Suspensão, fura-filas e pedido de prisão: as confusões da vacinação no AM
Campanha de imunização no estado é marcada por trapalhadas e suspeitas de irregularidades, que estão sendo investigadas pelo Ministério Público
Investigações para apurar fraudes e fura-filas nas campanhas de vacinação contra a Covid-19 foram movidas em pelo menos onze estados do país. Mas foi só no Amazonas que as ações judiciais chegaram a medidas drásticas, como um pedido de prisão preventiva contra o prefeito e a secretária municipal de Saúde de Manaus, e decisões judiciais pela suspensão temporária da imunização e de entrega de vacinas.
Desde a semana passada, o Ministério Público do Amazonas investiga contratações suspeitas feitas às vésperas da vacinação pela prefeitura de Manaus. Segundo a apuração da Promotoria, esses medidas teriam favorecido pessoas que não faziam parte do grupo prioritário e que mesmo assim foram vacinadas devido às suas “ligações políticas e econômicas” com o atual prefeito, David Almeida (Avante). O pedido de prisão preventiva foi protocolado na última segunda-feira, mas veio à tona nesta quarta-feira, dia 27, quando o juiz plantonista do Tribunal de Justiça estadual, José dos Santos, declinou da competência para julgar o caso.
A Justiça Federal também decidiu intervir na vacinação diante da profusão de denúncias de desvios de cargas e fura-filas, que continuam sendo apuradas. Na terça-feira, dia 26, o órgão determinou a suspensão da entrega das doses Oxford/Astrazeneca em Manaus até que o município implementasse medidas de transparência para a vacinação — a entrega depois foi retomada. Antes, a campanha de imunização já havia sido paralisada na última quinta-feira, dia 21.
Para piorar a situação, as autoridades ainda cometeram uma série de trapalhadas nos últimos dias. Em 18 de janeiro, uma carga de 25.440 doses de vacina foi enviada por avião a Tabatinga, município que faz fronteira com a Colômbia e o Peru. Verificou-se depois que a quantidade estava acima da prevista, de 21.783, e a cidade precisou devolver o excedente, de 3.657.
Integrantes do governo ainda se queixaram de uma nota técnica emitida pelo Ministério da Saúde que definia a priorização de indígenas aldeados ante os profissionais de saúde. Como não há imunizantes suficientes para todo o grupo prioritário e o Amazonas têm uma população maior de indígenas do que de trabalhadores da saúde, muitos médicos e enfermeiros que estão atuando na linha de frente da Covid-19 acabaram ficando sem vacina.
A situação se agravou quando se descobriu que secretários e funcionários da prefeitura e médicos recém-formados estavam sendo imunizados antes dos profissionais que estavam trabalhando nos hospitais colapsados da capital e do interior.
Além disso, o governo amazonense ainda perdeu para a Covid-19 a principal coordenadora do programa de vacinas do estado. Na última sexta, 22, morreu por complicações da doença a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde, Rosemary Pinto. A ela é atribuída a coordenação das ações de combate à pandemia desde o início de 2020.
As falhas na vacinação não são o único problema do Amazonas. Isolado do restante do país por sua malha rodoviária escassa, o estado enfrenta uma crise sem precendentes de desabastecimento de oxigênio e falta de leitos de UTI.
A média de mortes por Covid-19 no estado teve um salto exponencial em janeiro, chegando a mais de 100 por dia — no momento mais crítico de 2020, o patamar era de 60 por dia. É do estado também que surgiu a nova variante do coronavírus, que, segundo estudos preliminares, é mais transmissível do que a variante tradicional e já foi detectada em outros estados, como São Paulo.
Para tentar minimizar a crise, o governo do Amazonas continua transferindo pacientes para outros estados. Nesta quinta-feira, 17 foram encaminhados a hospitais de Curitiba. Ao todo, foram registrados 319 deslocamentos. Em parceria com o Ministério da Saúde, o estado também corre para instalar usinas de oxigênio para abastecer o sistema de saúde da região.