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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Bruno e Dom, mortos pelo abandono do Estado

Teólogo Rodolfo Capler: jornalista e indigenista tiveram suas vidas ceifadas como resultado da política ambiental desastrosa que está em curso no Brasil

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jun 2022, 10h02 - Publicado em 20 jun 2022, 07h43

Um dos grandes problemas a serem sanados no Brasil encontra-se na região amazônica. Refiro-me à ineficácia do Estado em defender as florestas e os povos originários. Desprovidas de amparo estatal, as terras indígenas são constantemente invadidas por criminosos que praticam atividades extrativas ilegais. Caças, pescas predatórias, garimpos, remoção de madeira, desmatamentos, grilagem e até produção de drogas circunscreve muitas das ações ilícitas conduzidas na Amazônia.

Em decorrência da ausência do Estado, ativistas se levantam em defesa das matas e dos índios. A história recente do país é marcada por personagens que ocuparam essa lacuna e, como consequência, sofreram violências atrozes e muitas vezes a morte. Em 1988, Chico Mendes, líder sindical dos seringueiros, foi brutalmente assassinado a tiros de escopeta por Darci Alves em Xapuri no Acre. Dezessete anos depois, foi a vez da missionária estadunidense Dorothy Mae Stang pagar com a própria vida. Irmã Dorothy, como era conhecida, acabou executada por dois homens, quando se dirigia a uma reunião de agricultores em Anapu, no Pará. Outros casos, de menores repercussões na imprensa nacional e internacional ocorreram como resultado das ilegalidades cometidas no norte do país. As mortes de Maxciel Pereira dos Santos, colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do cacique Emyra Wajãpi, ambas em 2019, engrossam o histórico de injustiças contra os guardiões das florestas.

No mais recente caso de violência na região, foram assassinados o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, no Vale do Javari, na divisa do estado do Amazonas com o Peru. Segundo a investigação da polícia, ambos teriam sido vitimados pelos confessores do crime, os irmãos Amarildo da Costa Oliveira (o “Pelado”) e Osney da Costa Oliveira (o “dos Santos). A polícia ja descartando a possibilidade de haver mandantes para os homicídios, o que é absurdo, porém o que se sabe é que Bruno e Dom foram eliminados por representarem uma ameaça à pesca clandestina na localidade.

As trágicas perdas de Bruno e de Dom denunciam ao Brasil e ao mundo que a Amazônia é uma terra sem lei. De saída, suas mortes também evidenciam a ineficácia do Estado brasileiro que se encontra quase falido. Desde parte do governo Lula, que segundo Dom Erwin Kräutler – bispo do Xingu – “destruiu a Amazônia e deu um golpe nos povos indígenas”, passando por Michel Temer, que se mancomunou com a bancada ruralista em troca de votos, a política ambiental brasileira tem sido deveras retroativa.

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Como se não bastasse esses tristes exemplos, com o atual governo a coisa piorou. Bolsonaro faz vistas grossas para as atividades extralegais conduzidas na região amazônica. De forma sarcástica, o principal mandatário na nação, ao comentar o desaparecimento de Bruno e de Dom no início do mês, teceu comentários desrespeitosos sobre os dois, afirmando entre outras coisas, que o repórter inglês “era muito mal visto” na região. O chefe do Executivo demonstrou dessa forma, não somente o seu descaso com os servidores públicos que resguardam o meio ambiente, como também a essência malévola de sua gestão ambiental. Não é atoa que desde 2018, ano em que Bolsonaro se elegeu presidente da República, a “boiada tem passado” amplamente na Amazônia com o aumento dos desmatamentos, abrandamento das fiscalizações, elevação do número de assassinatos de ativistas, inaplicabilidade das multas e deslegitimação dos órgãos ambientais como o Ibama e ICMBio.

Dom Phillips e Bruno Pereira tiveram suas vidas ceifadas como resultado da política ambiental desastrosa que está em curso no Brasil. Diante do horror de suas mortes devemos nos mover – para além do luto -, em busca de justiça. Isso começa com o repúdio do desmantelamento da fiscalização ambiental, encampado pelo atual governo, e com a pressão pública para que os assassinos e possíveis mandatários do crime, sejam presos, julgados e condenados. Que haja justiça para Bruno e para Dom! Basta de sangue inocente irrigando o solo de nossa trágica história.

* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

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