Tereza Cristina ajuda Lula a faturar na crise dos fertilizantes
Ministra da Agricultura critica política seguida nos governos Bolsonaro e Temer
Em um pronunciamento planejado para tranquilizar a população e produtores rurais sobre a disponibilidade de fertilizantes no país, que terão seu suprimento afetado pela guerra na Ucrânia, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, criticou o fechamento de fábricas do produto no Brasil nos últimos anos, inclusive pelo governo Jair Bolsonaro (PL), e acabou dando munição para a campanha petista faturar em cima da crise.
“Por que a gente tomou a decisão lá no passado, equivocada, de não produzir fertilizantes?”, questionou Tereza Cristina. “No passado a decisão era de importar porque era mais barato, e deve ser mesmo até hoje, mas o Brasil precisa tratar esse assunto como segurança nacional e segurança alimentar”, disse a ministra numa espécie de mea culpa.
Nesta sexta-feira, 4, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a deixa da ministra e partiu para o ataque. “Foram os governos de Temer e Bolsonaro que erraram, não o Brasil, fechando fábricas de fertilizantes na Bahia, em Sergipe e no Paraná”, postou o petista no Twitter. “Também abandonaram a construção de novas fábricas de fertilizantes em Minas e no Mato Grosso do Sul. O governo atual aprofunda a dependência de derivados de petróleo importados, como fertilizantes e combustíveis, ao mesmo tempo que destrói empregos desmonta o setor no Brasil”, completou.
No cerne do problema está o fato de que o Brasil importa 70% do insumo. O maior exportador mundial de fertilizantes é justamente a Rússia, que após atacar a Ucrânia sofre pesadas sanções econômicas e teve bancos bloqueados por sistemas financeiros internacionais, que operam pagamentos de um país para outro. É de onde o Brasil importa a maior parte de seus insumos — outro fornecedor importante é a Bielorrússia, que também tem é alvo de sanções econômicas.
Como VEJA mostrou nesta semana, a estratégia de deixar o setor de fertilizantes é seguida pela Petrobrás desde 2017. O Brasil tem apenas quatro fábricas de fertilizante nitrogenado. Todas pertenciam à Petrobras, mas três delas, localizadas em Camaçari-BA, Laranjeiras-SE e Três Lagoas-MS, foram vendidas nos últimos anos. A última foi negociada com o grupo russo Acron no dia 4 de fevereiro, mas teve o processo de privatização impedido pelo bloqueio econômico global contra a Rússia. A fábrica que restou, em Araucária-PR, foi fechada em 2020 na gestão Bolsonaro.