Governo tratou União Brasil como ‘amante’, diz líder na Câmara
Com indicados em três ministérios, partido tem muitos deputados descontentes com as negociações e tendência de ‘independência’ no Congresso
Como mostra reportagem de VEJA desta semana, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem patinado para montar uma base aliada sólida no Congresso, às vésperas da posse dos parlamentares eleitos em 2022, em 1º de fevereiro. Entre os partidos com representantes no ministério de Lula, o União Brasil é o que indica mais ostensivamente descontentamento com o modo como as negociações pelas nomeações foram conduzidas. Membros da bancada de 59 deputados eleitos do União estimam que um terço, no máximo, apoie efetivamente o governo, enquanto quase nenhum votou no petista contra Jair Bolsonaro na eleição presidencial.
Embora o governo atribua à sigla as indicações dos ministros das Comunicações, Juscelino Filho, do Turismo, Daniela Carneiro, e da Integração Nacional, Waldez Góes, os parlamentares dizem que as tratativas passaram sobretudo pelo líder do partido no Senado, Davi Alcolumbre (AP), sem que ele falasse pela sigla como um todo.
Deputados ouvidos reservadamente avaliam que Juscelino e Daniela não têm peso político junto à bancada e dizem que pegou muito mal o fato de o líder da sigla na Câmara, Elmar Nascimento (BA), ter sido barrado na Integração Nacional por petistas baianos, o que abriu espaço para a nomeação do ex-governador do Amapá Góes – aliado de Alcolumbre e filiado ao PDT. Ainda agravaram o ambiente as revelações de que Daniela tem ligações políticas com milicianos em Belford Roxo (RJ), cidade governada por seu marido, Waguinho.
Elmar Nascimento não esconde o clima de insatisfação que predomina entre os deputados da sigla em relação ao governo e vê uma tendência “bem ampla” de independência. Uma decisão deve ser anunciada até o final do mês. “Da Câmara convidaram dois deputados: um indicado por Alcolumbre, o ministro Juscelino, e a ministra Daniela, que foi a única da bancada que votou no Lula. O pessoal ficou com o pé atrás”, disse a VEJA o líder do partido. “O governo teve oportunidade de fazer uma aliança, um casamento de papel passado, mas preferiu ter o partido como ‘amante’. E aí, como ‘amante’, cada dia é um preço, cada dia vai ser uma novela”, ironizou Nascimento, um dos deputados mais próximos ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Aliados de Lula, por outro lado, tentam aparar as arestas para consolidar o apoio do partido. Elmar Nascimento esteve nesta semana com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para tratar da relação com o Palácio do Planalto. Nas tratativas, estão sobre a mesa as possibilidades de o deputado baiano manter indicação ao comando da Codevasf, autarquia que toca projetos importantes no Nordeste, sob influência de Nascimento desde o governo Bolsonaro, e demandas do partido por outros cargos cobiçados, a exemplo do Banco do Nordeste.