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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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“O Brasil não está quebrado”, rebate Alexandre Kalil

Prefeito de Belo Horizonte corrige presidente, explica o fechamento da cidade, o apoio a Pacheco no Senado, e nega ser candidato a governador

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 jan 2021, 13h00 - Publicado em 7 jan 2021, 11h19

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), rebateu, em entrevista à coluna, a afirmação de Jair Bolsonaro de que o país está quebrado. Na terça-feira, 5, o presidente da República disse, em conversa com apoiadores, que o “Brasil está quebrado” e que, por isso, não consegue “fazer nada”.

Para Kalil, a situação é diferente. “A gente sabe o que é um país quebrado e o Brasil não está quebrado. Foi uma expressão, uma linguagem de quando você vai tomar uma cerveja com o amigo e fala ‘paga aí, que eu estou quebrado’. Você está sem dinheiro para pagar aquela cerveja naquela hora. Então eu não acho que o Brasil está quebrado, nem o presidente acha, nem o Paulo Guedes acha, eu tenho certeza disso e o Brasil definitivamente não está quebrado”, declarou o prefeito de Belo Horizonte à Veja.

Ele, que decretou nesta quarta-feira, 6, novo fechamento da capital mineira, acredita ser uma irresponsabilidade fazer, neste momento da pandemia, festa, casamento, e até a volta às aulas. “Pensar em escola hoje, pensar em festa, pensar em casamento, pensar em praia, pensar em viagem de férias, é uma irresponsabilidade total”.

Na entrevista à coluna, Kalil explicou ainda porque apoiou o senador Rodrigo Pacheco (DEM) para a presidência do Senado. Ele diz que há muito tempo Minas Gerais não tem um cargo importante, e que a última vez que esteve na presidência da Casa foi com Magalhães Pinto, ainda na ditadura militar (1964-1985). Por isso, não ficaria contra um candidato mineiro à presidência do Senado. 

Sobre o fato de Pacheco ter o apoio da ala governista do Senado, e apresentar, caso eleito, subserviência à gestão Bolsonaro, Kalil afirma que o Senado deve ser independente, mas precisa ter compromisso com o país. 

“Acho até que não se deve ter nem o afastamento total e a briga e o abraço, ou beijo natural. Acho que o parlamento, principalmente o Senado Federal, tem a obrigação com o país. Então também o cara não deve ficar colocando pauta bomba. O país tem que parar com isso, o país tem que ter a liturgia do cargo, o presidente do Senado é o segundo cargo mais importante e ele não tem também, se eleito, seja quem for, o menor motivo para agachar para ninguém”, afirma.

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Com uma expressão franca explica por que ainda não pensa em ser candidato a governador do estado. “Qualquer prefeito de Belo Horizonte é candidato natural do governo de Minas. Agora se você botar a bunda na cadeira pensando em outra, você vai fazer duas merdas (risos). É simples assim. Tem que focar no trabalho, tem muita coisa para fazer aqui ainda”, diz. Kalil também detalha como está a questão da vacina e das seringas no estado, assim como as chuvas de janeiro. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Veja – O presidente disse que o país está quebrado. O senhor poderia comentar?

Alexandre Kalil – Não, o país não está quebrado, tecnicamente o país não está quebrado. A gente sabe o que é um país quebrado e o Brasil não está quebrado. O Brasil tem dificuldades e uma situação econômica muito difícil, né, que vai sair. Mas escutei hoje um economista que foi do Banco Central e ele falou: “não, tecnicamente falar que o brasil está quebrado é um absurdo, o Brasil não está quebrado.” Foi uma expressão, uma linguagem de quando você vai tomar uma cerveja com o amigo e fala ‘paga aí, que eu estou quebrado’ (risos). Você está sem dinheiro para pagar aquela cerveja naquela hora. Então eu não acho que o Brasil está quebrado, nem o presidente acha, nem o Paulo Guedes acha, eu tenho certeza disso e o Brasil definitivamente não está quebrado.

Veja – O senhor disse que foi eleito para proteger a população. O que fará para proteger contra a Covid-19?

Alexandre Kalil – Estou fazendo a mesma coisa do que eu fiz. No Estado está subindo, mas Belo Horizonte é completamente fora do estado em metodologia. Foi criado um comitê, nós temos a nossa metodologia que é o R0, que é o número de ocupação de leitos e de UTI. Nós investimos pesado né, nessa criançada que está fora da aula, ela ganha cesta básica todo mês, houve investimento. E o investimento começou há 3 anos, 4 anos. Porque aqui, enquanto o constitucional é R$ 2 bilhões e meio, nós investimos nesse ano o orçamento de R$ 4 bilhões e meio por causa da pandemia. Então acho que essa é a razão, uma das razões do próprio diabético que quer sempre o remédio, do próprio cardiopata que quer sempre o remédio. Isso tudo ajuda os números a caírem.

