fogo no paiol. Ou, incontrolavelmente, nas matas.

Biden, mesmo que não tenha muita imaginação e pareça Governo Obama, Parte II (sem o carisma do ex-chefe), é provavelmente o presidente com maior experiência em política externa desde Bush pai, que foi diretor da CIA. 

Foi duas vezes presidente da Comissão de Política Externa do Senado. 

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Para não ficar de braços cruzados esperando sua vez para se candidatar a presidente (quando chegou, Barack Obama disse não: a chance estava reservada a Hillary Clinton), ganhou missões especiais na Ucrânia e na China. 

Foi nesses contatos que levou junto o filho Hunter Biden, aparentemente um gênio dos negócios pelos contratos lucrativos que ganhou.

A experiência não evitou que Biden cometesse erros sérios de avaliação. A revista The Atlantic assim os enumerou: foi contra a coalizão mundial para obrigar Saddam Hussein a sair do Kuwait invadido (um sucesso) e a favor da invasão do Iraque (um osso duro que desencadeou, involuntariamente, a radicalização culminada com a criação do Estado Islâmico”. Também defendeu, em artigo, a partilha do Iraque em três pedaços (curdo, sunita e xiita).

Na avaliação de Robert Gates, secretário da Defesa e diretor da CIA nos dois governos Bush, Biden é “um homem íntegro” e simpático, mas que “errou em praticamente todos os grandes temas de política externa e segurança nacional dos últimos quarenta anos”.

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Biden, obviamente, que riscar no chão todas as diferenças entre ele e Donald Trump. John Kerry, o ex-secretário de Estado, será enviado especial para questões climáticas. Um de seus primeiros atos será voltar ao acordo de Paris. Também irá retomar a relação com a Organização Mundial de Saúde.

E o acordo nuclear com o Irã?

Isso sim pode estremecer o Oriente Médio, um lugar onde a pólvora é de verdade – e a saliva estava funcionando com a aproximação patrocinada por Trump entre Israel e os países do Golfo Pérsico.

Nenhum líder mundial tem mais motivos para se preocupar com o futuro governo Biden do que Netanyahu. Seguido de perto por MBS.

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Blinken já disse que, tal como acontece o coronavírus, não adianta ignorar a questão israelense-palestina na esperança de que desapareça miraculosamente.

Ao Times of Israel, o futuro secretário de Estado, que é judeu e enteado de um sobrevivente do genocídio cometido na Polônia pelos nazistas, reiterou o apoio total de Biden ao estado de Israel como a “melhor garantia de que o povo judeu nunca mais será ameaçado de destruição”.

Como conciliar isso com a extrema concessão que seria retomar o acordo nuclear com o Irã é um dos muitos abacaxis que terá para descascar.

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