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Por Vilma Gryzinski
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Cristina brava: como se a Argentina não tivesse problemas suficientes…

Até as menores pedras do Caminito sabem que a relação entre o presidente e sua poderosa vice seriam complicadas, mas afastamento pode se antecipar

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 7 dez 2020, 08h11 - Publicado em 7 dez 2020, 08h10

Cristina Kirchner tem um plano bem claro. 

Quer reformar o Judiciário para se livrar de todas as suas muitas encrencas com a justiça, por corrupção e lavagem de dinheiro – nada menos do que doze processos.

Também quer eleger seu filho, Máximo, como o terceiro presidente Kirchner da história recente. Se não der, o plano B é Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires.

E que se danem os que estiverem no caminho.

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Como é um clássico de todas as histórias envolvendo criador e criatura, quem está cada vez no meio do caminho é Alberto Fernández, o presidente que ela inventou para driblar os índices de rejeição acumulados em dois mandatos que só não foram piores porque na Argentina sempre tem mais espaço a ser cavado no fundo do poço.

Os dois só se cruzaram recentemente, depois de quarenta dias de silêncio mútuo, no tumultuado e lastimável velório de Diego Maradona na Casa Rosada. E assim mesmo de passagem. 

Enquanto a situação escapava ao controle, a ponto de ser preciso retirar o caixão do morto célebre, ela se encastelou na sala de um de seus principais apaniguados, Wado de Pedro, o ministro do Interior encarregado de impor o cristianismo por dentro.

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O último motivo de tensão de uma relação cada vez mais gélida foi a decisão da Suprema Corte confirmando a condenação de Amado Boudou, um dos bonitões da corte mais próxima de Cristina, de quem foi ministro da Economia e vice-presidente.

Nem todas as “rearticulações” no Poder Judiciário propiciadas ao longo do último ano bastaram para salvar Boudou, protagonista de um dos escândalos de corrupção mais inacreditáveis de todos os tempos. Via empresas de fachada e outras ilegalidades, ele chegou a ser dono da gráfica que imprimia dinheiro para o país.

Literalmente. Boudou era um ministro da Economia que produzia dinheiro e não apenas no sentido figurado, de soltar as rédeas da máquina e deixar a inflação correr solta.

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Mesmo com um caso tão escandaloso, os kirchneristas de sempre defenderam Boudou, enquanto os albertistas se calavam.

De uma maneira muito perversa, embora inevitável, quanto mais Alberto Fernández se der mal, mais Cristina vai crescer para cima dele.

Infelizmente para a Argentina, parece que ambos os movimentos vão se acentuar. Durante alguns meses, no começo da pandemia, Fernández pareceu próximo de declarar a independência: sua popularidade disparou, com a maioria da população apoiando a quarentena severa e as medidas para colocar um dinheiro de emergência no bolso dos assalariados.

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Em comparação com o Brasil – e os dois países vivem se comparando -, a Argentina parecia ter sido poupada do pior.

Claro que não durou muito. A quarentena virou “quareterna”, os 45% que dependem da economia informal foram se descolando das regras, o congelamento de preços produziu exatamente todos os previsíveis problemas, a moeda entrou em espiral e a epidemia também.

Com quase 40 mil mortos com Covid-19, a Argentina hoje está à frente do Brasil no mais triste de todos os campeonatos. São 873 vidas perdidas por um milhão de habitantes (829 no Brasil).

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Na quinta-feira, Alberto Fernández completa um ano de governo. Todos os indicadores são terrivelmente negativos, desde o aumento para 40% da população na faixa de pobreza até a recessão de 12,9% prevista para o infernal ano de 2020 – a pior, entre tantos casos graves, dos países do G20.

Recuperação da economia perdida, só em 2024. E todo mundo sabe que quatro anos na Argentina são várias eternidades.

Na semana passada, o Senado onde Cristina reina, faz e acontece, aprovou um imposto único, a “contribuição solidária”, que começa em 2% para pessoas físicas com ativos equivalentes a mais de 2,5 milhões de dólares.

A ideia ostensiva é ajudar o país a combater a emergência criada pela pandemia e outras emergências sociais.

“Querem apresentá-lo como uma contribuição dos mais ricos, mas todos sabemos o que acontece que esses impostos únicos. Eles ficam para sempre”, disse o presidente da Sociedade Rural, Daniel Pelegrina, ecoando Milton Friedman (“Nada é tão permanente quanto um programa temporário do governo”).

E nada é tão garantido quanto os muitos choques que virão entre a imperiosa criadora cada vez mais irritada com uma criatura que continua a ter miragens de independência.

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