A juíza Maria de Fátima Lúcia Ramalho, da 64ª Zona Eleitoral, revogou a prisão preventiva da primeira-dama de João Pessoa (PB), Lauremília Lucena, e de sua secretária, Tereza Cristina, presas no sábado por suspeita de peculato, coação eleitoral e constrangimento ilegal. Com a decisão, elas deixaram a penitenciária Júlia Maranhão no início da tarde desta terça-feira, 1, mas deverão cumprir medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica.
Lauremília é casada com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que está em campanha para a reeleição. A primeira-dama foi presa no bojo da operação Território Limpo, deflagrada para combater o aliciamento violento de eleitores e organização criminosa nas eleições municipais. Na decisão que autorizou a prisão, a mesma juíza Maria de Fátima afirmou que Lauremília e Tereza Cristina teriam participação ativa em um esquema em acordo com uma facção criminosa para influenciar as eleições municipais de 2024.
Ao revogar a prisão, a magistrada determinou que Lauremília e Tereza Cristina terão que cumprir algumas medidas, como recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, das 20h às 6h; proibição de frequentar os bairros São José e Alto do Mateus, bem como órgãos públicos ligados ao município de João Pessoa, em especial a prefeitura municipal; e não manter contato com os demais investigados. Elas também estão proibidas de se ausentarem de João Pessoa por mais de oito dias sem comunicação prévia à Justiça.
Em postagem nas redes sociais, Cícero Lucena afirmou que “a verdade venceu”. Lauremília voltou para o nosso lar de onde nunca deveria ter sido tirada de forma tão brutal e ilegal. Confio na justiça dos homens e principalmente na justiça de Deus”, afirmou. “Vamos em frente, pois nossa próxima vitória virá no dia 6 de outubro”, completou.
Como mostrou reportagem de VEJA, a interferência do crime organizado no processo eleitoral já motivou os adversários de Lucena — Luciano Cartaxo (PT), Ruy Carneiro (Podemos) e Marcelo Queiroga (PL) — a apresentarem um requerimento conjunto à Justiça Eleitoral pedindo o envio de tropas federais para garantir a lisura da eleição. O pedido traz relatos da atuação de bandidos, como um envolvendo uma menina cadeirante de 9 anos de idade, cuja família teria sido ameaçada por gangues de despejo caso ela gravasse uma peça eleitoral. Há também o caso de um dono de circo que cancelou um evento eleitoral que realizaria em seu espaço por ordens de criminosos.
Os adversários acusam Cícero Lucena, que lidera as pesquisas, de ter contratado facções para impedir atos de campanha de rivais e intimidar eleitores em territórios controlados pelo crime. O prefeito nega, mas o caso segue tendo desdobramentos. Antes da primeira-dama, a secretária-executiva de Saúde, Janine Lucena, filha do político, foi um dos alvos de uma operação da PF por suspeita de negociar apoio eleitoral da facção Nova Okaida, que controla o narcotráfico no estado, em troca de cargos na gestão municipal.