A diferença entre o depoimento técnico e o político na CPI
Enquanto representante da Pfizer apresenta dados técnicos, Wajngarten escolhe a política e mentiras para favorecer governo
A CPI da Covid no Senado tem mostrado a grande diferença entre o discurso técnico e o político, deixando evidente como aliados tentam blindar o governo a todo custo, enquanto outra ala procura salvar a população do vírus que já fez milhares de vítimas no país.
Nesta semana, dois depoimentos chamaram atenção. De um lado, o representante da Pfizer, Carlos Murillo, se concentrou em detalhes técnicos e apresentou dados e documentos que comprovam as tentativas da farmacêutica de vender vacinas ao Brasil. De outro, o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten escolheu agir de forma política, distorceu seu próprio discurso e mentiu para os senadores.
As informações prestadas por Carlos Murillo são valiosas. Segundo ele, a primeira proposta apresentada pela Pfizer aconteceu no dia 14 de agosto de 2020. Não houve resposta do governo. No mesmo mês, outras duas ofertas foram feitas, também sem sucesso. A Pfizer ainda tentou novas propostas em novembro e em fevereiro deste ano, mas o governo só fechou contrato com a farmacêutica em março.
Os documentos apresentados por Carlos Murillo serão de importância gigantesca na construção do relatório final da CPI. Eles comprovam que a imunização contra o coronavírus poderia ter começado antes e salvado vidas.
Do outro lado, Fabio Wajngarten mentiu e mostrou claramente que tinha uma agenda política e que não está preocupado com as investigações sobre quem é responsável pela tragédia humanitária que acontece no Brasil.
As declarações para proteger o governo irritaram os senadores que compõem a CPI e os parlamentares chegaram a ameaçar de prisão o ex-secretário. Embora seja obrigado a falar a verdade para a comissão, Wajngarten distorceu fatos e entrou em contradição com entrevista que ele mesmo concedeu à revista VEJA.
Uma lição está ficando clara nessa CPI: vale tudo para defender o governo. No entanto, os documentos que comprovam que houve atraso e descaso com a compra das vacinas são incontestáveis. Mesmo que os aliados de Bolsonaro tentem dizer o contrário, o país já percebeu que a situação atual é resultado de erros que poderiam ter sido evitados lá atrás.