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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O foco de Bolsonaro no meio da pandemia era ele mesmo e sua família

Video da reunião ministerial do dia 22 de abril é uma espécie de sumário trágico do governo e do presidente durante a crise mais grave da nossa geração

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 Maio 2020, 20h41 - Publicado em 22 Maio 2020, 19h54

É preciso olhar para os fatos revelados tendo em mente que toda a desastrosa reunião do dia 22 de abril (e desastrosa é um adjetivo até leve) aconteceu na escalada dos mortos por conta do novo coronavírus. O presidente havia fritado e derrubado um bom ministro da Saúde dias antes, e, naquele momento, estava preocupado somente que não “f* com a sua família”, como adiantou a Veja. 

O centro da preocupação do presidente era a Polícia Federal. E estava tão focado nesse ponto que foi capaz de ameaçar demitir, na presença de várias testemunhas, o então ministro da Justiça Sérgio Moro, que havia avalizado a bandeira anti-corrupção levantada por Bolsonaro – sem a merecer – durante a campanha.

Esse mais recente capítulo, a divulgação do vídeo da reunião ministerial apontado como prova pelo ex-ministro Moro, é uma espécie de sumário do governo Bolsonaro. A gestão Bolsonaro – se é que dá para chamar aquele encontro das principais lideranças do governo brasileiro de um ato verdadeiro de gerir e administrar – é aquilo mesmo que a reunião mostrou.

E mesmo que seja impossível ignorar as barbaridades ditas pelo presidente e seus ministros, como a fala de Bolsonaro contra opositores políticos do governo ou a defesa de armar a população para ela não ser “escravizada”, é preciso fazer um esforço para focar na questão mais urgente: está ou não está explicitada uma tentativa de interferência na Polícia Federal? O ex-ministro Moro saiu do governo fazendo denúncias verdadeiras ou falsas?

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Para além da notória falta de compostura de Bolsonaro e da falta de compreensão da dimensão do cargo que ocupa, o que se vê no vídeo é um presidente da República sem pudor de mostrar que não vê diferença entre um órgão de governo e um de estado. “Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”, afirmou o presidente sem corar o rosto. É o que mostram as imagens. O presidente não “tem a PF” e o órgão “não deve” informações a ele.

As falas de Bolsonaro demonstram sim uma tentativa de interferência na PF para proteger o seu clã político, ou seja seus filhos e aliados. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, diz, olhando para Sérgio Moro.

Nenhum amigo do presidente é protegido por agentes escalados pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). É isso que aponta a defesa de Bolsonaro, a tese de que o político falava de sua segurança pessoal e não da PF. É preciso lembrar mais uma vez que o próprio presidente já havia dito, de forma pública, em agosto do ano passado, que se não conseguisse trocar o superintendente da PF no Rio, trocaria o diretor-geral do órgão.

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Juristas ouvidos pela coluna afirmam que dois crimes podem estar relacionados com as afirmações de Bolsonaro na reunião ministerial, somado aos atos que se seguiram de demissão do ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo e a troca na superintendência do Rio de Janeiro. São eles: advocacia administrativa (patrocinar interesse privado diante da administração pública) e prevaricação (faltar ao cumprimento do dever por interesse ou má-fé). Os dois foram citados como eventuais crimes cometidos pelo presidente no pedido de abertura do procurador-geral da República, Augusto Aras.

Em termos de gravidade, os erros da ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, não se igualam ao que ocorre agora – nem se comparam à crise política-institucional gerada nos últimos 17 meses pelo presidente Jair Bolsonaro. Nunca um ministro da presidente petista defendeu a prisão dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta corte da República, guardiã da Constituição e da democracia.

As pedaladas fiscais foram graves. Na economia, levaram o país de volta ao rombo das contas públicas com reflexos que se arrastam até hoje. A crise econômica acirrou a polarização sem precedentes, por causa da revolta de parcela da população com o estelionato eleitoral de 2014. Dilma havia dito, na sua campanha comandada por João Santana, que não havia crise, mas a recessão, a inflação e o desemprego explodiram no começo de 2015.

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Nada, contudo, chega aos pés do que o país tem visto no governo Bolsonaro, especialmente em relação ao desrespeito às instituições democráticas. Esse momento da divulgação do vídeo ajuda a ver sem retoques que governo é este que o país tem em um momento tão doloroso da vida nacional, quando mais de 20 mil pessoas tombam em uma pandemia – pandemia esta que o presidente insiste em desdenhar. Ou ignorar, como fez durante toda a reunião ministerial.

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