Caryl Phillips: “mais difícil é dar voz aos personagens”
<a Caryl Phillips, caribenho, professor na Universidade de Yale, é autor de três livros de não ficção e de sete romances. Premiado, veio à Flip para lançar A travessia do rio, pela editora Record. Nessa entrevista ele fala da sua paixão por poesia. 1-Ontem, na sua exposição, você falou que o autor tem de ter […]
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Caryl Phillips, caribenho, professor na Universidade de Yale, é autor de três livros de não ficção e de sete romances. Premiado, veio à Flip para lançar A travessia do rio, pela editora Record. Nessa entrevista ele fala da sua paixão por poesia.
1-Ontem, na sua exposição, você falou que o autor tem de ter certa arrogância para escrever, por ele estará escrevendo sobre suas obsessões. A cultura negra africana é uma obsessão para você?
Não, porque eu fui criado na Inglaterra. Mas a cultura africana está presente em muitos países. O Brasil é um deles. O que me absorve é o que me toma mais é preconceito com a raça, o que sofrem os negros com isso. Eu tomei consciência quando fui para Oxford que a ração está diretamente ligada à classe social. E isso é complicado, gera descriminação. Isso, sim, me acompanha.
2-Nota-se em seus livros o cuidado primoroso com a linguagem. Como disse ontem, sua intenção á dar dignidade à linguagem. Como foi a sua formação nesse sentido, quais os autores que mais o influenciaram?
Desde pequeno gostava de ler e minha formação acadêmica foi em literatura inglesa. Os livros me ajudaram a amar a linguagem. Eu sempre li muita poesia, TS Eliot, Auden e outros. A prosa usa muitas palavras para expressar uma cena. A poesia não, a poesia é concisa. Gosto disso.
3-Como é o seu trabalho em televisão, rádio e teatro?
Fui trabalhar em rádio e televisão por duas razões: uma porque eu precisava arrumar um trabalho que me sustentasse; e o outro motivo é porque eu queria ter uma atuação mais social, falar de política e nesse sentido a televisão é mais imediata. Um romance demora no mínimo três anos para ser publicado. Fiz alguns documentários para a BBC ,de Londres.
4-Você disse que em Oxford teve a noção da importância da classe social. A sua escolha de morar nos Estados Unidos tem relação com isso?
Nova York é uma cidade diferente, liberal, doida. Ela congrega qualquer tipo de pessoa. Na Inglaterra, a presença da Rainha, a questão de sangue, da sucessão da realeza cria uma situação de segregação. Nos EUA o presidente foi eleito, você pode apresentar a sua cara em público, seja você quem for. Me sinto melhor assim.
5-Nesse seu livro houve um trabalho profundo de pesquisa histórica?
Veio depois de eu ter escrito. Minha primeira preocupação é colocar minha energia em achar a voz dos personagens. Isso é o mais difícil porque as pessoas são mais complicadas do que os fatos. Depois que eu dou alma aos personagens é que vou atrás da pesquisa, buscar as características sociais da época que se passa o livro.
6-Quais os autores de língua portuguesa que vc mais sente afinidade?
Clarice Lispector. Gosto de sua forma de escrever, mais interiorizada. A solidão é um sentimento muito presente na obra dela. Aprecio muito.
Por Lilian Fontes