Queimadas: governo Lula ‘acordou’ para guerra nas redes, diz estudo
Políticos de esquerda ampliaram participação no total de postagens em 2024, mas a direita tem vencido em publicações com mais engajamento desde 2023
Estudo inédito sobre postagens de políticos nas redes sociais mostram que, em 2024, o governo Lula começou a reagir à guerrilha virtual empreendida pela oposição no tema queimadas. E um dos fatores de mudança no comportamento de políticos em geral nas redes foi o recente crescimento dos focos de incêndio em diversos biomas.
De janeiro a agosto de 2024, 501 autoridades falaram sobre o tema por meio de seus perfis, perfazendo 1.737 publicações – enquanto no mesmo período de 2023, foram 379 autoridades com 1.114 postagens. Em termos de volume de autoria, a esquerda e a centro-esquerda mostraram reação no debate em 2024: representaram 45,5% das publicações, contra 45% da direita. No ano passado, os desempenhos foram de, respectivamente, 38% e 48%.
O estudo foi feito pelo Autoridades Brasil, uma political tech do Ibpad (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados), que analisou as publicações sobre queimadas nos perfis de cerca de 4.600 autoridades brasileiras entre 1º de julho e 31 de agosto de 2023 e entre 1º de julho e 26 de agosto de 2024.
“De forma geral, os dados mostram que o governo ‘acordou’ neste ano e partiu para o ataque, percebeu que não pode deixar a oposição dominar a narrativa nesse tema”, afirma Letícia Medeiros, gerente do Autoridades Brasil. Em linha com essa visão, o recorte por partido indica que PT, PL e PSOL se mostraram mais ativos neste ano, conforme quadro abaixo.
As autoridades que mais publicaram também reforçam essa percepção, com o governo colocando seu “pelotão de elite” na rua neste ano. Enquanto em 2023, os campeões de postagens sobre foram o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB-MA); Flávio Dino, que na época era ministro da Justiça; e o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), neste ano, assumiram o pódio a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o próprio presidente Lula; e o ministro de Desenvolvimento Regional do Brasil, Waldez Góes.
Direita com maior impacto
Apesar da reação governista, a direita ainda domina a cena no aspecto do engajamento das postagens. Em 2023, a deputada federal Carol de Toni (PL-SC) e o senador Magno Malta (PL-ES) foram responsáveis pelas publicações com maior engajamento, enquanto neste ano a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que é presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, foi a autora dos três posts com maior engajamento no período analisado.
“O posicionamento do governo nas redes mudou bastante do ano passado para cá. Em 2023, buscou engajar mais as ações de enfrentamento às queimadas e as medidas coletivas de mitigação de eventos futuros. Já neste ano, uma das narrativas predominantes é a crítica ao agronegócio, acusado de ser o responsável pelas queimadas e pelo desmatamento, agravando a crise climática. Há uma defesa por mudanças urgentes para um modelo agrícola mais sustentável”, destaca Letícia Medeiros. “Além disso, há um discurso inflado pelo próprio presidente Lula de que os episódios recentes, principalmente em São Paulo, são incêndios intencionais, que exigem investigação”, observa.
Já a oposição manteve um tom crítico bastante consistente em ambos os anos, acusando o governo Lula e seus defensores de hipocrisia em relação à agenda ambiental que defendem. Nas suas falas, a deputada Carla Zambelli critica duramente o governo Lula pelo que chamou de inércia diante das queimadas, especialmente a ministra Marina Silva que, em sua visão, tenta transferir a culpa das queimadas para o governo Bolsonaro, em vez de apresentar soluções efetivas. “As mensagens da oposição sugerem que o governo Lula não está sendo devidamente responsabilizado pelas tragédias ambientais que ocorrem em seu mandato”, destaca a gerente do Autoridades Brasil.
Sobre o Autoridades Brasil
O Autoridades Brasil é uma political tech do grupo Ibpad que visa fornecer informações precisas e atualizadas sobre o comportamento de autoridades brasileiras nas redes sociais, bem como sobre o cenário político e regulatório no Brasil.
Para isso, acompanha, em tempo real, as publicações de cerca de 4.600 autoridades brasileiras nas redes sociais (Youtube, X, Instagram e Facebook). A base é composta por autoridades dos três poderes e das três esferas de governo e é atualizada semanalmente.
A classificação do espectro político é feita de acordo com o partido ao qual a autoridade é afiliada, seguindo a mesma classificação adotada pela Folha de S.Paulo. São coletados dados apenas de perfis abertos e toda a coleta de dados é feita em conformidade com as legislações vigentes, inclusive LGPD, e com os termos de uso das plataformas.