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Guerra de propaganda: loira misteriosa aparece em várias fotos de Putin

Com farda camuflada, como pescadora ou vendedora de sorvete, a impostora indica como funciona o teatro de sombras do Kremlin

Por Vilma Gryzinski 4 jan 2023, 07h17

Menos de 48 horas depois que Vladimir Putin falou a um grupo de militares, num discurso no qual fez um balanço inteiramente fictício sobre “o difícil ano de 2022”, uma das piores catástrofes para a força que invadiu a Ucrânia arrasou um alojamento numa cidade ocupada e causou um número enorme de mortes.

Os russos disseram que foram 61 e os ucranianos colocaram a conta em “mais de quatrocentos”. As imagens mostram a devastação total do alojamento improvisado, usado também como depósito de armas, o que aumentou o tamanho da destruição.

Qual será a vingança de Putin, perguntam-se todos. E qual a nova dimensão que ganha o conflito sabendo-se que a matança foi feita por mísseis do sistema HIMARS, uma arma poderosa fornecida pelos Estados Unidos?

Nesse clima de apreensão, outra pergunta também se desenhou: quem é a “militar” loira que apareceu nas cenas cuidadosamente montadas?

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Parece uma pergunta fútil, mas tem a utilidade de mostrar como a informação é manipulada em níveis soviéticos – e como não dá para acreditar em nada que emane do Kremlin, nem sequer, ou principalmente, nas imagens.

A “militar” da foto da véspera do ano novo, depois mostrada em outra cena ao lado de Putin, com uma medalha e um buquê de flores, foi identificada como Anna Sedorenko, capitão do serviço médico.

Em 2016, ela se chamava Larissa Sergukhina e apareceu com roupa de pescador num barco visitado por Putin. Em 2017, com o mesmo nome, estava atrás dele, com o lenço branco na cabeça usada pelas ortodoxas, numa igreja de Novogorod.

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Ela também já foi vendedora de sorvete duas vezes num show aéreo. Adivinhem só quem comprou sorvete dela.

As especulações são, por motivos óbvios, fervilhantes. Ela seria uma atriz profissional ou até uma integrante da segurança de Putin, usada para dar o toque feminino quando o poderoso líder aparece em contatos com populares.

Misturar personagens reais como falsos é uma técnica que já foi usada na reunião de Putin com mães de militares enviados para a Ucrânia.

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A nova foto coincidiu com a divulgação, no site Meduza, de um documento com as instruções oficiais a autoridades e meios de comunicação no tratamento da “operação militar oficial”.

Entre outras recomendações, está dizer que Putin “tomou a única decisão certa face a um ataque iminente da Ucrânia e da OTAN contra o território russo”.

Nessa realidade invertida, um método clássico, a situação está “sob controle” e os aliados ocidentais “estão fornecendo cada vez menos armas” à Ucrânia.

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Por mais absurda que pareça, a propaganda oficial é eficiente e, segundo pesquisas relativamente confiáveis, a maioria dos russos acredita firmemente que os agredidos são os agressores.

A única proximidade do a realidade é fornecida nas redes sociais pelos chamados blogueiros militares, todos ultranacionalistas que pregam maior uso da força e criticam estratégias e comandantes das forças armadas.

O devastador ataque em Makiivka foi recebido com críticas furiosas pelos blogueiros. Um dos mais conhecidos, Igor Girkin, condenado na Holanda por causa do hediondo ataque com um míssil Buk que matou 298 inocentes a bordo de um avião civil que sobrevoava território ucraniano em 2014, disse que as vítimas são centenas – a mesma escala de números dada pela Ucrânia.

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“A quem ocorreu a ideia de colocar pessoal em grande número num prédio em que até um idiota entende que, no caso de um impacto de artilharia, haveria muitos mortos e feridos?”, reclamou o blogueiro que assina Arcanjo Spetnatz Z (Spetnatz é o nome das forças especiais russas, cuja reputação não tem sido nada insuflada na guerra na Ucrânia).

O mesmo motivo – “concentração de pessoal militar num edifício desprotegido” – levou Serguei Mironov, ex-presidente do Senado, a pedir a responsabilização penal dos responsáveis.

“Eu amo tanto a Rússia que odeio pessoas específicas à sua volta”, disse a blogueira Anastasia Kashevarova, numa mensagem direta a Putin, avançando um pouco mais o limite das críticas.

Permitir que vozes ‘mais putinistas do que Putin” se manifestem pode obedecer a várias táticas, desde usá-las nos confrontos internos entre comandos civis e militares até mostrar que a coisa seria muito pior sem Putin.

Da mesma forma, usar a mesma loira, quando certamente não faltariam figurantes, pode ser uma maneira de passar um recado: somos tão poderosos que não ligamos para esses detalhes. E não ligamos se vocês souberem que é tudo armação.

Mentalidades assim, habituadas ao exercício do poder absoluto, podem ter reações perigosas quando sofrem derrotas humilhantes.

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