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Boataria sobre atentado indica como é precária posição de Mahmoud Abbas

Ele é o palestino 'confiável', na falta de outra opção, mas vive sob risco da competição do Hamas e de alguma rebelião interna

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 20h14 - Publicado em 8 nov 2023, 08h07

Depois que a guerra da Gaza acabar, qual desses líderes ainda estará no poder: Joe Biden, Benjamin Netanyahu ou Mahmoud Abbas?

Biden está em queda acelerada de popularidade e pode simplesmente perder a reeleição no ano que vem. Em Israel, mais da metade da população quer a renúncia de Netanyahu e ele próprio já disse que terá que prestar contas sobre o incompreensível despreparo que permitiu o ataque em massa de 7 de outubro.

Aos 87 anos, Abbas não precisa se preocupar com essa coisa de voto: foi eleito presidente da Autoridade Palestina em 2005 e nunca mais houve eleições propriamente ditas. O maior risco para ele é administrar a concorrência do Hamas que, quanto mais violento mais apoio tem da opinião pública, e seus próprios radicais.

O bombardeio de Gaza está aumentando o radicalismo interno e por isso as redes pegaram fogo com a história, sem nenhuma comprovação, de que um guarda-costas de Abbas foi morto numa tentativa de assassinato contra o presidente. Circulou até um manifestou de um grupo autodenominado Filhos de Abu Jandal, nome de guerra de um palestino conhecido pela resistência – e inspirado num dos venerados companheiros do profeta Maomé.

Exigência: que Abbas declarasse “em 24 horas um confronto aberto com a ocupação por todos os meios necessários”. Ou seja, uma declaração de guerra a Israel. Também teria que desdizer as declarações de Antony Blinken sobre uma eventual transmissão de autoridade sobre Gaza a Abbas.

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A realidade já desmentiu o secretário de Estado: Netanyahu disse que Israel vai assumir “a responsabilidade pela segurança em Gaza” por um período indefinido depois da guerra. “Quando não temos essa responsabilidade, temos uma explosão de terror numa escala que não poderíamos ter imaginado”, justificou, provocando uma reação negativa pública dos Estados Unidos.

Em princípio, a declaração do primeiro-ministro israelense não exclui que as atividades administrativas venham a ser assumidas pela Autoridade Palestina. Obviamente, isso valeria à entidade acusações de traição e colaboração com o inimigo. Não seria nenhuma novidade. Mahmoud Abbas é um especialista em jogo duplo e tem uma relação extremamente complexa com Israel. Colaborar com a “ocupação” não está fora desse jogo, quando interessa.

Para o público externo, Abbas tem um discurso. Quando fala aos palestinos, o tom é muito diferente. Uma das atividades preferidas do Memri, a ONG especializada em traduzir depoimentos em árabe e outras línguas orientais, é mostrar os discursos antissemitas reincidentes de Abbas. Nenhuma surpresa: quando estudava na antiga União Soviética (tendo, segundo várias suspeitas, se tornado um informante da KGB), escreveu uma tese de doutorado, depois impressa como livro, sobre como “o nazismo e o sionismo colaboraram” para produzir o Holocausto – uma alucinação tão repulsiva que ultrapassa de longe o antissemitismo padrão.

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Abbas, conhecido pelo nome de guerra de Abu Mazen, vive repetindo outras “teses”, como a de que os judeus foram exterminados pelos nazistas não por serem judeus, mas por causa de comportamentos ligados “a usura, a dinheiro”. Também insiste que os judeus asquenazis, ou europeus, são descendentes dos habitantes de uma região do Cáucaso que se converteram ao judaísmo – daí não terem DNA semita. Maluquice pura, mas também mal intencionada, com o propósito de negar a relação histórica com Israel.

Sem o carisma de seu antecessor, Yasser Arafat, usa os métodos clássicos – distribuição de favores e de oportunidades de enriquecimento – para se manter no poder. Também explora habilmente o fato de ser o “moderado” ao qual líderes mundiais recorrem, na falta de alternativas.

Por causa dessa imagem de abertura ao diálogo, Mahmoud Abbas chega a ter quase 80% de rejeição de uma população que quer mais agressividade contra Israel. Mesmo antes do horror dos ataques de 7 de outubro, uma parcela considerável de israelenses se inclinava contra qualquer tipo de acordo que evolua para um estado palestino independente. Muitos acham que a volta de Arafat em 1994 e a criação de uma entidade, se não independente, mas autônoma, com sua própria força policial, piorou a situação em vez de melhorar.

Muitos oposicionistas acusam Netanyahu de ter tentado manipulações maquiavélicas, deixando o Hamas crescer para se contrabalançar a Mahmoud Abbas, na clássica jogada de dividir os inimigos. Se for fato, deu incrivelmente errado. Com o propósito declarado de Israel de erradicar o Hamas, Abbas volta a ter seu cacife aumentado. Se uma bala assassina não aparecer, pode sobreviver a Netanyahu politicamente. E até ao colega octogenário Biden, exilado para os 39% de aprovação. Democracias têm dessas coisas, um problema que o veterano Abu Mazen não enfrenta. O perigo, para ele, está ao lado.

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