Polêmica sobre aborto cresce nas redes em meio a ofensiva conservadora
Levantamentos mostram que a maioria dos posts é contra a flexibilização da lei e que discussão é fortemente influenciada pelo bolsonarismo e pelas igrejas

O início do julgamento sobre a descriminalização do aborto no Supremo Tribunal Federal (STF) vem provocando um intenso debate sobre o tema nas redes sociais e também se tornou um dos pontos centrais da ofensiva conservadora contra a Corte, como mostrou reportagem de capa de VEJA desta semana.
A maioria dos posts nas redes sociais foram contra a interrupção voluntária da gravidez. Uma pesquisa feita pela plataforma de monitoramento Buzzmonitor mostra que entre terça e quarta-feira, 27, foram feitas 3.728 publicações sobre o tema apenas no X (antigo Twitter). Segundo o levantamento, 58,9% dos posts eram de cunho negativo, enquanto 16,1% eram positivos e 25,7% neutros. O conteúdo com maior número de compartilhamentos (740) foi divulgado pelo senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, anunciando a obstrução da pauta no Congresso pela oposição em protesto contra uma suposta invasão da competência do Legislativo.
Internautas das regiões Sudeste e Centro Oeste foram os que mais falaram sobre o assunto na rede social, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Goiânia.
O julgamento no STF teve início no dia 22 de setembro, com o voto da ministra Rosa Weber pela descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. A análise foi suspensa após pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso. Com isso, o processo será transferido para o plenário físico, mas ainda não há data prevista para retomada da pauta.
Outro levantamento, feito com exclusividade para VEJA pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV mostra que, entre julho e setembro, o tópico que mais mobilizou a internet foi o aborto, com 6.063 postagens no Facebook e Instagram. O pico do debate foi em 22 de setembro, data do início do julgamento no STF, com 1.348 posts.
A pesquisa mostra que no Facebook as mensagens tiveram teor mais político e vieram principalmente de páginas de apoio a Bolsonaro ou de correligionários, como os deputados Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis e Filipe Barros. Já no Instagram, houve um marcado tom religioso, com posts feitos por lideranças, como o pastor André Valadão, e páginas evangélicas e católicas.
Conteúdos também foram impulsionados por parlamentares e partidos, como o Republicanos, ligado à Igreja Universal, que pagou anúncio contra o julgamento no STF: “A partir de hoje, matar pode não ser crime no Brasil”, diz a peça.