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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Evangélicos vão cobrar lealdade de Mendonça, diz Malafaia: ‘Todos cobram’

Pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo fala da importância de segmento ter representantes nos Poderes, da proximidade com o governo e das eleições

Por Reynaldo Turollo Jr. 13 dez 2021, 12h58

Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o pastor Silas Malafaia recebeu em sua igreja na última quinta-feira, 9, o indicado do presidente Jair Bolsonaro (PL) para o Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, que pregou como pastor para um público que lhe deu apoio na dura empreitada até o STF e explicitou o prestígio alcançado por Malafaia junto ao governo. Mendonça acabara de ser aprovado pelo Senado e tomará posse nesta quinta, 16. Malafaia foi um dos principais religiosos a atuar pela nomeação de um “terrivelmente evangélico” para a Suprema Corte, promessa de Bolsonaro para uma fatia importante de seu eleitorado.  A VEJA, o pastor explicou por que é relevante para a comunidade evangélica ter representantes nos Poderes da República e deu o tom do que se pode esperar de sua relação com Mendonça no tribunal. “Todo mundo cobra alguma coisa de ministros do STF. A esquerda cobra, a imprensa cobra, os partidos cobram. Qual é o problema de a gente cobrar?”, disse. Sua igreja, fundada por seu sogro no Rio de Janeiro há cinquenta anos, está em oito estados, tem 150 templos com mais de 200 000 fiéis e cerca de 700 pastores. Confira a entrevista.

O senhor teve notoriedade no processo de indicação de André Mendonça ao STF. Na prática, por que é tão importante para os evangélicos terem um representante em um tribunal? Eu não digo que na prática, para a igreja como instituição, interfira em alguma coisa. Quanto ao segmento social, aí muda. Eu faço essa distinção. As pessoas que estão na igreja pertencem à sociedade e têm o direito de se fazer representar. Existe muito preconceito contra os evangélicos, o que pudemos ver com o André Mendonça. Alguns jornalistas falam que a laicidade do Estado está em xeque-mate. Se o cara for católico, judeu, islâmico, espírita, não pode pertencer ao STF? Só quem não professa fé alguma? Lá no Supremo tem judeu, católico, ateu, esquerdista. Por que não pode ter um evangélico?  O interessante é que nunca lideranças evangélicas pediram isso ao Bolsonaro. Ele que, espontaneamente, lá na campanha de 2018, falou: ‘Vocês são 30% da população, vocês têm que ter um ministro lá, alguém que vai interpretar a Constituição e também defender direitos’.

Qual a relação que os líderes vão manter com o ministro Mendonça no STF? Vão telefonar pedindo que ele vote em determinado sentido, vão cobrá-lo publicamente? Hoje todo mundo cobra alguma coisa de ministros do STF. A esquerda cobra, a imprensa cobra, os partidos cobram. Qual é o problema de a gente cobrar alguma coisa que tem a ver com ideologia que está em jogo? Não acho nada demais se isso acontecer dentro do espaço democrático legal.

” Se o cara for católico, judeu, islâmico, espírita, não pode pertencer ao STF? Só quem não professa fé alguma? Lá no Supremo tem judeu, católico, ateu, esquerdista. Por que não pode ter um evangélico?”

Bolsonaro pediu a Mendonça para orar antes das sessões, mas o futuro ministro disse na sabatina que não cabe uma manifestação religiosa pública na Corte. O senhor se decepcionou? Eu não. Um político, quando fala, está olhando para aquele quinhão político, falando coisas que muitas vezes ele nem domina. O André tem o domínio. Abrir a sessão orando não está no regimento do STF, então ele respondeu perfeitamente. Eu não fiquei nem um pouco chocado. Agora, se amanhã os onze ministros decidirem que o André deve fazer uma oração, qual o problema? Nenhum.

O senhor não acha que parte da dificuldade que Mendonça enfrentou foi porque o presidente colou nele a pecha de ‘terrivelmente evangélico’, levando a indicação para o campo da religião? O presidente não é bobo. Os evangélicos entendem o que é um evangélico puro-sangue. Ele usou esse slogan para dizer que não iria escolher um pseudoevangélico. O problema foi um nome: Davi Alcolumbre, que acha que Bolsonaro falhou com ele, não fez força para ele continuar presidente do Senado. Ele esquece que ele cantou de galo dizendo que tinha nove votos no STF (para poder disputar de novo a presidência da Casa), mas perdeu de seis a cinco. Segundo o que falam, ele colocou na mesa os interesses políticos, de verba, e o presidente disse não.

Verba por meio de emendas parlamentares? Não só. Tem outras coisas, de ele ou o irmão ser ministro de Bolsonaro, e o presidente não quis. Aí começou uma guerra surda. Eu fui um dos caras que ajudaram Alcolumbre a ser presidente do Senado. Minutos após ganhar a eleição, ele estava no telefone comigo. Invoco aqui o testemunho de Fábio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação) de quantas vezes tentei marcar uma conversa com Alcolumbre. O deputado Sóstenes (Cavalcante, da bancada evangélica) também tentou várias vezes, e ele não quis conversa. Ele mediu a régua errado, porque, quando ele briga com o André, ele briga com toda uma comunidade.

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Alcolumbre se ofereceu para ser ministro do governo? O irmão dele mandou recado: ‘Se me colocar ou colocar o Alcolumbre…’. Não foi ele diretamente, mas o irmão falou para interlocutores. Então, a questão não foi uma guerra nossa, evangélica, contra o Alcolumbre. Ele que arrumou um problema para si. Alcolumbre e Renan Calheiros estavam juntinhos na guerra para derrubar André. Mas não estavam sozinhos. Tinha gente dentro do governo no jogo, tentando influenciar Bolsonaro. Ministros políticos, que eram obrigados a botar a cara para fora. Eu dou nomes: Ciro Nogueira, Fábio Faria, Flávia Arruda.

