Saída de Ernesto Araújo é oportunidade
Bolsonaro poderia aproveitar o momento para corrigir rumos da diplomacia, mas há pouca esperança
O presidente Jair Bolsonaro tem uma oportunidade de isolar de vez a “ala ideológica” do governo, essa turma da extrema-direita, que tem feito tão mal ao país, e é liderada por ele mesmo.
Poderia simplesmente colocar um diplomata normal no cargo, que parasse de xingar a China, de exaltar Donald Trump e até de citar o fascismo. Uma pessoa discreta, apenas. Um diplomata.
Essa decisão, quem sabe, poderia criar um ambiente favorável à aquisição de vacinas de outros países do mundo, aumentando assim o ritmo da imunização, e trazendo alento para o povo brasileiro.
Acontece que o chanceler, assim como o ministro da Saúde, são nomes que o presidente da República não abre mão de escolher. E a ala mais moderada do governo tem dificuldade de convencê-lo a seguir uma linha mais pragmática, já que a crise política, econômica e sanitária está instalada.
Bolsonaro não aceita sugestões com facilidade. Nomes com espíritos moderados, como Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, Franklimberg de Freitas, da Funai, e Rêgo Barros, ex-porta voz da presidência, foram escorraçados da gestão. Todos tentaram baixar o tom do presidente.
A pressão política e o desejo da maioria no Itamaraty é por mudança efetiva na política externa. Não apenas a saída do Ernesto Araújo. Mas também a do Filipe Martins, por causa do abjeto gesto supremacista.
A situação continuará ruim, contudo, se for nomeado alguém que siga o que os filhos do Bolsonaro, Flávio e Eduardo, pensam, já que eles adoram dar pitacos errados na política externa. Um olavista, por exemplo. Ou que pensa como o próprio Bolsonaro pensa. Será mais uma mazela para o Brasil.