Eduardo Leite: ‘Polarização está difícil de ser rompida, mas há espaço’
Ex-governador em busca da reeleição falou a VEJA sobre desafios da campanha, percalços na aliança com o MDB e polarização nacional
Eduardo Leite (PSDB) vive a singular missão em 2022 de tentar a reeleição como ex-governador do Rio Grande do Sul. O tucano, eleito em 2018 para o mandato no Palácio Piratini, renunciou em 31 de março pensando na possibilidade de se candidatar à Presidência da República, mesmo após ter perdido as prévias presidenciais do partido para João Doria. A descompatibilização a seis meses da eleição é exigida pela lei eleitoral. Mas, ao não conseguir se viabilizar nacionalmente, Leite optou pela tentativa do segundo mandato gaúcho – ainda que tenha se declarado publicamente contra a reeleição.
Além do esforço para justificar sua briga pela reeleição enquanto é contrário à mesma, Leite também precisou lidar com críticas por ter recebido uma pensão de 19,6 mil reais nos meses após ter deixado o governo. O valor é um direito que ex-governadores têm no estado, mas foi revogado por uma lei sancionada pelo próprio em 2021 – ainda que só valha para o mandato seguinte.
A VEJA, o tucano também falou com exclusividade sobre os desafios da campanha e como o desentendimento entre MDB e PSDB no estado tem motivado discussões entre as direções nacionais dos dois partidos.
Por que decidiu se candidatar mesmo sendo contrário à reeleição? Sou contra a reeleição pela interferência que a campanha tem no mandato. Como eu renunciei, não há risco de contaminar o governo com interesses eleitorais. A crítica nunca significou ausência de desejo de continuar o trabalho.
Então seu plano A ao renunciar já era se candidatar ao governo? Era estar disponível para onde eu pudesse contribuir. Ainda existiam discussões em plano nacional mas, se o plano fosse concorrer à Presidência, eu teria trocado de partido. Não era sobre ser candidato ou não à Presidência, era sobre ter condições, pela lei eleitoral, de participar do debate político.
“Sou contra a reeleição pela interferência que a campanha tem no mandato. Como eu renunciei, não há risco de contaminar o governo com interesses eleitorais”
A campanha começou mal, com o senhor sendo criticado por ganhar uma pensão como ex-governador. Eu recebi o que a lei determinava. Nos primeiros meses não fui criticado, mas virou um ataque eleitoral a partir do momento em que virei pré-candidato. Preferi abrir mão do valor para não deixar haver narrativas mentirosas.
O desacordo gaúcho entre MDB e PSDB, por enquanto com campanhas separadas no estado, tem sido uma pedra no sapato da chapa nacional entre os partidos. Como o senhor avalia esse momento? O MDB é uma aliança possível e interessante para nós, mas que ainda não foi acertada no Rio Grande do Sul. Se a chapa não for conjunta, isso revela uma fragilidade da composição nacional. Precisamos admitir que pode não ser possível furar a polarização entre Lula e Bolsonaro e, se isso acontecer, serão necessários pilares de sustentação de um contraponto qualificado nos estados. Não é uma simples contrapartida (pelo PSDB ter aberto mão da candidatura nacional para apoiar Simone Tebet), é algo que está dentro da filosofia da coisa toda.
‘O MDB é uma aliança possível e interessante para nós, mas que ainda não foi acertada no RS. Se a chapa não for conjunta, isso revela uma fragilidade da composição nacional”
Pelo outro lado, como as dificuldades da terceira via em furar a polarização vão afetar sua campanha estadual? Eu tenho uma vantagem no Rio Grande do Sul que é já ser conhecido. A eleição nacional está com uma polarização difícil de ser rompida, mas há espaço. Os votos do Lula significam mais uma tolerância a ele para tirar Bolsonaro do que uma aceitação. Caberá a quem representa alternativas a capacidade de sensibilizar esse eleitor. Simone Tebet é qualificada nessa direção, assim como Ciro Gomes (PDT), Luciano Bivar (União Brasil), Luiz Felipe d’Avila (Novo)…