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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O jogo dos vários erros da política externa de Ernesto Araújo 

Chanceler sem experiência, profissionais despreparados, desgastes com outros países e confusões ideológicas são as falhas da gestão, segundo diplomatas

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jun 2020, 23h27 - Publicado em 22 jun 2020, 09h21

O Brasil está se isolando do mundo. Em parte isso é resultado de uma política externa que tem cometido erros sucessivos. Os diplomatas profissionais, aqueles que atuam no dia a dia das relações internacionais, têm tido cada vez mais dificuldade de manter boas negociações com países estratégicos para os interesses do país.

Na maior parte do tempo, a diplomacia técnica atua nas representações diplomáticas brasileiras como um Corpo de Bombeiros, tentando controlar as chamas acesas por declarações da família presidencial, sempre pronta a defender governos ditatoriais do passado, e de ministros de estado, vide o mal-estar causado por Abraham Weintraub com a China.

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Na condição de anonimato, alguns diplomatas brasileiros contaram à coluna quais os principais erros da política externa do governo Bolsonaro, liderada pelo chanceler Ernesto Araújo – e, porque, isso tem afetado as relações com países onde há importantes relações bilaterais.

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Embaixadores apontam que o primeiro erro da diplomacia bolsonarista foi exatamente a escolha do chanceler. A falta de conhecimento e de experiência de Ernesto Araújo é o principal problema, na visão dos diplomatas. Ele nunca chefiou embaixada ou missão junto a qualquer órgão multilateral.

Logo no início da gestão, ele levou para o Itamaraty profissionais sem conhecimento e experiência na área e delegou a eles formular uma proposta de reestruturação da Casa de Rio Branco. De acordo com embaixadores, pessoas que nunca haviam entrado no Itamaraty foram escaladas para compor uma equipe que mudou diversos pontos da estrutura do órgão.

O grupo escolhido para fazer a transição no Ministério das Relações Exteriores no início do governo de Jair Bolsonaro era formada, por exemplo, por integrantes do PSL e alguns diplomatas com baixa expressividade do Itamaraty. Tinha, inclusive, uma professora de inglês entre os membros. Agora estão sendo propostas mudanças na lei para trazer pessoas de fora da carreira para postos na estrutura do Ministério.

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Segundo embaixadores, a situação tem ficado cada vez pior. O governo norte-americano, por exemplo, escolhido pelo  Brasil como o país para uma relação preferencial, decepciona a todo momento. E o Brasil reage com um servilismo que ofende nossa tradição de política externa independente.

Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores emitiu comunicado afirmando que “recebeu positivamente” a reivindicação dos Estados Unidos da presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), recuando assim da intenção de um candidato brasileiro.

A decisão de Trump de reivindicar a presidência do banco ofende uma regra não escrita na história dos organismos multilaterais. Desde 1958 o BID é presidido por um latino-americano. Da mesma forma que o Banco Mundial é presidido por um americano e o FMI por um europeu.

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Cinco ex-presidentes de países da região – entre eles Fernando Henrique Cardoso e o chileno Ricardo Lagos – escreveram uma declaração conjunta protestando contra essa decisão dos Estados Unidos enquanto o Itamaraty de Ernesto Araújo bateu continência.

Em outro episódio, ocorrido em maio deste ano, o presidente Donald Trump decidiu proibir a entrada de pessoas que estiveram no Brasil nos 14 dias anteriores à chegada aos Estados Unidos.

O presidente norte-americano já citou o Brasil como um exemplo de má administração da pandemia do coronavírus, vista no exterior como um desastre. Agora, ainda há o constrangimento da maneira como o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub entrou nos EUA.

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Para os embaixadores, a postura do Brasil de defender cegamente os Estados Unidos é um erro estratégico. “A política americana impôs uma série de derrotas. Nós não tivemos nenhuma recompensa”, alerta um desses embaixadores.

Um diplomata cita como exemplo a relação entre Estados Unidos e China. Embora os norte-americanos façam discursos contrários à China, os dois países fecharam acordos comerciais benéficos para as nações. E quando decidem que a China comprará mais soja nos EUA, significa compras menores do Brasil.

Em paralelo, os problemas externos se acumulam. O país está sendo criticado pela imprensa do mundo inteiro – com o Bolsonaro e seu governo sendo visto com forte viés nazista. Charges dos mais proeminentes jornais do planeta já fizeram a comparação. Essa imagem negativa afeta o turismo e os investimentos, na avaliação dos diplomatas que atuam na ponta das negociações.

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Sobre a relação do Brasil com outros países, os embaixadores ouvidos pela coluna chamam a atenção para a postura de exclusão que o Brasil adotou em relação à Venezuela, o terceiro país com o qual possui a maior fronteira. “A gente se colocou numa posição definida e antagônica”, diz um embaixador.

Segundo ele, o certo seria se colocar numa posição de negociação. “As ações com a Venezuela são todas erradas”, enfatiza, mesmo que o regime chavista seja altamente criticável. Não é de bom tom na diplomacia se afastar completamente de um país com o qual se tem fronteira, mesmo condenando a política em vigor na nação vizinha. Pode-se condenar o regime e manter a porta aberta. Essa é a arte da diplomacia.

Em relação à Europa, o grande erro da gestão de Ernesto Araújo seria se contrapor a países com os quais o Brasil tem relações tradicionais , como a Alemanha e a França. “Mesmo que você queira colocar de lado toda a questão ideológica, existe a questão comercial. Eles compram da gente, investem na gente”, argumenta um embaixador.

Por fim, diplomatas apontam a postura do Brasil de se afastar dos latino-americanos como mais um erro do governo Bolsonaro. O Brasil possui o maior território e a maior população entre os países da América Latina. Na visão dos embaixadores, o país perdeu uma liderança importante que deveria ter na região, com o forte viés ideológico da atual gestão.

Um embaixador tem que entender o mundo. Isso é o básico, explicam eles. Dentro da sua estreiteza ideológica, Ernesto Araújo é capaz de defender o alinhamento cego com os Estados Unidos de Donald Trump, que pode perder as eleições, e de criticar, aberta ou veladamente, a China, nosso maior parceiro comercial. Quando o assunto é diplomacia, a ideologia nunca pode estar acima do pragmatismo.

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