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Direita dura e pura: Giorgia Meloni pode faturar próxima eleição na Itália

A “viúvas de Draghi” são muitas, mas o jogo está feito e o querido primeiro-ministro não ficou dentro dele; mas a líder direitista populista está

Por Vilma Gryzinski 25 jul 2022, 08h07

“Um general brilhante, mas um general sem tropa”. Assim um diplomata europeu resumiu para o Politico a posição de Mario Draghi, o homem que salvaria a Itália, admirado por um vasto público que vai das elites às massas, mas derrubado pelo fato de que é um tecnocrata – brilhante, mas tecnocrata – sem partido. Ou seja, sem soldados.

Em lugar dele, desponta para a eleição de setembro a loira e brava Giorgia Meloni, líder dos Irmãos da Itália, um partido que teve 4% dos votos em 2018 e agora, segundo indicam as pesquisas, terá cerca de 23%, o que o coloca como o principal na fragmentada política italiana. Se fizer a aliança óbvia, com os outros dois partidos de direita, o de Silvio Berlusconi e o de Matteo Salvini, ela será a primeira-ministra.

As intrigas formidavelmente intrincadas, como se espera da política da Itália, que provocaram a queda de Draghi envolvem alianças entre inimigos mortais, bilionários, ex-garçons, Vladimir Putin e outros elementos do que é inevitavelmente chamado de opereta.

Podem envolver também nada menos do que o futuro do euro e da própria União Europeia. Eternamente à beira do abismo, do qual foi afastada por Draghi em suas várias encarnações, como presidente do banco central italiano e do europeu, a Itália volta a ser um fator de instabilidade. E, por enquanto, nem os fundos europeus de emergência vai receber.

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Agora, em vez do Super Mario no comando dos salva-vidas, está Christine Lagarde, chamada pelos inimigos de Christine Catástrofe e criticada pela demora inexplicável em aumentar a taxa de juros num momento de perigo inflacionário. Sobre Giorgia Meloni, é impossível fazer prognósticos – uma perspectiva que costuma deixar os adultos na sala muito nervosos.

Draghi liderava, por causa da crise provocada pela pandemia e suas consequências, um governo de união nacional entre todos os partidos, exceto o de Giorgia Meloni.

Sua queda começou a ser desenhada quando o Movimento Cinco Estrelas, um bizarro partido liderado pelo comediante Beppe Grillo, rachou por causa da invasão da Ucrânia. Luigi di Maio, um ex-garçom que se veste com a inconfundível elegância napolitana e é o ministro das Relações Exteriores, ficou do lado da Ucrânia e do envio de armas ao país. Ele e a turma anti-Putin fundaram um novo partido, o Juntos pelo Futuro.

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O racha enfraqueceu o governo e o destino de Draghi foi selado, segundo o Politico, num almoço no palacete de Berlusconi na Via Appia em que foi servido peixe espada – acompanhado pela cabeça do primeiro-ministro. Berlusconi, Salvini e outros políticos de direita decidiram puxar o tapete de Draghi e não teve jeito.

Draghi é um fenômeno: tem uma trajetória exemplarmente globalista, indo do MIT ao Goldman Sachs, passando pelo Banco Mundial e os bancos centrais que comandou, mas conseguiu se tornar popular com as massas ao se conduzir de maneira impecavelmente comprometida com o bem comum.

Não foi eleito, mas escolhido pelo presidente Sergio Mattarella, que exerceu sua prerrogativa numa das sucessivas crises políticas. Queria o lugar do já octogenário Mattarella, que pretendia se aposentar. Nada, como sempre, saiu de acordo com os planos.

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Agora parece ter chegado a vez de Giorgia Meloni, aos 45 anos, uma estrela em ascensão que viralizou como um vídeo que virou meme no qual, ao som de um pancadão, repete a abertura habitual de seus discursos: “Eu sou Giorgia, sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã”.

Ela também foi babá, garçonete, bartender e uma das bonitonas de Berlusconi, mulheres de boa estampa e pouca trajetória política que ele colocava em seu gabinete para  encantar o público que o apoiou nas urnas por mais de uma década e irritar a esquerda.

A irritação se perpetuou. Ficou, tristemente, famoso um diálogo entre três professores universitários – todos de barbas brancas – em que um deles chama Giorgia de epítetos ofensivos associados a fêmeas de animais.

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Desprezada pelos intelectuais, ela faz sucesso exatamente entre o mesmo público que gosta de Salvini e de sua causa principal, a imigração descontrolada de massas humanas vindas da África.

Ao contrário de Berlusconi, íntimo de Putin a ponto de receber suas filhas para férias em sua mansão na Sardenha, e do putinista Salvini, vaiado quando foi “visitar” refugiados ucranianos na Polônia, Giorgia Meloni tem apoiado o envio de armas para a Ucrânia.

Como irá se relacionar com os dois parceiros putinistas num futuro governo? Como irá administrar a instabilidade política crônica do país? E enfrentar uma crise econômica que já era difícil para um megaprofissional como Draghi, imaginem para uma neófita?

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Giorgia, como todos a chamam, é considerada mais à direita do que Marine Le Pen, a francesa laica que convive com homossexuais no comando de seu partido. A italiana é contra o casamento gay, o que parece algo de outra era, embora apele a um público maior quando critica tolices como mudar a certidão de nascimento para colocar “genitor 1” e “genitor 2” no lugar de pai e mãe.

Atrás das paisagens magníficas, de uma invejável qualidade de vida e da respeitabilíssima posição de sexta maior economia do mundo, a Itália tem problemas assim resumidos no New Statesman por Jeremy Cliffe: “O renda real está estagnada há décadas, a população está envelhecendo e os jovens ambiciosos foram embora, o estado é decrépito, a política é endemicamente instável e a dívida é alta”.

“Mais provável do que uma grande calamidade, é  um cenário em que o país decai pouco a pouco, afastando-se cada vez mais de seu tremendo potencial”.

A probabilidade de que Giorgia Meloni influencie em alguma coisa nesses grandes movimentos históricos é baixa.

Em compensação, está todo mundo esperando para ver como vai ser a briga Meloni-Salvini. Promete novas e peninsulares emoções.

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