Mendonça foi a um culto na igreja que o senhor lidera. Bolsonaro também foi, logo após ser eleito em 2018. Por que sua igreja se tornou a preferida das pessoas que estão no poder? Porque eu me posiciono o tempo inteiro, não só em eleição. Eu falo de tudo o que está na sociedade, falo de vacina, falo de lockdown. Como poucos líderes evangélicos se expõem – e quando você faz isso está no risco de errar, de apanhar –, e como eu me exponho, abro a cara para coisas polêmicas, como eu tenho uma rede grande, como eles sabem que eu tenho influência, que eu ajudo a eleger deputado, senador, isso tudo vai me dando respaldo. Eu tenho acesso à mídia, eu falo com todos os jornalistas o tempo inteiro. A imprensa hoje, na era da informática, vê muito o número de acessos (a reportagens nos sites), então bota uma matéria em que eu estou e vai ter acesso. Porque é um segmento de 60 milhões de pessoas que não têm toda hora um líder falando.

Se todo e qualquer membro do Supremo tem que julgar de acordo com a Constituição e as leis, que espaço a fé tem num julgamento? As nações de matriz protestante são as mais democráticas do mundo. Um cara que vai para o Supremo e que tem na sua essência ideológica o cristianismo vai ser um cara justo, que não pode compactuar com nenhum jogo corrupto, que vai ter que julgar segundo a reta justiça. André Mendonça não vai para lá defender a Bíblia. Agora, ele vai ter princípios de ética, moral e justiça que são intrínsecos nele e ele vai manifestar isso nas suas decisões. Ele não vai lá para quebrar galho de pastor. A igreja evangélica chegou até aqui sem ter ninguém no STF e se tornou uma grandeza.

“As nações de matriz protestante são as mais democráticas do mundo. Um cara que vai para o Supremo e que tem na sua essência ideológica o cristianismo vai ser um cara justo”

Que julgamentos incomodaram para mobilizar tanto os pastores em colocar alguém lá? O senhor (ministro Luís Roberto)Barroso deu o aborto com três meses (de gravidez). Quando ele defende transgêneros, ele cita que o Brasil é signatário do Pacto de São José da Costa Rica. Lá diz que a vida começa desde a concepção e tem que ser protegida. Então, rasgaram o Pacto que ele mesmo cita no caso dos transgêneros. Usa a norma quando interessa e joga fora quando não interessa. Segundo, como é que o Supremo dá paridade a homofobia e racismo? Um é comportamento, o outro é condição. E terceiro e mais escandaloso: como é que o próprio Supremo investiga algo que é contra seus ministros (no inquérito das fake news, sob relatoria de Alexandre de Moraes)? A denúncia é privativa do Ministério Público. Prenderam um deputado (Daniel Silveira, do PSL), um líder partidário está preso por suas palavras (Roberto Jefferson, do PTB). Isso é um dos maiores absurdos jurídicos.

O inquérito das fake news afeta o governo Bolsonaro, mas no que ele prejudica a comunidade evangélica? Porque nós usamos a liberdade de expressão. Qual o problema de alguém dizer que tem que derrubar o presidente? Que tem que fechar o Congresso, o STF? Eu não concordo com isso, mas é liberdade de expressão. Estamos sendo cerceados numa das coisas mais preciosas que Deus deu e que a democracia dá, então eu não posso concordar com isso.

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Para os evangélicos, em qual dos três Poderes é mais importante ter representantes? No Legislativo, porque é onde se fazem as leis do conjunto da sociedade. Com todo o ativismo político do Supremo que estamos vendo, um ministro (Dias Toffoli) disse que o Judiciário é o poder ‘moderador’. Uma ova. Onde é que está isso na Constituição? Se você quer um poder moderador, deve ser o Legislativo, que representa o povo.

Os líderes evangélicos têm feito pesquisas de opinião com os fiéis para saber em quem eles vão votar? As pesquisas (da imprensa) são balela. Eu não posso acertar como o Nordeste ou as classes sociais vão votar, mas de mundo evangélico eu entendo um pouco. Dizer que há empate entre Bolsonaro e Lula no mundo evangélico é piada de salão. O presidente vai a uma igreja evangélica e o povo grita “mito”, que era uma coisa para não fazer. O Bolsonaro tem a maioria do apoio evangélico. A gente conversa com os pastores e eles dizem.

“Eu não posso acertar como o Nordeste ou as classes sociais vão votar, mas de mundo evangélico eu entendo um pouco. Dizer que há empate entre Bolsonaro e Lula no mundo evangélico é piada de salão”

Muitas pesquisas têm mostrado o aumento da pobreza e da fome de 2019 para cá, no período do atual governo. É sabido que boa parte do público evangélico vive em comunidades pobres. Essas pessoas vão votar em Bolsonaro? Isso não tem a ver com Bolsonaro, tem a ver com a pandemia. Quem é que fez o maior programa de ajuda humanitária na pandemia (o Auxílio Emergencial)? Bolsonaro vai perder voto? Vai, porque quem está no poder sofre o desgaste. Mas o que vai acontecer? A história da pandemia vai passar, as vacinas estão aí, o Brasil vai exportar vacinas com a fábrica da Fiocruz. E tem o aumento do Bolsa Família, que mudou de nome. Tudo isso vai chegar lá (nas pessoas pobres). Vai ser mole? Não, a eleição vai ser uma guerra.

O senhor pretende participar da campanha? Não vou com o presidente para lá e para cá porque não tenho tempo, mas na rede social o pau vai cantar. O arsenal é grande.

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