O presidente Lula resolveu dar uma segunda rasteira pública em Fernando Haddad. Já são duas sextas-feiras seguidas que isso acontece. Na semana passada, desautorizou o ministro da Fazenda sobre o déficit zero da meta, sua principal promessa. Agora, afirmou que “dinheiro bom é dinheiro transformado em obra”.
Ou seja, mais uma vez Lula sinaliza priorizar a gastança que a austeridade tão pregada por Haddad.
A nova declaração piora a crise no governo porque foi dita em uma reunião ministerial sem o pudor de se dirigir diretamente ao ministro da Fazenda enquanto fazia o raciocínio.
“Para quem está na Fazenda, dinheiro bom é dinheiro que está no Tesouro, mas para quem está na Presidência dinheiro bom é dinheiro transformado em obras. É dinheiro transformado em estrada, em escola, em escola de primeiro, segundo, terceiro grau, saúde”, disse Lula.
Ao falar em “estrada” novamente, o presidente se revela mais preocupado com as eleições municipais do ano que vem do que com o que é melhor para o país – até porque, a última vez que o PT governou o país com essa visão gastadeira, a economia entrou em uma gigantesca recessão.
Mas fato é que Haddad diminuiu de tamanho nas últimas duas sextas-feiras – não adianta o ministro da Casa Civil, Rui Costa, vir a público tentar explicar depois o que foi dito pelo presidente.
Pior do que mudar a meta, é a maneira atrapalhada como tudo está sendo feito para que haja essa mudança. Além de desautorizar Fernando Haddad, que pareceu surpreendido com a primeira fala do presidente há uma semana, Lula está isolando o ministro da Fazenda dentro do próprio governo.
A forma correta – e o presidente em seu terceiro mandato sabe bem disso – seria o próprio ministro anunciar a mudança na meta e explicar as razões para a população, através de uma longa declaração à imprensa.
Se o governo não conseguiu aumentar a receita como havia sonhado, basta ser transparente sobre a situação e continuar tentando buscar zerar o déficit e começar, quem sabe, uma busca pelo superávit depois. Do jeito que está sendo feito, parece coisa de governo desorganizado que não sabe os efeitos de um remendo mal feito na economia.