O histórico debate da Rede Globo nesta eleição de 2022 mostrou as várias faces que todos os candidatos à presidência podem ter, e que a política pode ser cômica — mesmo em um dos momentos mais trágicos da história da nação.
Enquanto uma parte do país vive a expectativa de que o próximo 2 de outubro acabe com um governo que flertou com o nazifascismo — uma proprietária de rede de motéis, a candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, quase mandou um padre — tá bom, bem mandrake – para o inferno. Nesse momento, ela revelou a “arma secreta” de Jair Bolsonaro, antecipada pela coluna.
Padre Kelmon, do PTB, provocou tumulto e até Lula caiu no jogo. Foi a única hora em que o petista perdeu a calma.
É inacreditável que, em 2022, um “sacerdote” que surgiu candidato do dia para a noite pergunte ao povo brasileiro “quem foi Che Guevara” e aceite fazer o vergonhoso papel de elogiar a abjeta gestão de Bolsonaro na pandemia. Ou seja, o homem que imitou uma pessoa com falta de ar no auge da Covid-19.
Olhando pragmaticamente, por cima do que é triste e cômico ao mesmo tempo, o que importou foi a série interminável de direitos de respostas que a Globo permitiu, e na qual Lula e Bolsonaro — o embate que todos esperavam — puderam finalmente se encarar frente a frente.
E nele teve de tudo.
De Bolsonaro dizendo que “Lula defendia que se roubasse o celular para tomar uma cervejinha” até o petista encarando de volta, respondendo que o presidente era o chefe da “quadrilha da rachadinha, da quadrilha do MEC e da compra da vacina covaxin”.
Ou Bolsonaro afirmando que Lula fez do país uma “cleptocracia”, enquanto o petista respondia dizendo que retiraria, no primeiro dia de mandato, os sigilos de 100 anos impostos pelo líder da extrema direita. O que mesmo que atual presidente tenta esconder com esses sigilos?
Lula dizia para Bolsonaro: “Você tem uma filha de 10 anos, pare de mentir ao público”. Bolsonaro afirmava para Lula: “Você só está solto porque um amiguinho no Supremo disse que você tinha que ser julgado em Brasília”.
Mas o embate leva a outra questão: quem ganhou em meio a esse mar de confusão?
Em um debate de baixo nível como este, ninguém. Deu empate. E isso só pode ser bom para Lula, que lidera todas as pesquisas sérias com 50% dos votos válidos ou mais.
O problema é que todos os candidatos pareciam — com exceção de Simone Tebet — querer que a eleição fosse mesmo para o segundo turno — e, com isso, miravam Lula, mas com jogo sujo. Simone, não. Não se envolveu no mar de lama e apontou suas principais críticas a Jair Bolsonaro, o homem que pode ser o primeiro presidente após a redemocratização a não ser reeleito.
E aí, é importante falar sobre quem fez o papel mais ridículo do encontro, o linha auxiliar do presidente da República: Ciro Gomes. Nada o fez parar de atacar Lula. Por pura vaidade e jogando seu nome no lixo, falou bolsonarês melhor que o Bolsonaro.
Tirou sim uma mentira de Lula no debate — de que não foi Dilma, mas Temer e Eduardo Cunha, que quebraram o Brasil, como se nunca tivesse havido a “nova matriz econômica”.
Mas, de que adianta, se falou o maior absurdo do programa, acusando a sociedade brasileira de fazer um conchavo para eleger Lula, que envolve de Geddel a Caetano.
Foi quando Ciro Gomes conseguiu cometer mais pecados que o padre Padre Kelmon. Mentir sobre Caetano em debate presidencial é uma vergonha que a cultura e os intelectuais brasileiros nunca esquecerão.
Ao fim…
Lula, que havia sido acuado no debate da Band com perguntas sobre corrupção, mostrou-se pronto a enfrentar qualquer tema e encarar qualquer adversário sobre isso. Podia ter falado do combate à fome, que olhou com competência quando estava no poder, mas encarou Soraya Thronicke sobre o temido tema, citando as medidas tomadas pelos governos PT para dar transparência à máquina pública.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro revelou-se logo Jair Bolsonaro, aquele candidato despreparado, que nunca deveria ter chegado ao posto de presidente, sendo dissimulado e agressivo. Chegou a insinuar que o direito de resposta da Globo era marmelada, como menino malandro que nunca amadureceu.
Só provou, mais uma vez, que é uma vergonha que nunca poderia ter ocorrido no Brasil.
PS – Que fique registrado, Felipe D’Ávila: o país ainda não quer o seu liberalismo — não sei se um dia vai querer após sua críticas às cotas — e sua participação acabou sendo totalmente irrelevante. Mas Lula mandou um recado importante para você, que também fez o ridículo papel de ajudar Bolsonaro: “Se tiver uma estatal que não serve para nada”, ele, o petista, promete vendê-la.