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Veja – Belo Horizonte voltou a ter um aumento muito grande de casos e a ocupação dos leitos está alta. Que providências o senhor vai tomar?

Alexandre Kalil – É porque nós estamos começando a receber o interior. Está estável, temos um índice aí de 80%. Mas eu acho que o de hoje é muito importante, nós não demos feriado e Belo Horizonte tem uma questão que ela não é importadora de turista, ela é exportadora de turista e esvaziou. Então é só uma expectativa dos números de ontem, que a gente segue os números diariamente. Mas se precisar de fechar de novo, infelizmente nós vamos fechar.

Veja – Lockdown?

Alexandre Kalil – É, o lockdown é aquele. Nós não temos autonomia e autoridade para dar o lockdown total. Nós temos autonomia para fechar o comércio inteiro e deixar só o essencial aberto. Isso foi avisado há uma semana atrás. Há mais de uma semana atrás, antes do Natal.

Veja – O senhor fez contrato de compra de vacina com o Butantan. Pretende vacinar diretamente se o Programa Nacional de Imunização demorar?

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Alexandre Kalil – Fiz, fiz um contato com o Butantan. Almocei lá com o governador de São Paulo e fizemos um contato de pelo menos o pessoal de saúde eu quero imunizar porque eu já estou com ampola, com as seringas, ampolas não, seringas todas compradas e…

Veja – Já comprou estoques de seringas?

Alexandre Kalil – Já, comprei há muito tempo. Comprei tem uns 3 meses já.

Veja – Para a cidade inteira?

Alexandre Kalil – A cidade não porque não tem, a cidade tem três milhões de habitantes, mas a nossa prioridade é o pessoal médico, o pessoal idoso, o pessoal de frente, de escola. Enfim, nós estamos vendo aí porque se vier um Programa Nacional de Imunização, vai vir a regra e nós vamos ter que cumprir.

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Veja – Como foi o encontro com lideranças do PSD e de Minas para o apoio a Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado?

Alexandre Kalil – Teve. Na verdade, na verdade, foi o presidente, líder do PSD do Senado que marcou esse encontro aqui porque ele achava que Minas Gerais tinha participado do processo. Eu não sou tão importante assim não, sabe?! (risos). Eu não sou. Então é… eu nunca iria embarreirar, como se diz aqui em Minas, um presidente do Senado mineiro, né?! Eu posso ter diferenças com o Rodrigo Pacheco, mas nós sempre tivemos uma relação muito cordial e obviamente que, se ele for presidente do Senado, ele não será candidato a presidente ou a governador. E eu também não sou candidato ao governo também não, eu tenho que esperar também. Então não foi assim um trato não, foi uma conversa que eu disse a todos os nossos senadores e nossas lideranças que eu adoraria que Minas Gerais… O último presidente do Senado que teve foi na década de 70, o Magalhães Pinto. Então quer dizer, está na hora de Minas Gerais também ter algum cargo importante. Que vai ser bom para o estado e para a cidade.

Veja – Mas isso ajuda o senhor a ser candidato a governador de Minas.

Alexandre Kalil – Não eu, sabe, Matheus?! Qualquer prefeito de Belo Horizonte é candidato natural ao governo de Minas. Agora se você botar a bunda na cadeira pensando em outra, você vai fazer duas merdas (risos). É simples assim. Tem que focar no trabalho, tem muita coisa para fazer aqui ainda.

Veja – Mas o senhor é o candidato natural ao cargo de governador, e seu nome já começa a ser cogitado para Presidência.

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Alexandre Kalil – Não. Não porque eu não sei. Tá? Juro por Deus. Se eu seria candidato a alguma coisa? Se eu for candidato, você sabe a que você será? É essa a pergunta? Se eu for candidato, eu não sei a qual… Depende muito, né. Depende muito de tudo que vai acontecer.

Veja – Rodrigo Pacheco é apoiado pela ala governista. Como o senhor vê a situação do parlamento seguir a vontade do Executivo?

Alexandre Kalil – Não, eu não concordo com isso. Acho até que não se deve ter nem o afastamento total e a briga e o abraço, o beijo natural. Eu acho que o parlamento, principalmente o Senado federal, tem a obrigação com o país. Então também o cara vai ficar colocando pauta bomba para arrebentar, “ah eu não gosto do Kalil, vou por pauta bomba lá na Câmara para acabar com a vida dele”, aí é desonestidade.

Veja – Isso não é política?

