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Explosões no “quintal” de Putin dão novo impulso à reação ucraniana

Sofisticadas operações de sabotagem na Crimeia são um golpe duro para os russos, embora no longo prazo a vantagem estratégica seja de Moscou

Por Vilma Gryzinski 17 ago 2022, 08h08

Não se improvisa uma força de resistência capaz de fazer o que os ucranianos fizeram na Crimeia – não apenas uma, mas duas vezes.

Na primeira operação de sabotagem, única forma de atingir o território protegido por um escudo de mísseis, uma base aérea da Marinha russa foi simplesmente dizimada, com a destruição de pelo menos dez – ou até vinte – caças e aviões de combate.

Alguns analistas acreditam que foi a maior perda sofrida pela aviação russa em um único dia desde a II Guerra Mundial.

As imagens fornecidas por satélite mostram um cenário de destruição em massa na pista do aeroporto militar, usado para treinamento de pilotos da Marinha, inclusive os do único porta-aviões russo, atualmente em reparos.

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Tão ou mais importantes, em termos de impacto psicológico, foram as cenas de russos que estavam na praia, curtindo as férias no verão da Crimeia, obrigados a fugir às pressas. Foi o primeiro, e amargo, “gosto de guerra” dado a civis russos que acreditaram na propaganda do governo de que estavam perfeitamente a salvo no balneário, famoso desde antes da Revolução, e não tinham nada a ver com a “operação militar especial”. 

Ontem, uma nova operação de sabotagem na Crimeia explodiu um paiol de munição, indicando que unidades especiais ucranianas estão preparadas para agir repetidamente por trás das linhas inimigas, abrindo uma frente em que homens e equipamentos russos estão numa inesperada situação de vulnerabilidade.

É claro que o braço pesado dos serviços de inteligência vai causar muito estragos entre suspeitos de simpatias pela Ucrânia num território que pertencia ao país até 2014. E que as represálias serão brutais: a Rússia tem capacidade de disparar mísseis terrestres e marinhos em qualquer ponto do território ucraniano.

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Há apenas um mês, o ex-presidente e hoje aspirante a pitbull  das redes sociais Dmitri Medvedev disse que qualquer ataque contra a Crimeia desencadearia um “dia do Julgamento Final”.

As explosões fazem parte de um plano maior, o de reconquista da cidade de Kherson, a mais importante tomada pelos russos desde a invasão de 24 de fevereiro. Mesmo que quisessem, os ucranianos não têm condições de usar a tática russa, de bombardeios maciços e constantes, contra seus próprios cidadãos. Retomar Kherson exigirá uma combinação de meios – inclusive operações surpresa como as realizadas na Crimeia.

Uma retomada de Kherson, interrompendo o “cinturão russo” na região leste da Ucrânia, mudaria o rumo da guerra?

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As opiniões dos especialistas são muito divididas, refletindo a situação fluída das frentes de combate e os complexos elementos políticos envolvidos.

Existem analistas que acreditam que as forças russas estão perto da exaustão, com o envolvimento de 80% de todo seu poderio humano e material na guerra na Ucrânia, onde precisam se desdobrar por uma frente de quase 900 quilômetros de extensão. Para estes, é praticamente insubstituível a perda de nada menos que 75 mil homens, entre mortos e feridos, um cálculo espantoso.

Mesmo que houvesse um recrutamento em massa – o que é proibido pela Constituição russa no caso de operações no exterior, embora tudo sempre possa ser alterado -, os novos combatentes precisariam ser treinados e integrados a uma cadeia de comando que está perto do limite. Os russos precisam no momento de campanhas bem concatenadas e orientadas, não de bucha de canhão, embora historicamente tenha sido essa seu grande diferencial.

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Outros especialistas olham para um quadro mais amplo: como em Guerra dos Tronos, o inverno está chegando e a Europa vai começar a sofrer para trocar o gás russo por uma alternativa inevitavelmente mais cara e mais escassa, o que acabará por influenciar o ânimo da opinião pública e, consequentemente, o de seus governos.

Javier Blas, analista de commodities da Bloomberg, escreveu que Putin “está ganhando a guerra da energia” e faturando com os aumentos do preço do petróleo impulsionados pela própria invasão da Ucrânia.

Ele cita um número: a produção de petróleo chegou a 10,8 milhões de barris por dia, praticamente o mesmo nível de antes da guerra, mas a preços que oferecem menos descontos, com compradores ávidos na Índia, na Turquia e outros países asiáticos.

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Blas calcula que com o lucro do petróleo, Putin pode se dar ao luxo de não vender o gás que os europeus estão cortando, enquanto a conta da luz salta 75% no Reino Unido e a mais de 100% na Alemanha.

A situação de Putin é aparentemente  tão confortável que ele voltou a fazer jogadas de efeito no tabuleiro geoestratégico, oferecendo as armas “mais mais modernas” da Rússia a aliados estrangeiros.

Ele falou durante uma feira de armamentos na qual abriu o palco até para o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, que sumiu do mapa durante os primeiros meses da guerra.

A Rússia, disse ele, “valoriza sinceramente as relações historicamente fortes, amistosas e confiáveis com países da América Latina, Ásia e África”.

Imaginaram uma Venezuela dotada de mísseis hipersônicos, a joia do arsenal russo que engana todas as baterias antiaéreas?

Não vamos exagerar. Mas também não subestimemos a ousadia de Putin.

É por isso que tanta coisa depende da capacidade de resistência dos ucranianos. Os ataques na Crimeia mostram como um país menor e menos armado consegue enfrentar um inimigo muito superior com planejamento, motivação e criatividade. As apostas são altíssimas.

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