Marqueteiro de Lula prevê eleições cada vez mais agressivas
Sidônio Palmeira avalia as mudanças no marketing político frente a condutas ofensivas e baseadas em mentiras, que deixam adversários atônitos
Na semana em que lançou um livro sobre a vitória de Lula em 2022 – O Marketing nas Eleições Mais Importantes da História do País –, o marqueteiro Sidônio Palmeira falou a VEJA sobre o que considera uma postura adequada ao enfrentamento de candidatos radicais e estridentes que têm surgido no pleito municipal deste ano, principalmente à direita.
Palmeira considera que o maior desafio do momento é descaracterizar as fake news de forma cativante, já que a mentira fere a lógica e cria fantasias, enquanto a verdade não passa de uma constatação da realidade. “Você tem que ser muito mais criativo para fazer que a verdade seja interessante”, afirma. Ele considera que obteve sucesso nessa empreitada nas eleições que considera as mais importantes da história, pois não havia “condições normais de temperatura e pressão”. Outro trunfo foi entender a importância das redes sociais.
A ascensão nas pesquisas de candidatos conservadores que não são apoiados por Bolsonaro pode indicar que a direita está mudando o bastão? O bolsonarismo está enfraquecido? Não! O que você tem é um racha nesse grupo. Então, por exemplo, você tem o Pablo Marçal agora, em São Paulo. Ele não defende uma cartilha só de Bolsonaro, ele tem contradições com o Bolsonaro. Queira ou não queira, ele tem uma capacidade de ódio maior do que a de Bolsonaro, como o Javier Milei, na Argentina, também tem. Eu acho que o Marçal tem mais a ver com o Milei do que com o Bolsonaro.
Por que esses candidatos mais agressivos têm feito sucesso? O ódio é um negócio que engaja. A fake news trabalha o ódio, trabalha com a ideia de bater de frente com o sistema, mesmo ela sendo o lado pior do sistema. Essa ideia cresceu no mundo: ganhou na Ucrânia, na Índia, na Letônia, na Itália, nos Estados Unidos, no Brasil, na Argentina, quase ganhou na França e por aí vai. O campo democrático tem tido dificuldades para conter a extrema direita. Tem alguns erros.
O que está errado? Antes da eleição de 2022, se falava em terceira via e não deu certo. Não acredito que seja o momento da terceira via. Eu acho que ainda tem que unir forças para derrotar a extrema direita. E do ponto de vista da comunicação tem que entender que vale rua e rede. A rua nunca deixou de ser importante, mas a rede é também muito importante hoje. A Tabata (Amaral, candidata do PSB em São Paulo) acerta quando pega e puxa o Marçal para o embate. Como ela está menor nas pesquisas, a perspectiva é crescer. Ela mesma vai e fala quais são os crimes, quem é ele, em vez de ficar com “é melhor não se meter”. Esqueça isso, você tem que ir para o embate! Claro, tem que direcionar para as propostas da campanha, mas não dá para entrar de coraçãozinho. Se ele está colocando a mão no nariz para te atacar, é porque ele quer um corte para jogar na rede social. Ele tem que ser combatido no debate político; tem que ser combatido com marketing nas redes sociais e, se estiver infringindo leis no campo eleitoral, porque essas são as regras das eleições democráticas, tem que ser punido por isso.
Essa divisão do bolsonarismo pode atrapalhar os planos de Bolsonaro em 2026? O que nós sabemos é que a extrema direita, que nós chamamos no Brasil de bolsonarismo, permanece. E permanece com força. Pode ficar dividida, mas tem força. E nas eleições há três pontos que eu acho importantes. No marketing, ir para cima com força: enfrentar, debater, esclarecer; do ponto de vista da legislação, tem que ser punido; e nas redes sociais, tem que ter regulação. Isso para a gente manter a democracia, que é ser eleito quem foi votado pela maioria.
No marketing político, você prevê alguma mudança para 2026? Tem que enfrentar mesmo, ir para o embate, isso já é uma mudança. Antigamente, o que eles falavam era que o candidato não deveria bater. Quiçá, talvez tenha que fazer isso. Como a gente tem que enfrentar as fake news, que ainda vão perdurar durante esses processos eleitorais. Se nada mudar, as eleições vão ser cada vez mais agressivas.