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Canadá: sete graus negativos e caminhoneiros ganham adesão popular

Contra toda lógica, protesto contra vacina obrigatória aumenta e coloca o pacífico país na linha da frente de um movimento em expansão

Por Vilma Gryzinski 7 fev 2022, 07h38

O que está acontecendo no Canadá?

De todos os países em que brotaram protestos contra a vacinação e outras medidas  anticovid, o mais inesperado é o civilizado, pacífico e, em geral, nada politicamente enrolado Canadá.

E não é só isso: o movimento iniciado por caminhoneiros, em protesto contra ter comprovante de vacinação para poder cruzar a fronteira com os Estados Unidos, a grande linha de constante comércio, é até agora o mais prolongado e coeso, superando países com histórico muito maior de manifestações.

Numa situação rara, o prefeito de Ottawa, a capital para a qual convergiram os manifestantes,  declarou estado de emergência.

Como tudo acontece no Canadá, praticamente não houve nenhum incidente grave, embora a maioria da imprensa tenha procurado retratar os caminhoneiros como brucutus de extrema-direita que, para horror universal, estavam introduzindo a prática do trumpismo no país. Alguns dos sinais de pavoroso extremismo: portar bandeiras canadenses (de cabeça para baixo) e cantar o hino nacional.

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Os caminhoneiros não são exatamente tolos e colocaram equipes para limpar e guardar monumentos nacionais como o dedicado ao soldado desconhecido no qual alguns idiotas havia praticado atos abusivos.

Os milhares de caminhões – só com o cavalo, sem as carrocerias – que foram saudados ao longo das estradas não podem ser ignorados e nem colocados na conta de “racistas”, como fez o primeiro-ministro Justin Trudeau.

Foi um lance errado. Ao colar o pior de todos os xingamentos nos caminhoneiros, Trudeau fechou a porta para uma solução negociada. Depois de carregar na retórica, Trudeau desapareceu: está com covid e foi retirado, por precaução, da residência oficial em Ottawa.

É claro que o sumiço do primeiro-ministro não pegou bem para os que já tendem a discordar dele. Até simpatizantes balançaram e 53% dos canadenses disseram que ele não estava conduzindo bem a situação.

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Qual o apoio real dos caminhoneiros? Uma pesquisa divulgada quinta-feira passada mostra que, embora a vasta maioria dos canadenses apoie a vacinação, 32% acreditam que têm “muito em comum” com o Comboio da Liberdade, como o movimento dos caminhoneiros se denomina (é melhor, embora intraduzível, o trocadilho “Truckistan”). Outros 43% consideram o movimento “respeitoso e apropriado” – o tipo de pergunta que só apareceria numa pesquisas canadense.

“Um bom número de pessoas claramente compartilha a frustração com uma pandemia aparentemente interminável e com as medidas que tornam a vida desconfortável”, disse, com toda cautela, o responsável pela pesquisa, Bruce Anderson.

Com Trudeau desaparecido e o líder do Partido Conservador, Erin O’Toole, simplesmente derrubado por uma votação interna do partido, o espaço reservado aos políticos tradicionais foi ocupado pela barulhenta manifestação e por um chefe de polícia, Peter Sloly, obviamente despreparado para lidar com uma novidade tão grande na nada vibrante Ottawa.

Sloly chegou a dizer que não tinha contingente para “limpar” o protesto, que evidentemente inferniza a vida dos moradores do centro da capital, e só o exército poderia entrar em ação com uma missão dessas. Trudeau logo avisou que a ideia de recorrer às forças armadas tinha que ser vista com “muito, muito cuidado” e “não há planos” para isso.

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Tradução: é inimaginável o uso da força militar contra cidadãos no mais calmo e civilizado país das Américas.

Até quando pode durar um protesto com temperaturas negativas – domingo que vem, fará 11 abaixo de zero, e isso durante o dia – e profissionais que dependem do frete para ganhar a vida?

Uma das fontes de financiamento do protesto ruiu quando o GoFundMe decidiu que os 9 milhões de dólares em doações aos caminhoneiros não seriam destinados a eles por motivos políticos – uma atitude francamente escandalosa.

Boicotes assim rendem mais, não menos, simpatias aos caminhoneiros. Em vários países europeus, houve manifestações de solidariedade da categoria, embora nada que se compare ao movimento dos canadenses.

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Em vez de diminuir, como seria o movimento natural, os protestos se disseminaram nos últimos dias para Toronto e a capital de Quebec, a parte que fala francês.

Segundo a polícia de Ottawa, cerca de mil caminhões continuam no centro de capital. Moradores continuam dando de comer, beber e esquentar aos caminhoneiros e pipocam manifestações de apoio surpreendentes, como centenas de vaqueiros a cavalo que apareceram com bandeiras na mão para dar uma força.

O que os caminhoneiros reivindicam é impossível: mesmo na hipótese, inexistente, de que o governo canadense eliminasse a exigência da vacina no cruzamento da fronteira, seria preciso que os Estados Unidos fizessem o mesmo.

Ironicamente, a obrigatoriedade só vai cair quando os índices altos vacinação e o ciclo natural do vírus fizerem a epidemia recuar, permitindo a normalização das atividades. O Canadá, um país desenvolvido e maior do que o Brasil, com apenas 38 milhões de habitantes, teve 35 mil mortes pela doença. Dá 907 por milhão de habitantes (mais de 2 900 no Brasil). No total, 80% da população está vacinada com duas doses e 40% com o reforço.

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Como uma causa tão pouco simpática como a oposição às vacinas ganhou tanta adesão justamente no Canadá?

As intervenções muito longas e muito invasivas causam frustração e rejeição. Uma pesquisa do fim de janeiro indica que o índice de canadenses que querem o fim das restrições subiu para 54%, um aumento de 15 pontos em apenas um mês. Ou seja: tem cada vez mais gente do lado dos irmãos da estrada. 

A presença de pessoas vacinadas nas manifestações iniciadas pelos caminhoneiros é um sinal de que o estoque de paciência está esgotando. Até no Canadá.

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