De Arthur Virgílio para Bolsonaro: “pare de fazer mal ao seu povo”
Em carta, ex-prefeito de Manaus elogia decisão do governo de recuar em relação ao garimpo na Amazônia, mas critica duramente o presidente
O ex-senador e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto escreveu uma carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro, que será divulgada nesta terça-feira, 28, relacionada ao recuo do governo na concessão de autorizações para garimpo em áreas do Alto Rio Negro, na Amazônia. Para o político que tem um conhecimento único da floresta, a decisão de Bolsonaro trouxe de volta a racionalidade sobre o tema.
“Sua decisão de recuar da concessão de autorizações para garimpo em áreas do Alto Rio Negro traz de volta a racionalidade sobre o tema. Ouvir os órgãos competentes, como a Agência Nacional de Mineração (ANM), Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), nos dá um mínimo de tranquilidade para continuar discutindo, à luz da ciência, das questões ambientais e das necessidades reais de nossa população”, afirma o político amazonense.
É que o governo suspendeu, nesta segunda, 27, sete atos que autorizavam mineração de ouro em São Gabriel da Cachoeira (AM), uma das regiões mais preservadas da Amazônia. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União.
Mesmo assim, Arthur Virgílio não deixa de criticar duramente o presidente e sua política ambiental.
O político amazonense lembra que mandatário “está está cercado de militares, especialistas em estratégias, logo, não há desculpas para não perceber que a destruição da floresta e dos formidáveis rios levará, inevitavelmente, a uma intervenção militar estrangeira, obviamente apoiada pela ONU e comandada pelos Estados Unidos”. “Não deixe chegar a esse ponto”, completa.
O ex-prefeito de Manaus por oito anos ainda ainda pede, de forma claro, que Bolsonaro “pare de errar tanto e fazer tanto mal ao seu povo”. Leia a íntegra da carta abaixo:
Carta Aberta ao Presidente Jair Messias Bolsonaro
Caro Presidente,
Sua decisão de recuar da concessão de autorizações para garimpo em áreas do Alto Rio Negro traz de volta a racionalidade sobre o tema. Ouvir os órgãos competentes, como a Agência Nacional de Mineração (ANM), Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), nos dá um mínimo de tranquilidade para continuar discutindo, à luz da ciência, das questões ambientais e das necessidades reais de nossa população.
Mas, Senhor Presidente, não se pode ficar apenas na suspensão das autorizações. O Brasil exige passos mais largos e definitivos: extinguir o garimpo, atividade poluidora, sonegadora de impostos, recheada de crimes contra o meio ambiente e as pessoas, incluindo o ataque aos indígenas e a violência instaurada entre os próprios garimpeiros.
É necessário envolver técnicos e cientistas no ICMBio, devolver a capacidade fiscalizadora do Ibama, promover mudança de 180 graus na Funai, que hoje defende os garimpeiros e não as etnias indígenas, mudar radicalmente o rumo do governo, em relação ao desmatamento ilegal e às queimadas.
É necessário também, Presidente, resgatar a verdade e enfrentar honestamente o aquecimento global. Hoje, seu governo joga contra a floresta em pé. Penso que não compreende que a Amazônia é a região mais estratégica do Brasil, uma das mais estratégicas do mundo e a última fronteira possível para construirmos a prosperidade dos brasileiros e dos parceiros que o destino venha a nos apontar.
Estou convicto de que é necessário fazer todos os esforços para se obter recursos para pesquisas, de modo a colocarmos, urgentemente, a biodiversidade em ponto de virar biotecnologia. Alterar completamente o aspecto nocivo do Ministério do Meio Ambiente. Lá não é lugar para os Ricardos Salles _et caterva_, todos cúmplices dos desmatadores ilegais.
O senhor, Presidente, e todos os que o seguem, precisam entender a simbiose existente entre a floresta e os rios amazônicos: se um sucumbir, o outro seguirá junto. Precisam entender que a água doce, potável e de fácil extração, escasseia no mundo e essa água está na Amazônia, tanto nas nossas bacias hidrográficas quanto nos nossos aquíferos, e pode chegar a virar, brevemente, valioso produto de exportação.
Vossa Excelência está cercado de militares, especialistas em estratégias, logo, não há desculpas para não perceber que a destruição da floresta e dos formidáveis rios levará, inevitavelmente, a uma intervenção militar estrangeira, obviamente apoiada pela ONU e comandada pelos Estados Unidos. Não deixe chegar a esse ponto, Presidente Jair Messias Bolsonaro. O Brasil não o elegeu para que seus erros separem a Amazônia do território brasileiro, empobrecendo e mediocrizando nossa pátria.
Pare de errar tanto e fazer tanto mal ao seu povo. Defenda seu nome, sua reputação, sua respeitabilidade. Pense em deixar um legado para os brasileiros. Pense que sua opção é ser respeitado pela história ou se marcar como, talvez, o mais negativo presidente deste país. Aprenda a respeitar quem o critica com base e ciência. Vire as costas para os bajuladores e aproveitadores. Vire sua face de frente para os brasileiros.
Respeitosamente,
Arthur Virgílio Neto