Alexandre Kalil – Poxa vida, o que que é isso! Isso não é política, pô. “Ah eu sou a favor do presidente da República, eu vou colocar as pautas mais absurdas do mundo porque ele quer”, isso também não é política. Eu acho que falta isso ao país. O país tem que parar com isso, o país tem que ter a liturgia do cargo, o presidente do Senado é o segundo cargo mais importante e ele não tem, se eleito, seja quem for, o menor motivo para agachar para ninguém. Seja el da Câmara, ou seja do Senado, então é muito mais profundo. “Ah porque o Arthur Lira vai fazer o que o Bolsonaro quer”, não vai. Na hora que ele sentar na cadeira ele vai ser pressionado. O Rodrigo Pacheco não vai, porque ele tem um compromisso com o Brasil, uai. Então eu acho que a guerra, chega pô, chega de guerra.  Chega de guerra, vamos… “Eu sou presidente do Senado e acho que é isso, isso e isso, sou presidente da Câmara e é isso, isso e isso. Eu sou presidente da República e eu sou o prefeito e acho isso, isso, isso e isso”. Uai, isso é guerra, eu penso diferente, ele pensa diferente e depois põe em pauta, depois não põe em pauta, é coisa de interesse do Brasil que se põe. E agora está tudo parado. Quando não é pandemia é eleição para prefeito, quando acaba a eleição para prefeito é eleição para a Câmara e nós vivemos de eleição em eleição e está todo mundo parado aí para tirar 14 milhões de desempregados.

Veja – Essa movimentação no Senado é um aceno ao PSD?

Alexandre Kalil – É, sem dúvida nenhuma foi um ato muito respeitoso do PSD. Porque nós fomos o partido, que para você ter uma ideia em Minas Gerais o PSD teve 4 milhões de votos e o segundo lugar teve 1 milhão. Então não estou falando do terceiro, do quarto, do quinto, estou falando do primeiro e do segundo. A diferença foi essa.  O PSD tem, dos 3 Senadores, tem 2. Um eu convidei e o outro eu pedi licença para trabalhar, pra elegê-lo, eu saí da prefeitura por 15 dias para viajar com ele pelo estado. Então foi muito mais uma questão litúrgica do cargo do que da minha importância, eu não voto, porra (risos). Eu quando fui presidente do Atlético duas vezes, eu corria atrás de quem votava, porra (risos). Quem não vota, não interessa.  

Veja – Mas o senhor tem sido bem votado.

Alexandre Kalil – Com números não se briga. (risos)

Veja – A chuva de agora de BH pode levar a desabrigados. O senhor já acionou algum mecanismo de proteção dos moradores em área de risco?

Alexandre Kalil – Nós temos os mecanismos. Dia 25 nós estamos fazendo, abrindo uma grande licitação que é a obra que o povo queria há 40 anos aqui, 30 anos que é o Vilarinho. Nós temos dinheiro, vamos investir em cotas, vamos investir como estamos investindo né, mas a chuva… É engraçado, né, na Noruega matou 10, a que teve agora em São Paulo matou 6, em Santa Catarina matou 9.

Se a chuva mata na Noruega. Isso aí tem que jogar em queimada, nessa avacalhação que está, está degelando, diz que a Groenlândia está um caos e por aí vai.

Não, nós temos aqui um esquema que desde que eu entrei morreram 3 pessoas no meu primeiro ano e nunca mais morreu. Morreu um garoto que estava abrigado dentro de um estacionamento de bicicleta, tá certo? Tem um filme dele lá dentro sentadinho esperando a chuva passar, ele montou na bicicleta e foi enfrentar uma correnteza, que é lamentável, é  triste, é trágico, mas foi uma coisa completamente aleatória. Nem foi um, foi um incidente.

Por que enfrentar uma rua íngreme, numa cachoeira de bicicleta, um menino de 13 anos? Então foi o que nós tivemos de morte. Nós montamos um esquema aqui de fechamento com a guarda, com a polícia militar, com a BHTrans e quando se ameaça chuva os principais pontos de alagamento são isolados há 4 anos aqui em Belo Horizonte.

Veja – Como pretende fazer o volta às aulas?

Alexandre Kalil – Nós estamos tentando aquele negócio, até nós estamos alugando um equipamento para garotos até 12 anos na escola fundamental e infantil. Então hoje eu tive uma reunião com a secretária, coincidentemente, que seria me apresentado até o fim dessa semana pra gente ter um, é um tablet exclusivo, sabe? De aula de reforço, curioso que é jogo que ajuda nas aulas de português, que ajuda na matemática e vão me apresentar isso aqui que a gente aluga pelo período. Mas nós estamos vendo aí, a escola abre a escola fecha, a Inglaterra fechou pela quarta vez.

Eu escutei uma entrevista de uma brasileira que mora em Londres, ela falou que recebeu em um dia um recado para mandar o menino dela para a aula, quando o menino estava pronto ela recebeu o mesmo recado pelo celular para não mandar o menino dela para a aula.

Então em 24 horas mudou. Então pensar em escola hoje, pensar em festa, pensar em casamento, pensar em praia, pensar em viagem de férias, é uma irresponsabilidade total.

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