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Israel aos 76 anos: apesar dos sucessos, desafios quase impossíveis

Como resolver a situação de Gaza no médio prazo, resgatar os reféns e restaurar a relação com os Estados Unidos: quem disser que tem as respostas…

Por Vilma Gryzinski 13 Maio 2024, 07h58

“Vamos lutar na unha. Mas temos muito mais do que unhas”, disse Benjamin Netanyahu na quinta-feira passada, reagindo à decisão displicentemente anunciada por Joe Biden de segurar a entrega de bombas de alto poder destrutivo.

Todo mundo sabe que o presidente americano, em campanha pela reeleição, está fazendo isso para ficar melhor na foto com a esquerda do Partido Democrata que chega a chamá-lo de “Joe genocida” por causa da ajuda a Israel.

Mas nem por isso deixa de ter um tremendo impacto. Israel comemora hoje e amanhã seus 76 anos de vida independente com uma relação desgastada e até agressiva com o país do qual tanto dependeu e continua a depender, no campo militar, político e diplomático.

Dizer, como fez Netanyahu, que “lutaremos sozinhos se for preciso” corresponde ao ethos nacional e à imagem que muitos judeus israelenses fazem de si mesmos: nós contra um mundo injusto, que não valoriza ou simplesmente rejeita os feitos tremendos da restauração de um Estado judeu na terra perdida dois mil anos antes.

Em termos objetivos, Israel tem material bélico suficiente para levar adiante a campanha em Gaza, inclusive em Rafah, o ponto de discórdia com os Estados Unidos. A situação de conflito de relativa baixa intensidade com o Hezbollah no Líbano já é diferente.

RAZÃO EXISTENCIAL

Os inimigos de Israel observam e se regozijam. Os islamistas mais radicais, sejam sunitas, como o Hamas, sejam xiitas, como o Hezbollah e o Irã, veem mais um indício de que o Estado judeu pode ser varrido do mapa num futuro não muito distante, o sonho que acalentam.

A luta de um pequeno país construído por pessoas que chegavam de mãos vazias, fora a disposição de construir uma nação para reparar milênios de perseguições, ainda ecoa no coração de quem acredita na justiça.

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As inúmeras manifestações, não de repúdio à guerra, mas de ódio a Israel, obscurecem a simpatia dos que continuam a compreender a razão existencial básica de um Estado de maioria judaica.

Muitos também repudiam o extremismo e a exaltação ao terrorismo vistos nas manifestações contra Israel, principalmente em países que já foram vitimados por grandes atentados movidos pelo fundamentalismo islâmico, desde os Estados Unidos do Onze de Setembro à França convulsionada por herdeiros homicidas do Estado Islâmico.

Um pequeno, ingênuo, indício de que os protestos onde o terrorismo é glorificado não representam a maioria da opinião pública foi visto no concurso musical deliciosamente trash promovido pela União Europeia de Radiodifusão, o Eurovision.

A candidata israelense, Eden Golan, teve que ser escoltada por 100 agentes policiais e até o chefe do Shin Bet, o serviço interno de segurança de Israel, foi a Malmo, na Suécia, para reforçar o esquema.

OPINIÕES EXTRAMUSICAIS

Até Greta Thunberg foi protestar com um lenço quadriculado no pescoço. A maioria silenciosa ignorou a carinha de nojo e votou maciçamente em Eden Golan. Podem ter gostado de sua música – incrivelmente parecida com todas as outras, envolvendo manifestações de vasto alcance vocal -, podem ter ficado com pena da cantora de apenas vinte anos ou podem ter decidido expressar suas opiniões extramusicais. Eden ficou em quinto lugar, mas levou 323 pontos na votação popular, atrás apenas da Croácia.

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Países onde foi a mais votada: Alemanha, Austrália, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Reino Unido, São Marino, Suécia e Suíça, além do resto do mundo, uma categoria específica.

Compare-se com a votação na Assembleia Geral da ONU, incentivando a entrada da Palestina como estado independente. Míseros nove países votaram contra, incluindo pesos pena como Papua Nova Guiné, Nauru e Palau, além de Argentina, Estados Unidos, Hungria e República Checa. A favor, foram 143. Abstiveram-se, 25, incluindo aliados tradicionais de Israel como Alemanha e Reino Unido.

MITO GREGO

O estabelecimento de um Estado palestino independente é um objetivo correto e desejável, mas no momento é não só impossível, como implicaria, como diz Israel, em uma premiação à barbárie terrorista de 7 de outubro do ano passado.

Sem contar os aspectos pragmáticos: quem representaria esse Estado por Gaza, por exemplo? O Hamas?

O que fazer em Gaza continua a ser um desafio quase impossível e Netanyahu tem sido atacado por todos os lados por não apresentar um plano – inclusive porque o Hamas tem recuperado o controle de áreas de onde o Exército israelense se retira.

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Sem um plano concreto para definir quem vai administrar Gaza, os militares enfrentam uma “tarefa de Sísifo”, deixou vazar o chefe do estado maior das Forças Armadas, general Herzi Halevi, sobre uma reunião com Netanyahu.

Um general que cita mitos gregos é sempre um sinal positivo, mesmo que diante de dilemas simplesmente infernais.

Em sete meses de guerra, Israel infligiu enormes perdas para o Hamas, mas não teve a vitória total que a população esperava. Os principais líderes continuam operando e os reféns continuam no cativeiro. Quem achar que existe uma saída fácil – Israel aceita um cessar-fogo, os sequestrados são todos soltos – é de uma ingenuidade inaceitável.

Um grande acordo, sustentado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita? Os obstáculos são enormes, se não intransponíveis. Alguém acha que o Hamas vai voluntariamente entregar o poder a quem os americanos ou árabes aliados escolham?

“JOELHOS BAMBOS”

Israel é uma nação jovem e antiga ao mesmo tempo. Os cidadãos judeus atingiram um nível de prosperidade sem precedentes para um país sem recursos naturais e com poucas indústrias tradicionais, com renda per capita de 55 mil dólares. Também criaram uma potência bélica para não precisar mais se esconder em porões ou fugir sem nada como tantas gerações da diáspora.

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O Wall Street Journal recuperou uma conversa inflamada de 1982 entre o então primeiro-ministro israelenses Menachem Begin e um certo senador chamado Joe Biden. Como presidente da Comissão de Relações Exteriores, Biden ameaçou Begin com o corte da ajuda militar americana por causa da enorme encrenca da guerra do Líbano.

“Não nos ameacem de cortar ajudar custo de nossos princípios. Eu não sou um judeu de joelhos bambos. Sou um judeu orgulhoso, com uma história de 3 700 anos de civilização”, trovejou Begin.

“Ninguém veio nos ajudar quando estávamos morrendo nas câmaras de gás e nos fornos. Ninguém veio nos ajudar quando estávamos lutando para criar nosso país”.

“Se necessário, vamos morrer de novo por nossos princípios, com ou sem a ajuda de vocês”.

A guerra do Líbano foi ruim para Israel e mostrou, como acontece agora em Gaza, que não há como eliminar inimigos entranhados na população.

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Houve até troca de socos hoje de manhã entre pessoas que assistiam – ou vaiavam – discursos de ministros por ocasião do dia dedicado aos mortos pela liberdade de Israel em cerimônias que antecedem as comemorações pela independência.

Ironicamente, muitos ficaram em situação similar à de Eden Golan, a jovem que fez tanto pela autoestima do país.

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