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O coquetel da direita populista

A receita: ideias tradicionais e propostas “esquerdizoides”

Por Vilma Gryzinski 16 abr 2022, 08h00

Reindexar as aposentadorias à inflação, reverter a privatização das estradas para diminuir a tarifa dos pedágios (e como são caros na França!) e ter um estado indutor do crescimento econômico são algumas das propostas que levaram Marine Le Pen ao segundo turno da eleição presidencial, com uma projeção de conseguir inéditos 45% dos votos. Nenhuma delas evidentemente constaria do programa de qualquer político conservador no sentido tradicional, de defesa do estado menor e menos interventor.

As tradições estão sendo atiradas pela janela pelos populistas de direita, denominação que abarca desde Marine Le Pen, com o passado de fascismo à francesa repaginado, até Viktor Orbán, o líder que os progressistas adoram odiar e chamar de “autocrata”, na falta de uma ideia melhor para defini-lo. Orbán ganhou no começo do mês uma quarta vitória na Hungria, “tão grande que pode ser vista da lua”. A ironia vai na conta dos prognósticos insistentemente repetidos de que a oposição unida, a afinidade com Putin em plena guerra na Ucrânia e uma poderosa expressão de desejos progressistas bastariam para encerrar a carreira do primeiro-ministro. Seis de cada dez húngaros têm uma ideia diferente: gostam da política de direita não tradicional, que mistura impostos baixos para as empresas e remunerações reduzidas para os desempregados com controles das tarifas de energia e incentivos às indústrias locais nos setores onde podem ser competitivas. Laissez-faire e protecionismo, uma combinação esquizofrênica, criaram um coquetel húngaro que não tem similar no panorama político atual. Marine Le Pen provou dessa mistura.

“Dizia Charles de Gaulle: ‘A pior calamidade depois de um general burro é um general inteligente’ ”

A direita partidária do protecionismo e do Estado interventor não é exatamente uma novidade, em especial no Brasil, onde estes foram fundamentos constitutivos da ala dominante do regime militar. O toque de populismo do século XXI é a preocupação zero com a clonagem de propostas tiradas do ideário esquerdista tradicional. Outro componente fundamental é o apelo a pulsões nacionais em sociedades que se sentem ameaçadas pela imigração em massa. Foi assim com Donald Trump nos Estados Unidos, com a ideia do muro que nunca foi construído na fronteira com o México, onde o descontrole atual é um dos fatores que podem custar uma derrota catastrófica para o Partido Democrata em novembro próximo. Foi assim com Viktor Orbán, quando grandes massas humanas vindas de países orientais ameaçaram a estabilidade da Europa.

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E está sendo assim com Marine Le Pen, cujo clã se ergueu com base na rejeição aos imigrantes muçulmanos não integrados à sociedade francesa. Agora, com as consequências econômicas da pandemia e a pancada do aumento de preços no bolso das camadas onde o salário acaba antes do mês, ela reajustou o foco. Numa de suas tiradas famosas, Charles de Gaulle dizia que “a pior calamidade depois de um general burro é um general inteligente”. A candidata precisar demonstrar até o dia 24 se ganhou inteligência política para conquistar os poucos pontos que fazem a diferença entra derrota honrosa e vitória espantosa junto a um eleitorado onde o nome Le Pen tem sido visto, majoritariamente, como uma calamidade sem tamanho.

Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785

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