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Esqueça Top Gun: Força Aérea britânica dá pausa em pilotos brancos

Em busca por diversidade, o preconceito reverso predomina na legendária RAF, hoje apenas uma sombra do que foi no passado

Por Vilma Gryzinski 18 ago 2022, 08h01

A Royal Air Force é aquela à qual nunca tantos deveram tanto a tão poucos, nas palavras imortais de Churchill sobre a importância existencial da vitória sobre a Alemanha nazista nos combates aéreos durante os poucos e decisivos meses da Batalha da Inglaterra, em 1940.

Até hoje a RAF (“ar-ei-ef”, pronunciado com o maior orgulho, principalmente nas músicas de torcida quando a Inglaterra joga contra a Alemanha) desfruta de uma aura legendária. Por isso, teve a maior repercussão a notícia de que a Força Aérea estava dando uma “pausa” no recrutamento de homens brancos, de forma a aumentar a diversidade em suas fileiras, com mais mulheres e mais minorias raciais.

Fontes que falaram em off criticaram o objetivo “impossível” de diversificação, especialmente num momento agitado como o atual, com a guerra na Ucrânia demandando mais pilotos britânicos em manobras em países vizinhos da Otan e o estado de alta tensão provocado pela China em seu cerco a Taiwan.

As mesmas fontes disseram que a responsável pelo setor de recrutamento, uma oficial com patente de capitão, demitiu-se do cargo em protesto – algo bem fora do padrão quando envolve militares, uma área de atividade em que disciplina e hierarquia são valores máximos.

O incentivo à diversidade coincide com um momento de aperto para a complexa operação de recrutamento e treinamento de pilotos de altíssima performance. Os candidatos chegam a esperar por vários meses por uma vaga que disponibilize tempo, treinadores e equipamentos necessários para formar um Top Gun.

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De forma geral, o atraso remonta à mudança estratégica que aconteceu com o desmoronamento da União Soviética. Os países europeus aproveitaram para cortar recursos às forças armadas, contando que o risco de um conflito tinha diminuído muito e, em caso de emergência, sempre haveria o poderoso guarda-chuva americano.

No caso do Reino Unido, houve um fator adicional: as vendas de caças sofisticados – e caríssimos – a países como Arábia Saudita e Catar são atreladas ao treinamento de pilotos locais, o que aumenta o tempo de espera para os britânicos.

O aumento da diversidade tem sido cobrado de todos os ramos das Forças Armadas. E não apenas em termos de gênero e cor da pele, mas também de uma categoria qualificada como “diversidade neurológica”, uma forma politicamente correta de definir autistas. Até os testes de preparo físico estão sendo dispensados, levando em consideração que as batalhas do futuro serão cada vez mais travadas diante de computadores.

É claro que nos Estados Unidos também existe uma enorme discussão sobre a queda nos padrões de aptidão física de forma a incorporar mulheres a forças de choque, como os fuzileiros navais. No ano passado, a primeira mulher conseguiu passar pelo inacreditavelmente exigente treinamento de 37 semanas para se qualificar como tripulante de embarcações usadas pela mais famosa força especial do mundo, os SEALS da Marinha americana.

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No geral, o índice de eliminação para se tornar um SEAL é de 90%.

“As Forças Armadas deveriam ser a cura para a política identitária, não a sua promotora”, criticou no Telegraph Ben Obese-Jecty, oficial da reserva do Exército britânico, amparado pelo fato de que é negro.

Elas “não estão interessadas na riqueza da diversidade cultural de seus integrantes. Como cada um de seus ramos desmonta os novos recrutas e os reconstrói segundo a sua própria imagem, a única cultura que conta é a do serviço do qual passam a fazer parte”.

Mas a realidade é que a discussão identitária domina hoje todas as esferas e aumentar a diversidade sem derrubar os padrões é uma discussão constante.

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Na Inglaterra, pela primeira vez na história, jovens que moram em bairros mais ricos estão entre os que menos receberam ofertas para cursar diferentes universidades. Para se qualificar, os alunos “menos privilegiados” têm que ter alcançado a nível A nas provas finais do ensino médio, mas com três pontos a menos. É uma espécie de política voluntária de cotas.

Teoricamente, escolher estudantes por origem social é uma forma de discriminação, mas ninguém tem alternativas, na prática, para promover os “menos privilegiados”. Proporcionalmente, suas famílias pagam mais tributos e recebem menos um dos maiores benefícios que existem, o de uma boa educação.

O debate sobre oportunidades mais equilibradas inclui absurdos como o ocorrido no sistema de ensino público de Minnesota, o gélido estado americano na fronteira com o Canadá. Num acordo com o sindicato dos professores, ficou estabelecido que, em caso de demissões, funcionários brancos serão dispensados antes que “um membro da população subrepresentada”.

No que isso difere da “pausa” na contratação de pilotos brancos pela RAF?

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É uma pergunta com várias linhas de respostas.

Um episódio histórico de discriminação: integrantes da Real Força Aérea na época da Batalha da Inglaterra achavam que os pilotos poloneses que haviam escapado da invasão nazista, primeiro de seu país e depois da França, realmente não tinha habilidade no combate aéreo, como diziam os alemães. Os refugiados receberam triciclos com bússolas e outros equipamentos toscos para “treinar”.

“Tudo que sabíamos era que eles haviam durado uns três dias contra a Luftwaffe”, escreveu um piloto inglês lotado no esquadrão polonês.

Na primeira situação de combate, as opiniões mudaram e até os fleumáticos ingleses ficaram impressionados com “a insuperável bravura”, além da gana quase suicida, com que os pilotos poloneses iam para cima dos alemães.

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Em 42 dias, os pilotos poloneses derrubaram 126 aviões alemães. Nove se qualificaram com a designação de ás – cinco ou mais aviões inimigos abatidos – e um, de nacionalidade checa, integrado ao esquadrão, alcançou a marca de 17.

Ao todo, em 1940, foram mortos 1542 pilotos e tripulantes nas batalhas aéreas que salvaram as ilhas britânicas do domínio nazista.

Cada piloto era contratado para um total de 30 missões e o tempo médio de sobrevivência era um mês. O tempo de treinamento precisou ser reduzido de seis meses para duas semanas.

É uma história magnífica que precisa ser honrada, sem discriminações de qualquer tipo.

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