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Irã retrocede com líder linha dura; jovem morre depois de mostrar cabelos

Como as coisas sempre podem piorar, presidente aperta a política sobre a cabeça coberta para mulheres e levanta dúvida sobre o Holocausto

Por Vilma Gryzinski 20 set 2022, 06h45

Viva num dia, Mahsa Amini, uma jovem iraniana de 22 anos, morreu depois de ser presa pela polícia de promoção da virtude e combate ao vício.

Seu crime: não seguir ao pé da letra as instruções obrigatórias sobre como as mulheres devem cobrir completamente os cabelos em qualquer lugar público – e também nas redes sociais.

Desafiar a obrigatoriedade do chador, como é chamado o lenço preto preso no queixo, é crime desde a revolução dos aiatolás, quando líderes religiosos xiitas comandaram a derrubada do regime monárquico, em 1979.

O aiatolá Khomeini dizia que o chador era mais importante do que todas as forças armadas iranianas. Abolhassan Bani Sadr, o primeiro presidente revolucionário com ares de “moderno”, afirmou certas vez que o cabelo feminino emitia raios que enfeitiçavam os homens.

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Muitos muçulmanos xiitas, a corrente minoritária, e sunitas acreditam que a “modéstia” pregada no Corão significa envolver as mulheres dos pés à cabeça em roupas negras para sair em público. Em países mais liberais, isso não é obrigatório.

No Irã, com um histórico de modernização dos costumes promovida pelo regime do xá, o chador foi abraçado com furor político. Com o tempo, porém, algumas iranianas foram progressivamente “empurrando” o véu para trás. Pequenos grupos de corajosas começaram a tirar o chador em público.

Mahsa Amini, que era da minoria étnica curda, era dessa turma. As fotos dela viva e linda, contrastando com as imagens de quando já estava entubada, em coma, rodaram as redes sociais e causaram protestos de rua em regiões curdas, aos gritos de “Abaixo o ditador”. Cinco manifestantes foram mortos ao longo dos últimos dias.

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A polícia disse que tudo foi um “infortúnio” e a jovem sofreu um ataque cardíaco depois de ser presa. Os que não compram esta versão acreditam que ela levou uma pancada na cabeça que provocou o traumatismo fatal.

O aumento da repressão estrita ao modo das mulheres se trajar em público é produto de uma nova lei, mais severa ainda, propiciada pelo presidente linha dura, Ibrahim Raisi.

O controle aumentou na entrada de órgãos públicos, bancos e transportes coletivos. Funcionárias do governo que aparecerem em redes sociais com um fio de cabelo à mostra podem ser demitidas por justa causa. As técnicas de reconhecimento facial contribuem para a repressão.

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O presidente Raisi, alcunhado de Carniceiro de Teerã pela condenação à morte de oito mil presos políticos que já haviam cumprido sentenças menos drásticas durante o período mais repressivo, preparou sua viagem a Nova York para a Assembleia Geral da ONU com uma entrevista a Leslie Stahl, do programa 60 Minutes da televisão CBS.

Provavelmente achou que seria uma boa ideia para propagar suas mensagens ao público americano. Não foi.

“O senhor acredita que o Holocausto aconteceu? Que seis milhões de judeus foram chacinados”, perguntou a entrevistadora.

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“Acontecimentos históricos devem ser investigados por pesquisadores e historiadores. Existem alguns indícios de que isso aconteceu. Então, deveriam permitir que fosse investigado e pesquisado”.

Que tal isso como resposta? Quem proíbe que um acontecimento dessas dimensões seja “investigado”?

Sobre acordos que países petrolíferos como Emirados Árabes Unidos e Bahrein assinaram com Israel, Raisi cravou: “Se um estado estende a mão ao regime sionista, torna-se cúmplice de seus crimes. E apunhala pelas costas a própria ideia da Palestina”.

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É por esse tipo de política que países árabes mais dispostos à normalização de relações com Israel – e a bancar um Estado palestino que aceitasse a sua legitimidade – têm horror ao Irã xiita. Também abominam a possibilidade de que o Irã venha a ter a bomba nuclear cuja técnica já domina.

Uma das primeiras providências de Joe Biden como presidente foi abrir negociações para reatar o acordo nuclear que Donald Trump tinha considerado altamente insuficiente e cancelado. O acordo está bem perto de ser reassinado.

As condições geopolíticas hoje favorecem o regime iraniano. Com ajuda da Rússia, os iranianos conseguiram evitar a queda de Bashar Assad na Síria. A Rússia também ajudou o país xiita indiretamente depois de invadir a Ucrânia e provocar o aumento da demanda pelo petróleo, o combustível que continua a mover o mundo.

A Rússia quer montar seu próprio eixo do mal, atraindo Irã, Turquia e outros países antiamericanos. Não está fácil, considerando-se os fiascos no campo de combate. Mas o regime iraniano tem uma estratégia de longo prazo, montou um “arco de influência xiita” que inclui Síria, Iraque e Líbano, conta com um recurso valioso como o petróleo e planeja o momento futuro em que alcançará o objetivo de varrer Israel do mapa.

Não é tão cedo que as iranianas que almejam uma vida menos controlada, sem polícia religiosa patrulhando a quantidade de cabelo que mostram, vão poder tirar o chador sem sofrer repressão.

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