“Mulheres de Putin”: estilo matador das jornalistas que seguem o líder
Margarita Simonian diz que é “mais provável” que o presidente lance ataque nuclear do que aceite uma derrota russa na Ucrânia
“Todos nós vamos morrer um dia”, disse, fatalisticamente, Margarita Simonian, uma das pessoas mais importantes da máquina de propaganda russa voltada para o exterior, como diretora de redação da RT (antigo canal Russian Today) e do Sputnik.
Ela não estava falando do destino natural de todos os seres vivos, mas sim de uma guerra nuclear, com a garantia da destruição mútua, uma possibilidade tão terrível que geralmente nem é mencionada no discurso civilizado.
A título de consolo, Simonian acrescentou: “Mas nós vamos para o céu e eles vão simplesmente bater as botas”.
A jornalista participava de um programa de televisão, um território que se tornou assustadoramente selvagem depois da invasão da Ucrânia. Até Vladimir Soloyov, o mais propagandista de Putin na televisão, ficou ligeiramente desconfortável.
Falar em guerra nuclear virou um tema frequente, mas a jornalista impressionou pela tranquilidade com que tratou o assunto, dizendo que, “conhecendo nosso líder”, sabe que é mais provável que ele “aperte o “botão” se for confrontado com a possibilidade de sair derrotado da guerra que lançou contra a Ucrânia.
No Telegram, ela foi para o mesmo rumo, mencionando o ataque ucraniano em Belgorod, do outro lado da fronteira.
“Os anglo-saxões estão conclamando publicamente a Ucrânia a levar os combates ao território russo. E dando a munição para que sigam este plano”, escreveu. “Que escolha vocês estão deixando para nós, idiotas? A destruição total do que sobrou da Ucrânia? Um ataque nuclear?”.
Margarita Simonian é agressiva, articulada e especialista em usar argumentos do tipo que o público de países ocidentais está acostumado a ver na televisão. É exatamente o mesmo perfil de Maria Sakharova, a matadora porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Sakharova vai para as coletivas de imprensa como quem entra numa guerra. Agora, literalmente. Além de ter mente e língua afiada, ela é bonita, alta, loira e bem vestida. Quando começou, na época do governo Obama, eram frequentes – e nada positivas – as comparações entre ela e a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki.
A americana passou por um makeover, uma levantada no visual, quando se tornou a face mais visível do governo Biden. Até cílios postiços está usando, um território onde Maria Sakharova reina há muito tempo.
A porta-voz russa, que se casou em Nova York com um minivestido branco em tempos menos conturbados, chegou a qualificar o infame bombardeio da maternidade de Mariupol como um ato de “terrorismo da informação”. Segundo sua alucinada versão dos fatos, os ucranianos estavam bombardeando a si mesmos.
“Maria Sakharova e eu tiramos nossos lenços e choramos um pouquinho”, ironizou Margarita Simonian, que é de família armênia, sobre a inclusão das duas na lista de personalidades russas sancionadas pela União Europeia.
Outra integrante do “exército feminino” de Putin é Maria Butina, que foi condenada nos Estados Unidos como agente estrangeira. Ela havia se infiltrado em organizações ultraconservadoras como a NRA, o maior lobby de defesa do porte de armas. Não é difícil imaginar uma jovem russa bem falante e de boa aparência, disfarçada de conservadora de raiz, fazendo o maior sucesso entre cavalheiros da velha direita americana.
Butina cumpriu apenas cinco meses de prisão e, de volta à Rússia, foi eleita deputada pelo partido de Putin e, por causa do inglês fluente e afiado, aparece defendendo o governo em entrevistas a televisões ocidentais.
Não é preconceito falar da aparência da ala das defensoras guerreiras de Putin – mulheres bonitas são um instrumento tradicional de propaganda ou infiltração.
As “mulheres de Putin” são profissionais de alta qualificação e optaram, por convicção, por agir como partidárias fervorosas do regime – outras tomaram um caminho diferente, como a apresentadora Lilia Glldeiva, que pediu demissão do canal NTC e saiu da Rússia depois de protestar contra a guerra.
Obviamente, todas devem ser julgadas por suas ideias.
A naturalidade com que Margarita Simonian falou que a possibilidade de “uma terceira guerra mundial é mais realista” é mais chocante justamente por vir de uma pessoa com formação tão sofisticada e experiência internacional, uma líder natural que foi convidada quando jovem a visitar os Estados Unidos. Todos os que repetem os argumentos propiciados pelos meios que ela dirige estão implicitamente do lado desta abominação moral.