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Acabou: resistência em Mariupol vai chegando ao fim, Putin tem uma vitória

O foco que não entregava os pontos na cidade ucraniana não tem mais contato e os russos podem comemorar tomada do principal objetivo até agora

Por Vilma Gryzinski 5 Maio 2022, 07h39

“Perdemos o contato”, resumiu Vadim Boichenko, o prefeito de Mariupol que agora está no “exílio”.

Depois de permitir que mais 300 mulheres, crianças e idosos fugissem da rede de abrigos subterrâneos debaixo do complexo siderúrgico de Azovstal – muitos outros civis não tiveram essa chance -, os russos atacaram com tudo. 

Foram usadas até bombas termobáricas, uma arma terrível, que suga o oxigênio das imediações de onde explode e estoura literalmente o pulmões de quem estivera na área.

Sem contato, os “duzentos de Mariupol”, formados basicamente por remanescentes de uma unidade de fuzileiros navais e do regimento Azov, cuja ideologia ultranacionalista deu pretexto à Rússia de chamar todas as autoridades ucranianas de neonazistas, estavam próximos do destino inexorável traçado há várias semanas: a total obliteração.

O nível de destruição na cidade-mártir é de praticamente 100%, com sofrimento humano de proporções indescritíveis. Mariupol, a cidade de Maria, chegou a ser comparada, em escala muito menor, a Stalingrado, cuja resistência às forças da Alemanha nazista tornou-se legendária durante a II Guerra Mundial.

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Para a Rússia de Vladimir Putin, é uma vitória não apenas tática, mas simbólica. Combatentes do Azov, antes que fossem integrados às forças regulares, reverteram um avanço separatista na cidade em 2014, numa reviravolta que ficou entalada na garganta de Putin e companhia. 

Agora, os russos consolidam um corredor terrestre contínuo por toda a região fronteiriça com a Ucrânia, até o mar de Azov. Se tomarem Odessa,  no Mar Negro. como pretendem obviamente fazer, a Ucrânia ficará sem saída marítima, um golpe estratégico de grandes proporções

A vitória não significa que a vida esteja fácil para os invasores russos. Obrigados a bater em retirada da região de Kiev, eles agora estão concentrados nas regiões separatistas da parte leste da Ucrânia. Mesmo assim, continuam a apresentar problemas logísticos e táticos, assediados por forças ucranianas que são menores, mas mais flexíveis e móveis – além de devidamente abastecidas por suprimentos militares e, principalmente, as informações que chegam através dos americanos e dos britânicos. 

Bala na agulha, drones no céu e conhecimento do inimigo, tudo isso na mão de uma tropa movida pela defesa existencial da própria pátria, são elementos que compensam as desvantagens dos ucranianos.

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E até permitem iniciativas quase inacreditáveis. Por muito pouco, um ataque ucraniano não atingiu ninguém menos que o general Valeri Gerasimov, o chefe do Estado-Maior das forças russas. Com Putin e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, Gerasimov é um dos três responsáveis pelo planejamento da invasão ucraniana. Num movimento sem precedentes, por conta própria ou ordem do chefe supremo, ele foi para a frente de batalha, uma iniciativa que já custou a vida de nove generais russos. 

O último, Andrei Simonov, foi morto no ataque ucraniano na região de Kharkiv do qual Gerasimov escapou por pouco – ou ferido por estilhaços, segundo boatos de confirmação impossível.

Colocar comandantes estrelados na linha de combate não é um sinal de coragem – embora esta seja obviamente necessária -, mas de desespero com a inoperância das tropas sob sua direção. Segundo analistas militares, a Rússia está perdendo tantos generais – proporcionalmente, mais do que na II Guerra – porque eles viraram “guardas de trânsito”: vão para o front orientar as manobras que não são cumpridas sem sua presença.

Gerasimov é o autor da doutrina da guerra híbrida – um espectro que cobre tudo, de ataques cibernéticos a manifestações de protesto que derrubam regime. Suas obras ajudaram a criar a imagem de um exército modernizado e antenado com os novos tempos. Exatamente o oposto do que estamos vendo na Ucrânia, onde a grande superioridade russa em material bélico é desperdiçada por um exército que parece amarrado a conceitos do passado.

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Alguns analistas estão falando até numa recente “aversão a baixas”, uma novidade para um país onde, historicamente, incontáveis vidas foram desperdiçadas pela tática da maré humana, as  ondas de homens mandados para a morte certa porque a superioridade numérica garantiria a vitória final.

O fenômeno da aversão a perder tropas em quantidade excessiva – depois de um espantoso número de baixas na faixa das 15 mil vidas perdidas na primeira fase da guerra – estaria alimentando uma tática discutível: os russos avançam, tomam pequenas cidades nas regiões separatistas e depois partem para outros alvos, sem dar tempo a contra-ataques, mas também sem consolidar suas posições.

A obliteração da resistência em Mariupol é uma vitória que, apesar de previsível, obtém, justamente, a consolidação numa área importante.

Muitos observadores acreditam que as forças russas têm um prazo para mostrar resultados importantes até a próxima segunda-feira, diz 9, quando a maior comemoração nacional, a da vitória sobre a Alemanha nazista em 1945, é celebrada.

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Segundo o papa Francisco, numa entrevista reveladora de suas distorções ideológicas (“A Otan foi latir na porta da Rússia”, disse, entre outras tolices), o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán o informou que Putin pretende dar a guerra por encerrada na festa nacional.

Nem Francisco acredita muito nisso.

Existe também a versão oposta, a de que Putin vai ampliar as dimensões do conflito e declarar que a “operação militar especial” virou guerra mesmo, justificando a mobilização em massa. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, desmentiu categoricamente a versão.

“Acho que só vamos parar quando chegarmos na fronteira com a Polônia”, avisou o deputado Piotr Tolstói, vice-presidente da Duma, o congresso russo. 

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Ele é tetraneto do prodigioso escritor e se jactou que o tetravô matou muitos britânicos e franceses no século XIX – um mau exemplo, pois a Rússia czarista perdeu a Guerra da Crimeia, usada por Tolstói para o monumental Guerra e Paz.

Numa comparação entre nacionalidades e os motivos que levam ingleses, franceses e italianos a ser seguros de si, Tolstói escreveu assim quando chega na parte dos compatriotas: “Um russo tem segurança porque simplesmente não conhece nada e não quer conhecer nada, uma vez que não acredita na possibilidade de conhecer alguma coisa completamente”.

Já pensaram se Tolstói visse a Rússia hoje? Ou, indo mais além, se visse o tipo de declaração sobre a guerra que sai na capa da revista Time?

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