John Boyne é um best-seller. É dele O Menino do Pijama Listrado, livro que vendeu mais de 5 milhões de cópias pelo mundo e foi adaptado para o cinema em 2008, em um filme de mesmo nome. O livro seguinte, O Garoto no Convés, não repetiu esse desempenho comercial, mas Boyne garante que isso não lhe importa. Seu desafio, afirma, não é fazer uma obra que venda, mas uma que lhe pareça melhor que a anterior. Objetivo que ele sente ter alcançado em O Palácio de Inverno, livro recém-publicado no país pela Companhia das Letras, que ele lança nesta segunda-feira, em São Paulo, em sua primeira visita ao Brasil. “É meu livro de linguagem mais poética.”
Segundo Boyne, seu processo de criação não foi alterado pelo sucesso alcançado com O Menino do Pijama Listrado. “Acho que o trabalho de escrita não muda. Eu amo escrever, sou fascinado por isso, fico intrigado com as possibilidades que um romance oferece ao escritor. Para mim, é esse entusiasmo que vale.” A noite de autógrafos de O Palácio de Inverno acontece a partir das 19h30, na livraria Saraiva do shopping Higienópolis, em São Paulo.
Seu livro mais famoso, O Menino do Pijama Listrado, se passa na Alemanha. O novo, O Palácio de Inverno, tem lugar na Rússia. Você gosta de viajar quando escreve?
Eu gosto. Acho que não é comum escritores irlandeses fazerem isso, mas eu escrevi sete romances que contam com personagens de outros países. Eu gosto de observar outros lugares, de olhar para o resto do mundo, de fazer pesquisa e de visitar os países – o que acaba sendo necessário. Fico estimulado.
Por que não um livro ambientado em seu país, a Irlanda?
Não sei explicar. Eu já me perguntei do que tenho medo – especialmente após sete livros -, por que tenho medo de escrever sobre o meu país. E sei que quando fizer uma história ambientada na Irlanda ela terá de ser boa. Mas a verdade é que, quando as ideias vêm para mim, elas parecem estar espalhadas por lugares diversos. Era para O Menino do Pijama Listrado se passar na Polônia, originalmente, mas a história acabou se transferindo para a Alemanha. No caso de O Palácio de Inverno, eu estava interessado na vida familiar do czar. Eu queria escrever sobre o poder e a vida íntima das pessoas. Para desenvolver esse livro, eu fui a São Petersburgo e visitei uma série de lugares em que a história se passa. O Palácio de Inverno agora funciona como museu, eu ia lá todos os dias. Acho que isso ajudou muito, porque a última família real russa morou nesse castelo – a família assassinada após a Revolução de 1917. Você pode sentir seus fantasmas, suas memórias. Foi crucial. Acho que não conseguiria escrever esse romance se não passasse uns dias na cidade.
Sua ficção é marcada por fatos históricos, que são acompanhados pelos protagonistas de cada livro. Se você fosse escrever sobre a história que estamos vivendo hoje, que fatos escolheria contar?
Como irlandês, um tema recente que me fascina muito é a questão religiosa em meu país, com a oposição entre católicos e protestantes. Seria preciso fazer muita pesquisa, mas é algo que renderia uma boa história. De qualquer modo, acho que em muitos dos meus livros, mesmo que sejam ambientados no passado, trato de temas contemporâneos. O genocídio de judeus na Segunda Guerra, que é explorado em O Menino do Pijama Listrado, não é menos relevante hoje do que era na década de 1940. Quando me debruço sobre as relações de poder e manipulação, esse também é um tema contemporâneo, porque é atemporal.
Como as ideias surgem para você?
As ideias vêm o tempo todo. Eu faço muitas anotações para diversas histórias. Eu levo dois anos para escrever um livro e, nos seis meses finais, eu começo a ficar empolgado com uma história completamente diferente. A ideia fica ali na minha frente, dizendo “Me escreva”. E eu ouço aquela voz. Eu fico muito cansado no final do processo de escrita de um livro, mas meu entusiasmo se renova quando a ideia surge.
E se ela surgir no momento errado, digamos, um ano antes de você terminar o livro?
Bom, aí, eu a mando esperar, e foco no que estou fazendo. Eu não gosto de fazer duas coisas ao mesmo tempo.
Você disse que procura sempre se superar. Qual é, na sua opinião, a grande diferença entre o seu novo livro e os anteriores?
Meus livros anteriores eram narrados por perspectivas jovens. No livro O Palácio de Inverno, quis fazer algo diferente, que foi ter uma voz madura, de um homem já velho, relembrando seu passado. É um personagem pensativo e introspectivo. Aqui, eu também foco muito mais a linguagem – de uma maneira que nunca fiz. Eu tento fazer algo mais poético. Foi um desafio que eu me coloquei.
Como é a sua rotina de trabalho?
Eu trabalho todos os dias. Eu trabalhei esta manhã mesmo, por duas horas, no hotel. Sinto que é importante não parar, quando estou escrevendo um novo livro – estou com um projeto novo agora, mas prefiro não falar sobre ele. Se viajo, levo o livro no laptop. Eu gosto de trabalhar. Quando estou em casa, em Dublin, costumo consumir o dia todo trabalhando, cinco dias por semana. Nos fins de semana, eu costumo tirar algumas horas para estudar.