Cancelados: os preconceituosos Peter Pan, Dumbo e Os Aristogatos
Em outro delírio politicamente correto, desenhos clássicos estão fora da Disney+ por apresentar personagens indígenas ou negros de forma negativa

Não vamos nem falar no Zé Carioca, o papagaio preguiçoso que vive de pequenos golpes – e isso porque Walt Disney tinha a tarefa propagandística de promover boas relações dos Estados Unidos com os latino-americanos (latinx-americanxs, na novilíngua).
Como o Brasil tem presença internacional perto de zero, o notório psitacídeo ainda não caiu na rede da vigilância politicamente correta que pegou personagens mais conhecidos.
As justificativas para censurar a própria filmografia são um primor dos delírios dos tempos contemporâneos.
Em Peter Pan, o filme mostra um “povo nativo de modo estereotipado que não reflete a diversidade dos povos nativos nem suas tradições culturais autênticas”.
Pior, Peter Pan e os meninos da família Darling “dançam e usam cocares”, entre outros adereços exagerados.
Nenhuma referência ao “beijo de nariz” da princesa índia, Tiger Lily, ou Tigrinha, em Peter Pan, na cena em que Wendy fica com ciúmes, mas certamente também foi levada em consideração para colocar o filme no Index Prohibitorum.
O que seria de se esperar de uma história onde um pó mágico faz crianças voar? Um tratado antropológico à la Margaret Mead (mesmo que o paraíso de liberdade sexual sem culpa que ela pintou em Samoa seja controvertido)?
Peter Pan já deu até margem à uma síndrome psicanalítica, o complexo de homens que não querem crescer e assumir as responsabilidades da vida adulta, mas ser acusado de racismo parece um exagero absurdo.
É claro que não seria filmado hoje da mesma forma. Da mesma maneira, os corvos de Dumbo não seriam uma paródia de atores brancos que pintavam o rosto de preto para representar negros de forma caricatural – o motivo para o cancelamento do filme sobre o pequeno elefante voador.
Os Aristogatos entraram na lista por causa do siamês Shun Go, que toca piano com pauzinhos e de forma geral representa um oriental estereotipado.
A mesma razão é apresentada para por na lista dos proibidões o inocente A Família Robinson. O pirata Kuala, representado pelo elegante nipo-americano Sessue Hayakawa, e seus companheiros de profissão são apresentados como “ameaça estrangeira estereotipada”.
Roupas, penteados, maquiagem e adereços “reforçam a imagem de barbárie e alteridade”. Pior, “falam uma linguagem indecifrável, fazendo uma representação singular e racista de povos asiáticos e do Oriente Médio”.
A proscrição de desenho da Disney pela própria Disney é um dos casos mais impressionantes de autocensura dos tempos atuais, um fenômeno particularmente chocante por acontecer nos Estados Unidos, a pátria mundial da liberdade.
Há duas semanas, a Hasbro mudou o nome do Mr. Potato Head, o Sr. Cabeça de Batata. Perdeu o “senhor” para não ofender as brigadas da fluidez de gênero. Ele agora é neutro para “promover a igualdade e a inclusão de gênero”. Logo deve surgir a batata trans.
Os extremos do politicamente correto saíram das universidades americanas, onde vicejam há vários anos, e chegaram ao nível médio de ensino.
Bari Weiss, nome conhecido entre os jornalistas expurgados do New York Times por desviarem, real ou imaginariamente, da “linha justa”, escreveu uma reportagem impressionante sobre pais de alunos de escolas de elite que se reúnem quase clandestinamente para refletir sobre o que está sendo ensinado a seus filhos.
Basicamente, crianças e adolescentes brancos são martelados continuamente como racistas incorrigíveis, mesmo que não tenham consciência disso, e os de outros tons de pele como vítimas.
“Para a maioria dos pais, a demonização do capitalismo é o menor dos males”, relatou a jornalista sobre uma escola caríssima da Califórnia.
“Eles contam que seus filhos dizem que têm medo de falar em classe. Estão preocupados com o novo plano da escola para se tornar uma ‘instituição antirracista’ que força seus filhos a se fixar em questões de raça e atribui uma importância a elas que soa grotesca”.
Preparar alunos e crianças em geral para não ter atitudes discriminatórias é uma das tarefas mais primordiais da educação, mas os absurdos da extrema ideologização do tema estão produzindo estudantes intimidados e distorções ridículas como o Peter Pan censurado.
Infelizmente, também podem gerar reações que empurram os patrulhados para o lado oposto do espectro, o da supremacia branca e outras barbaridades.
“Os sonhos se realizam se você desejar com toda força”, é um dos tema dominantes da narrativa de Peter Pan. Distorcido ou manipulado, o sonho pode virar pesadelo.