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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Kit gay, aborto, PCC e comunismo: o jogo pesado de Bolsonaro contra Lula

Apoiado pelos filhos, presidente investe em questões ideológicas para mostrar o ex-presidente como uma ameaça aos conservadores e complacente com o crime

Por Da Redação Atualizado em 22 jun 2022, 07h10 - Publicado em 22 jun 2022, 07h00

O presidente Jair Bolsonaro (PL) parece já ter escolhido as suas armas para o embate contra o seu principal adversário na busca pela reeleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): críticas de cunho ideológico, pautas de costumes e tentativas de ligar o adversário ao crime, tudo com o objetivo de mobilizar a sua base e apontar o rival como a maior ameaça ao eleitor conservador brasileiro.

Nos últimos dias, o presidente, ajudado por seus filhos e ministros, tem priorizado a discussão de temas como aborto, comunismo, relação com criminosos e até a volta de um clássico da eleição presidencial de 2018: o “kit gay”, como ficou conhecido, pela ótica do bolsonarismo, o conjunto de iniciativas dos governos petistas para promover a diversidade e a educação sexual nas escolas.

A última foi na terça-feira, 21, quando ele listou o que considera avanços no uso do dinheiro do BNDES em sua gestão e aproveitou para usar um velho discurso contra os anos petistas: que o PT usou o dinheiro do banco para financiar metrô na Venezuela, hidrelétrica em Moçambique e porto em Cuba “com charuto como garantia”. O tema é conhecidíssimo e sempre rendeu votos e mobilizou a sua base. Na campanha de 2018, ele disse que iria abrir a “caixa-preta” do BNDES – na prática, nenhuma irregularidade contra os governos do PT foi levantada pela sua administração, a não ser a velha crítica de que o petismo sempre foi parceiro dos governos ideologicamente alinhados.

Também na terça-feira, mirou a sua artilharia para outro velho fantasma que costuma agitar na caça aos votos: o do comunismo. Ao comentar a vitória do esquerdista Gustavo Petro na Colômbia, país que até então era governado pela direita, ele se colocou como a última resistência à dominação comunista no continente. “Por que essa perseguição por parte da esquerda? Porque nós sempre fomos o último obstáculo para o socialismo”, disse em vídeo. Na sequência, imagens de pobreza e fome na Venezuela, elogios de Lula ao ditador venezuelano Hugo Chávez e frases tanto dele quanto de Dilma sobre a intenção de implantar um regime socialista no Brasil.

No mesmo dia, Bolsonaro tocou em outro ponto sensível ao seu eleitorado mais ideológico: criticou a fala de Lula de que havia ajudado a libertar os responsáveis pelo sequestro do empresário Abílio Diniz em 1989 – alguns deles eram ligados a grupos de esquerda na América do Sul. “Por que o Lula falou sobre isso?, questionou Bolsonaro, para em seguida responder. “Ele deu um recado a todos os narcotraficantes e bandidos do Brasil que ‘estamos juntos’, afirmou em conversa com apoiadores que reproduziu nas suas redes sociais.

A sua ofensiva nesse caso foi reforçada por Damares Alves, ex-ministra dos Direitos Humanos de seu governo e cotada para ser candidata a vice-presidente na chapa da reeleição. Em suas redes sociais, ela reproduziu a fala de Lula e comentou. “Essa é a diferença entre Bolsonaro e o ex-presidiário. Bolsonaro jamais pediria a sua ministra de Direitos Humanos que passasse a mão na cabeça de bandido”, afirmou em vídeo.

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi na mesma linha. Mas, antes de incluir a opção “soltar sequestradores” entre as iniciativas problemáticas de Lula, ele listou várias outras como confiscar armas, dizer que policial não é gente — Lula, na verdade, disse que Bolsonaro se preocupava mais com polícia do que com as pessoas –, enviar dinheiro para Cuba e regulamentar o aborto.

Aborto, aliás, é outro tema que o clã Bolsonaro usa para atacar Lula, aproveitando-se de fala recente do ex-presidente, que disse que o tema era uma questão de saúde pública – após a repercussão negativa da fala, ele ressaltou que era pessoalmente contra. “Uma sociedade que permite o assassinato de bebês abre as portas para qualquer tipo de barbárie, bastando uma justificativa”, afirmou Eduardo Bolsonaro, postando a propaganda do PL na televisão dedicada à exploração do assunto.

Outra polêmica que Bolsonaro ressuscitou da eleição de 2018 foi a do “kit gay”, que, na verdade, nunca existiu. Foi uma denominação criada pelo próprio Bolsonaro, em 2011, quando era deputado, para criticar material didático que incluía filmes e cartilha para professores, elaborados pelo Ministério dos Direitos Humanos em parceria com entidades não governamentais, apoiadas pela Unesco, para incentivar a educação sem homofobia. O material foi vetado pelo governo e não foi distribuído nas escolas.

No domingo, 19, Bolsonaro postou mensagem sobre um kit que seu governo está distribuindo sobre ‘literatura familiar’. Em sua mensagem, o presidente faz referência ao kit petista. “Diferentemente de governos anteriores, o kit atualmente distribuído é outro: entrega do material Programa Conta Pra Mim. Conteúdo educacional que incentiva o fortalecimento dos laços familiares e a alfabetização das crianças”, escreveu.

Outro assunto bastante explorado pelo bolsonarismo foi a prisão de um contador em São Paulo, responsável por ter feito as declarações de imposto de renda do ex-presidente, e que teria ligações com a facção criminosa PCC, segundo a investigação em andamento. “Contador do Lula por 3 anos é investigado por lavar dinheiro do PCC. Detalhe, seu escritório fica no mesmo endereço onde Lulinha (FILHO DO DESCONDENADO) possui 3 empresas. Mas é só uma coincidência!”, disse o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), primogênito do presidente, também decidiu investir na suposta proximidade de Lula com criminosos ao lembrar de declaração do ex-presidente que apontava razões sociais mais complexas para levar um adolescente, por exemplo, a roubar um celular — a frase é lembrada à exaustão no circuito bolsonarista. “O contador de Lula que, INCRIVELMENTE, ganhou 50 vezes na loteria tem ligação com PCC. Lula disse que ajudou a libertar sequestradores do Abílio Diniz;. O ex-presidiário também falou que não tem nada de mais o jovem ROUBAR celulares pra depois tomar uma cervejinha”, postou o senador nas suas redes sociais.

Diz o adágio popular que “em time que está se ganhando não se mexe”. Em que pese a maior estrutura que Bolsonaro terá na atual eleição, com partidos maiores apoiando a sua candidatura e com mais estrutura de comunicação e marketing, aparentemente será o feeling do clã Bolsonaro que irá guiar a campanha, como ocorreu em 2018. Ao menos é o que faz crer a investida recente da família sobre o petismo — que, claro, não se cansa de dar motivos, como nas recentes falas de Lula e que tem muitos telhados de vidro  para serem mirados.

 

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