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Marcos Emílio Gomes

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A coluna trata de desigualdade, com destaque para casos em que as prioridades na defesa dos mais ricos e mais fortes acabam abrigadas na legislação, na prática dos tribunais e nas tradições culturais
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Notícias falsas já não impressionam nem influenciam tanto

Mentiras, desinformação e campanhas de difamação perdem a força, mas as denúncias e os controles podem ser ainda mais aperfeiçoados

Por Marcos Emílio Gomes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 nov 2020, 11h54 - Publicado em 3 nov 2020, 10h33

A eleição americana é talvez o mais calibrado termômetro sobre o tema, mas as indicações vêm de todos os lados.

Numa pesquisa de alcance mundial, descobriu-se que 85% das pessoas acreditam que os cientistas têm mais credibilidade que os políticos.

Quase 90% dos americanos afirmam saber que as mídias sociais são responsáveis pela disseminação de notícias falsas.

O total de reclamações sobre precisão nas informações encaminhadas à Indepedent Press Standards Organisation, no Reino Unido, decaiu, depois de um pico de 10.405 registros em 2016.

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Ainda que as mudanças nas plataformas dificultem comparações e a transparência delas não esteja no nível esperado, o volume de engajamentos e compartilhamentos de notícias falsas no Twitter e no Facebook aparentam ter redução consistente nos últimos três anos.

Na última década, foram criados mais de uma centena de sites de checagem de informações. Os Estados Unidos têm pelo menos uma dezena com boa reputação. O Brasil, também. Há ainda associações internacionais de checagem de dados sobre política, saúde e notícias em geral.

A partir do início da pandemia do coronavírus, aumentou em todo o mundo a audiência de sites noticiosos, cresceu a venda de jornais e revistas e houve incremento também a audiência dos programas noticiosos.

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Campanhas lideradas por entidades como as associações de editores, grupos políticos, órgãos do Judiciário, organismos internacionais e agremiações de jornalistas repercutem em todo o mundo.

Conclusão: as notícias falsas já não são tão abundantes e, melhor ainda, perdem, dia a dia, a utilidade como ferramenta política e como arma de grupos com interesses escusos.

Quem participa de muitos grupos de WhatsApp, principalmente do tipo que ferve com discussões políticas, já percebeu que a quantidade de postagens mal-intencionadas não só diminuiu, mas também que aparecem, agora, quando publicadas, acompanhadas de comentários depreciativos feitos até mesmo pelos usuários que antes davam plantão como fofoqueiros do pedaço.

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Mais que isso, no Twitter e em outras redes, as mensagens de cunho enganoso já não têm credibilidade nem mesmo entre os mais entusiasmados mexeriqueiros.

Para usar como exemplo a família Bolsonaro, que se esmera na republicação de futricas produzidas por todo tipo de usuário, vale anotar que, ainda que os números de seguidores venham se mantendo estável, a quantidade de comentários negativos aumentou em porcentagem bem maior.

As mudanças nos ministério da Saúde e da Justiça, a pandemia e até os confrontos entre as chamadas ala militar e ideológica vêm convertendo admiradores do presidente e de seus filhos em críticos, conforme cada atitude dos integrantes da família.

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Quando divulgou a lista de sites, canais e aplicativos beneficiados pelo governo federal com mais de 2 milhões de anúncios em publicações inadequadas, em junho, a CPI das Fake News registrou que 653 mil dessas veiculações tinham sido feitas em endereços que disseminavam notícias falsas.

Àquela altura, 90% dos endereços apresentados no relatório tinham sido desativados. Agora, restam em atividade apenas os mais radicais e mesmo esses têm audiência decrescente.

O canal do YouTube Folha do Brasil, para citar um caso concreto, tem conseguido volume significativo de reprodução de vídeos apenas ocasionalmente, quase sempre quando apela para títulos do tipo caça-clique. A audiência do Diário do Brasil desabou entre junho e agosto. A do Jornal da Cidade Online continua caindo.

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Quem quiser conferir pode acessar este endereço, que mostra gráficos de audiência. Uma das explicações é que esse tipo de veículo vive, em parte, de navegação cruzada, um levando audiência para o outro. Quando o público de um encolhe, todos encolhem juntos.

Antes de comemorar, porém, é preciso aprofundar as pesquisas sobre o fenômeno, pedir às organizações de checagem que abram os dados relativos à disseminação das tais fake news e principalmente manter a vigilância sobre as redes sociais, nas quais, mesmo em relativa desvantagem, sobrevivem empresas e usuários que ainda são pagos ou agem voluntariamente na criação de boatos.

Comorbidades sociais como fé desmedida, ignorância e preconceito afetam uma parte do rebanho consumidor de notícias falsas que não é imunizável pela vacina da boa informação. O nível de reprodução dessa parcela de brasileiros tem de ser acompanhado permanentemente.

Por outro lado, vale também pesquisar o quanto está crescendo a viralização de notícias verdadeiras, por meio das mesmas ferramentas.

Bolsonaro gosta de citar João 8:32 e, pelo menos nisso, é profético: conhecer a verdade é o caminho da libertação. (Para comentar este texto use por favor este link.)

 

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