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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Não vacinar crianças é imoral! (Por Rodolfo Capler)

Teólogo relembra a máxima do pastor luterano Dietrich Bonhoeffer e denuncia a imoralidade do atual governo

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 15 jan 2022, 17h44 - Publicado em 15 jan 2022, 17h43

O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer – morto por ordem direta de Hitler, em 1945 -, afirmou em “Resistência e submissão: Cartas e anotações escritas na prisão” (obra que escreveu enquanto esteve preso num campo de concentração nazista), que “o teste de moralidade de uma sociedade é o modo como ela trata suas crianças”. Bonhoeffer escreveu tais palavras em referência à responsabilidade da sociedade alemã de sua época em relação ao sucesso e à sobrevivência das gerações futuras. As palavras do teólogo ainda são profundas e reveladoras: sociedades imorais abandonam, agridem e preterem suas crianças. 

À luz desse entendimento, o Brasil é um país que caminha cada vez mais numa espiral descendente de imoralidade, pois, por aqui, violentar e negligenciar infantes se tornou política de Estado. Crianças pedindo esmolas nos sinais evidenciam a imoralidade praticada não só pela classe política brasileira, como por toda a sociedade. Os dados são cruéis ao demonstrar como padecem as nossas crianças. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Continua – 2018, há 35 milhões de crianças no Brasil (pessoas de até 12 anos de idade). Desse montante, 18 milhões passam fome, segundo dados recentes da Fundação Abrinc. O número de meninos e meninas brasileiros que se encontram em situação de rua chega a 123 mil. Fora da escola já são mais 1,4 milhões, conforme registro da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

Os dados que comprovam a violação dos direitos humanos de crianças são extensos e estão aí para nos chamar a atenção para o que tem acontecido debaixo dos nossos olhos. Não bastasse isso, temos presenciado o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, criticar a liberação de vacinas para crianças de 9 a 11 anos. Não levando em conta os dados oficiais que mostram a ocorrência de 301 óbitos de crianças por covid-19, o principal mandatário da nação demonstra ojeriza à vacinação de crianças. Na última quinta-feira, Bolsonaro chamou as pessoas responsáveis e interessadas pela vacinação de crianças de “taradas por vacina”. Também não deixou de proferir fake news ao afirmar que desconhecia casos de mortes de crianças em decorrência da Covid-19, quando os dados emitidos pelo seu próprio governo apontam 301 óbitos de infantes. Bolsonaro não parou por aí, e no início desta semana fez críticas à Agência Nacional de Vigilância Nacional (Anvisa), levantando dúvidas sobre as “intenções” da agência ao recomendar a vacinação de crianças. Atitude semelhante foi demonstrada pelo líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia. Após emitir onze tuítes contra a vacinação infantil, Malafaia foi levado a apagá-los por determinação do próprio Twitter. O pastor, que é abertamente militante do atual governo, compara a vacinação de crianças a um infaticídio. 

Na esteira desses irresponsáveis posicionamentos, uma miríade de líderes religiosos e políticos que se dizem cristãos-evangélicos também defendem a não vacinação de crianças. Isso é algo assustador e aterrador, pois se choca frontalmente contra o maior princípio ético do Cristianismo, a saber, a manutenção da vida. Se o teólogo morto por Hitler estivesse vivo nos dias de hoje, não teria receio algum de chamar Bolsonaro, Malafaia e todos os outros opositores da vacinação de crianças, de imorais. A imoralidade que cometem é a negligência dos vulneráveis – que não podem defender-se a si mesmos -, em nome de um agenda ideológica radicalizada. Bolsonaro e sua trupe, que já vinham sendo reprovados moralmente desde o começo do governo, também tropeçaram neste grande teste.  Que Deus nos livre de tanta imoralidade!

* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

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