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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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A era de Jorge Jesus vista por um torcedor

No dia em que todos os brasileiros foram Flamengo, na profecia de Nelson Rodrigues, Jesus e a torcida foram um só. Lá, foi possível entender o sentimento

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jul 2020, 19h41 - Publicado em 19 jul 2020, 15h50

A explosão da torcida aos 47 minutos do segundo tempo, no Estádio Monumental U, no Peru, foi o auge de Jorge Jesus no Flamengo. Foi o auge de Jorge Jesus. Um som ensurdecedor. Inesquecível. Torcedores se amontoando. Conhecidos e desconhecidos. Choros. Risos. Gritos. Abraços. Grupos caídos. Eu estava no chão. Havia sido derrubado pelos irmãos gêmeos que conheci na arena. Meus sete companheiros de viagem estavam caindo ou se segurando para não cair. Mas de alguma forma estávamos todos ligados, balançando, num louco abraço coletivo. Um deles tentou me levantar. O corpo inteiro doía. Era uma multidão estafada, que tinha dado a volta ao mundo para estar em Lima, depois de contornar Santiago do Chile.

Para Nelson Rodrigues, “cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia”. Mas os rubro-negros que urravam na arquibancada de cimento peruana, após o segundo gol, são as testemunhas oculares de um milagre. Não o de Jesus, mas o da torcida. Os minutos anteriores haviam sido extasiantes. Não há outra palavra. O primeiro gol, aos 43 minutos, havia gerado dose de combustão ainda maior em uma torcida que cantava, mesmo com o placar contrário. Aos 35 minutos da segunda etapa, quando o River ainda vencia, houve uma dança com as mãos no cântico sobre “dezembro de 81” eletrizante, energizante. Era a força da Nação. Era a invocação do passado. Era falar ao coração rubro-negro.

O gol arrebatou. Incendiada, a torcida rubro-negra é inigualável, admitiu o treinador. Ali, naquele momento eternizado, era fácil se pegar procurando o Mister. “O que ele vai fazer agora?” O treinador, que sofreu apenas quatro derrotas mas ganhou “cincun” títulos, incluindo o da Libertadores, marcou para sempre os rubro-negros. Estive em todos os títulos no estádio, menos o da pandemia, quando o isolamento o deixou vazio. Viajei o mundo atrás de Jesus. Como um verdadeiro discípulo, o segui nas Américas e no Oriente. Para o jogo do Qatar, mais de 20 horas. Para o jogo de Lima, 28 horas passando pelo hemisfério Norte. Teve ainda Brasília e Rio de Janeiro entre as finais.

Mas foi ali, na final da Libertadores, vista em 186 países do mundo, que o Mister e o Flamengo foram um. A saída do treinador deixa um vazio porque o vivido até aqui foi quase perfeito. Faltou um adeus, Jesus. Uma explicação para a Nação. Os torcedores queriam ouvi-lo. Não ler uma nota burocrática, apenas. Contudo, a gratidão é imensa. Nenhum treinador foi tão carismático. E tão vitorioso em sequência. Fica o nosso agradecimento, Mister, e um pedido: não leve nossos craques.

Ao final do jogo da Libertadores queríamos morar para sempre naquele fim de semana. Num tempo de tanta tristeza, é preciso apenas cristalizar e pôr na parede aquela tamanha alegria. Agora, fica um sentimento de “volta, Mister”. Só queríamos ganhar com você mais um campeonato. Benfica? O que será o Benfica a não ser a rendição ao passado? O futuro, você sabe, era o novo mundo, onde os amores são mais intensos como aquele que nos fez cair de alegria num grito libertador e eterno: Mengo!

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