O que explica a resiliência de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais
Tamanho do bolsonarismo e polarização com Lula, que atrai votos antipetistas e 'lavajatistas', mantêm patamar do presidente, apesar das notícias ruins

Diante dos aumentos sucessivos nos preços dos combustíveis e da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, o mundo político esperava que o presidente Jair Bolsonaro (PL) sofresse algum baque nas últimas pesquisas de intenção de voto, mas ele permaneceu no mesmo patamar, com variações positivas dentro da margem de erro nos levantamentos Datafolha (de 27% para 28%) e BTG/FSB (de 32% para 33%) divulgados nos últimos dias, em cenários para o primeiro turno. Também dentro da margem de erro, a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre Bolsonaro teve oscilações negativas no segundo turno.
As dúvidas sobre a origem da resiliência de Bolsonaro, que mantém por volta de um terço do eleitorado fidelizado a ele nas pesquisas, encontram resposta tanto no tamanho do bolsonarismo no país quanto na polarização com Lula, que leva eleitores antipetistas e “lavajatistas” ao presidente por gravidade, ante a fragilidade das candidaturas de centro — Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Luciano Bivar (União Brasil) não chegam a dois dígitos.
“As pesquisas mostram que tanto Bolsonaro quanto Lula talvez tenham encontrado seu teto no primeiro turno. Os dois não se movimentam concretamente desde a saída de Moro”, diz o cientista político Marco Antônio Carvalho, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “O piso e o teto estão muito próximos. Não temos um eleitorado que vá votar em Bolsonaro e seja vacilante, o eleitorado bolsonarista é praticamente a totalidade dos votos dele. São convictos. Uma parte poderia migrar para Moro, mas não me parece que outra candidatura possa receber esse grupo”, avalia.
Embora rápida, a passagem de Milton Ribeiro pela carceragem da Polícia Federal em São Paulo deixou avarias no discurso de Bolsonaro de que em seu governo não há corrupção. A investigação sobre os pastores lobistas que mercadejavam recursos do Ministério da Educação com prefeituras em troca de propinas, neste sentido, ainda pode causar danos eleitorais. Além do mais, as suspeitas de que o presidente interferiu na investigação, passando informações privilegiadas ao ex-ministro, abrem outra frente de desgaste a Bolsonaro, desta vez no Supremo Tribunal Federal (STF), com quem vive às turras.
“Se houver algum tipo de conjuntura mais forte, o caso MEC, por exemplo, um grupo mais moralista que vota em Bolsonaro porque acredita no discurso anticorrupção pode buscar outra alternativa, ou não votar em ninguém”, observa o analista da FGV.
Segundo Carvalho, a provável escolha do general Walter Braga Netto para ser vice de Jair Bolsonaro, apesar dos esforços do Centrão para ter um dos seus na vaga, também pode se desdobrar em dificuldades eleitorais e limitar um eventual avanço do presidente ao centro. Isso porque o militar não agrega votos e agrava uma imagem radicalizada.
“Essa decisão talvez reforce ainda mais o teto que Bolsonaro alcançou, repetindo 2018, quando escolheu Mourão, e esquecendo que já tem uma imagem radicalizada. Para alguém que precisa avançar ao centro, ter feito uma aliança com o general torna o objetivo mais difícil, até porque a rejeição dele não estanca, é muito estável”, diz.