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Estranho mundo pós-pandemia: sobram empregos, faltam trabalhadores

Escassez de mão de obra nos Estados Unidos provoca desde greves por salários maiores até aceleração do trabalho automatizado

Por Vilma Gryzinski 9 nov 2021, 07h42

Uma das melhores profissões do mundo hoje é ser motorista de caminhão. Um profissional carga pesada pode ganhar a partir de 70 mil dólares por ano nos Estados Unidos – um aumento de 33% em relação ao ano passado.

No Reino Unido, onde uma combinação de fatores específicos agravou a falta de caminhoneiros – desde o Brexit até o fato de que as ilhas britânicas têm poucas vias de acesso -, o rendimento anual é maior ainda, chegando a 80 mil libras, mais do que profissionais liberais. Fora o “bônus de entrada”, um extra dado aos profissionais simplesmente por assinarem um contrato de trabalho.

A “bolha” dos caminhoneiros sumidos, impulsionada por situações criadas pelas pandemia, como a suspensão das aulas e dos exames de habilitação, é a face mais evidente de um fenômeno que perpassa todas as esferas da economia.

Os empregos ocasionais, como os dos jovens que vão fritar hambúrgueres em lanchonetes, trabalhar como garçons em restaurantes ou fazer bico em hotéis, são os mais afetados.

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Afastados pelo fechamento temporário de estabelecimentos do ramo da hospitalidade, centenas de milhares de trabalhadores não voltaram ou encontraram oportunidades melhores – ou resolveram fazer alguma outra coisa na vida, um fenômeno que jé é até chamado em letras maiúsculas, a Grande Demissão.

Nos Estados Unidos, em agosto, chegou a 6,8% o número de trabalhadores em restaurantes que pediram demissão – o dobro da média das outras profissões. Isso equivale a 890 mil pessoas. Uma revista do setor calculou que a situação vai piorar muito para os donos de estabelecimentos: nada menos que 58% dos trabalhadores do setor planejam deixar o emprego até o fim do ano.

O que fazer para repor chapeiros, lavadores de pratos, cozinheiros, auxiliares, garçons e tantos outros profissionais do ramo? Pagar mais, claro. E oferecer benefícios. Isso vale para todas as categorias.

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Ao todo, quatro milhões de americanos largaram seus empregos em agosto. Depois de trabalhadores da hospitalidade, vendedores foram a categoria que mais caiu fora – um indício de que encontraram empregos melhores ou reavaliaram profissões que demandam  maior interação com o público, com o consequente aumento do risco de contaminação.

Existem ainda fatores mais amplos. O psicólogo organizacional Anthony Clotz, que cunhou a expressão Grande Demissão, observou para o Business Insider que os seres humanos tendem a parar e fazer perguntas existenciais quando têm contato próximo com morte e doenças.

Ou pelo menos questionar mais o ambiente de trabalho. Muitas empresas americanas estão deparando com situações novas. Em lugar de um pacote fechado de benefícios, como plano de saúde, férias e licença maternidade remunerada, que não existem universalmente nos Estados Unidos, estão sendo levadas a negociar horários mais flexíveis e a mistura de trabalho presencial e home office que parece ter virado padrão.

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Quando nem salários melhores e benefícios reforçados ajudam, o jeito é recorrer ao trabalho automatizado, que já aumentaria independentemente da pandemia, mas parece estar entrando num ciclo acelerado. A Walmart, gigante do varejo, está usando caminhões totalmente automatizados para transporte de compras de supermercado. O consumidor final ainda não está no pacote: os caminhões-robôs fazem percursos experimentais de onze quilômetros entre centros de distribuição.

O trabalho do futuro convive assim com movimentos do passado, como greves por melhores salários, cujas origens remontam ao século 18. Trabalhadores da John Deere, o nome mais conhecido do ramo de tratores e máquinas agrícolas, estão parados há quase um mês – num momento estrategicamente escolhido. Tratores usados chegam a custar, em alguns mercados, mais do que novos. Especialistas do ramo dizem que desde 1973 não acontecia algo parecido.

É claro que salários maiores para atrair trabalhadores acabam repassados, pressionam a cadeia de produção já engasgada e aumentam as pressões inflacionárias, uma preocupação que governos de economias avançadas fingem não ter, apostando que será um movimento passageiro, fruto do arranque da recuperação econômica depois do baque sofrido na pandemia.

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Segundo os últimos dados, existem nos Estados Unidos atualmente 10,4 milhões de postos de trabalho vagos.

“A falta de trabalhadores qualificados não é apenas um sintoma da economia pós-lockdown, ms também o resultado de desdobramentos mais fundamentais nos Estados Unidos, na zona do euro e no Reino Unido”, diz um relatório feito pela ING, gigante dos investimentos com alcance global.

“Acreditamos que  existe uma perda mais permanente  de trabalhadores devido ao grande número de trabalhadores mais velhos que estão se aposentando precocemente. A ideia de voltar aos escritórios e ao transporte diário também parece menos palatável para muitas pessoas”.

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A aposentadoria precoce é típica dos Estados Unidos, onde os trabalhadores têm controle direto sobre seus fundos de pensão, engordados pela exuberância do mercado de ações.

Aposentadorias gordas, trabalhadores disputados, aumentos salariais e bônus para camadas que nunca tinham visto isto – as notícias são todas boas para quem bate ponto, expressão de um passado tão distante que parece vir de outra era.

É bom aproveitar enquanto a automação e a Inteligência Artificial não bagunçam tudo, numa extensão que ainda é difícil imaginar exatamente como será. Mas dá para antecipar que serão épicas.

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