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Molho tártaro: a missão impossível do general mais importante de Putin

Autor da “doutrina Gerasimov”, de guerra híbrida, é colocado no comando direto da invasão da Ucrânia e pressionado a mostrar resultados

Por Vilma Gryzinski 13 jan 2023, 07h15

Se um general que ocupa o posto máximo, de chefe do estado-maior das Forças Armadas, ganha o comando direto de uma operação militar, ele foi promovido ou rebaixado?

A pergunta ronda a carreira – e a cabeça, pelo menos metaforicamente – do general Valery Gerasimov.

Pelo princípio de não se mexer em time que está ganhando, as coisas vão indo mal para os russos. A prova é a mudança de comando nas forças invasoras da Ucrânia feita por Vladimir Putin

Tirar do comando Sergei Surovikin, um careca com cara de serial killer e o apelido celebrado na mídia russa de “General Armagedon” pela atuação na Síria, foi o equivalente a um reconhecimento de fracasso. 

Surovikin não durou três meses no posto e não conquistou coisa nenhuma – ao contrário, defendeu a retirada russa da cidade de Kherson, propondo contrabalançá-la com viradas em Donetsk, palco das atuais e ainda inconclusivas batalhas em Bakhmut e Soledar.

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A coisa mais positiva dita sobre ele foi que havia “estabilizado” as frentes de combate e disciplinado as operações.

Colocar o chefe, Gerasimov, em seu lugar vai produzir os resultados que Putin quer?

No plano tático, não é impossível: se nem o chefe do estado-maior der um jeito na campanha em Donetsk, os russos estão perdidos – abrindo a porta até para o impensável, o uso de armas nucleares de curto alcance.

O plano estratégico envolve uma quantidade de elementos que impossibilita prognósticos seguros.

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A missão imediata de Gerasimov, um militar de carreira proveniente da República do Tataristão, uma ilha na imensidão da Rússia Central onde vive a população etnicamente túrquica, é conquistar Bakhmut e Soledar, cuja tomada chegou a ser anunciada pelo Grupo Wagner e foi desmentida pelo Kremlin.

Esse fato, em si, já indica que as intrigas, se não uma luta pelo poder, estão correndo a mil. Como é possível que uma força teoricamente independente, sem vinculação com os militares convencionais, como a criada por Ievgueni Prigozhin, assuma a linha de frente dos combates e faça declarações de teor oficial?

“Não vamos nos apressar. Vamos esperar pelos anúncios oficiais”, desconversou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov. Outro porta-voz, do Ministério da Defesa, disse que Soledar estava “bloqueada no norte e no sul por forças russas aerotransportadas”.

É um sinal de que Gerasimov passa a enfrentar não apenas os ucranianos, como correntes cujo antagonismo está ficando cada vez mais público.

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As duas maiores batalhas do momento são terríveis, com centenas de mortos por dia dos dois lados. Prigozhin disse que as forças mercenárias haviam conseguido formar um “caldeirão” em Soledar. Ou seja, cercar o inimigo por três lados, o que deixa apenas a opção da rendição ou do combate até a morte. A Ucrânia diz que suas forças continuam resistindo aos ataques intensos.

A “doutrina Gerasimov” se tornou conhecida em 2013 por sintetizar conceitos da guerra híbrida, ou seja, a quem vai além das ações militares cinéticas – o nome chique para bombardear, explodir e matar o maior número de inimigos possível.

Entre os pontos, figuram criar uma oposição política e “mudar a liderança política do país que confronta a Rússia”. Funcionou na Crimeia, anexada sem resistência em 2014, e esteve perto de funcionar na Ucrânia. Os americanos foram mais rápidos e aproveitaram o sentimento antirrusso, demonstrado nos protestos da praça Maidan, para as mudanças no curso político em Kiev.

Os Estados Unidos também estão sendo beneficiados pela “arma híbrida” mais importante dessa guerra, os recursos energéticos. 

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Hoje, 30% do gás importado pela Europa, a arma com que Putin planejava deixar o continente de joelhos, são fornecidos por empresas americanas. Robert  Habeck, o ministro da Economia da Alemanha, o país mais espetacularmente sujeito à chantagem russa, anunciou  que o fornecimento energético provindo da Rússia chegará a praticamente zero este ano.

Até o “General Inverno”, o mais importante aliado russo (nas ocasiões em que o país foi o invadido, não o invasor), funcionou contra. As temperaturas relativamente amenas não provocaram apagões e outras catástrofes esperadas.

O general Gerasimov está numa posição de entender perfeitamente todas as complexidades envolvidas – inclusive os críticos que tem na linha duríssima, digamos, os ultranacionalistas que consideram Putin e seu círculo brandos demais.

Em 22 de fevereiro de 1941, Dimitri Pavlov se tornou um dos primeiros comandantes soviéticos a receber a patente de general de exército. Em 22 de julho, foi fuzilado, aos 43 anos, como punição pela derrocada de seu comando, na Bielorrússia, diante da Operação Barbarrosa, a invasão nazista desfechada um mês antes. Os expurgos stalinistas no Exército Vermelho continuaram paralelamente à invasão. Num único dia de outubro, foram executados mais de 300 oficiais em posição de comando.

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Não existe um único general russo que não saiba desse histórico tenebroso – mesmo que expurgo, hoje, signifique ser rebaixado, não fuzilado.

E todos também sabem o que é fogo amigo, em termos políticos.

O tártaro Gerasimov vai ter que colocar muito molho para resolver a encrenca à qual está inexoravelmente vinculado.

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