Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Guerra dos tronos: a história explica por que escoceses são separatistas

Conflito religioso, dinástico, político e nacional está por trás do sentimento independentista que um dia não muito distante desmanchará o Reino Unido

Por Vilma Gryzinski 24 nov 2022, 07h47

É triste, mas não tem jeito: o arco histórico pende para separar a Escócia da complexa construção política que é o Reino Unido. Os próprios britânicos acreditam majoritariamente nisso, apesar de obstáculos para um segundo plebiscito, como a decisão de ontem da Suprema Corte estabelecendo que uma nova consulta popular tem que ter a aprovação do Parlamento britânico.

Na última consulta, em 2014, a independência foi rejeitada e as pesquisas indicam que, apesar da força do separatismo, que tem a maioria no governo autônomo escocês, pouco mais de 50% dos escoceses ainda preferem continuar na união.

As pulsões nacionalistas, porém, parecem destinadas a prevalecer. A história de escoceses e ingleses, uma das inspirações para a Guerra dos Tronos, com as vastidões geladas do norte e os clãs ferozmente independentes, ajuda a entender por que os primeiros continuam a se achar explorados pelos segundos, mesmo muito tempo depois da fase de conflitos resolvidos na ponta da espada.

Curiosamente, o marco da união entre Escócia e Inglaterra foi pacífico: a união das coroas, de 1603, quando um beco dinástico sem saída levou o rei James VI da Escócia a se tornar, também, James I da Inglaterra. Os dois reinos mantiveram parlamentos, legislação e sistemas judiciários independentes.

James chegou ao trono com uma bagagem pesada. Era filho da rainha Mary, forçada a abdicar em favor dele com o pano de fundo do conflito entre protestantes e católicos. Mary entrou no imaginário popular como a “rainha decapitada”, uma beldade de longa cabeleira ruiva impiedosamente executada pela prima, Elizabeth I, convencida de que ela e o “partido dos católicos” conspiravam para derrubá-la.

Elizabeth nunca se casou nem teve filhos, o que ironicamente tornou James, o filho da mulher que ela havia mandado decapitar, o herdeiro dos dois tronos.

Continua após a publicidade

Alguns reis e uma revolução depois, em 1707, a união das coroas virou uma fusão política, com a Escócia absorvida no novo Reino da Grã-Bretanha, com a Inglaterra como potência dominante. Foi tão bem-sucedida que até hoje escoceses ilustres são confundidos com ingleses – para desespero dos locais.

A lista inclui gênios iluministas como Adam Smith e David Hume, inventores como James Watt e Alexander Graham Bell, e personagens fictícios formidáveis como Sherlock Holmes e, por criação, James Bond.

Como os catalães, muitos escoceses se consideram diminuídos, discriminados e prejudicados no retorno dos impostos. Os ingleses dizem exatamente o contrário: subsidiam os irmãos do norte. Têm os números a seu favor. A Escócia gerou 73 bilhões de libras em impostos no último ano fiscal e recebeu 97 bilhões.

O Brexit, que foi rejeitado na Escócia e ganhou com votos da Inglaterra, deixou-os mais descontentes ainda.

Quando Tony Blair comandou as “devoluções”, a criação de governos parlamentares nos três integrantes menores do Reino Unido – Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales –, achava que estava resolvendo democraticamente as questões nacionalistas.

Continua após a publicidade

Ao contrário, o separatismo aumentou. A atual primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, é uma das mais arrebatadas representantes do partido nacionalista e republicano. Além de seu próprio parlamento, os escoceses também elegem representantes para o Parlamento britânico, onde os independentistas regularmente esculhambam o governo central – qualquer governo.

A Inglaterra tem 56 milhões de habitantes e a Escócia, 5,5 milhões. O desequilíbrio é intrínseco, mas metade dos escoceses continua achando que dá para conviver – e muitos, na verdade, entendem que sairiam economicamente prejudicados se partissem para a independência.

Nos seus setenta anos de reinado, Elizabeth II fez muito para promover a união com a Escócia, com quem tinha ligações familiares pelo lado da mãe. Mesmo mantando os castelos, o interesse e o kilt com xadrez personalizado, o rei Charles III não tem o mesmo apelo da mãe e isso pode ser favorável ao movimento separatista.

A decisão da Suprema Corte fechou os caminhos, por enquanto, para um novo referendo, mas o separatismo não vai desaparecer por causa disso. Ao contrário, pode até se fortalecer.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.