O dólar atingiu na última semana o maior valor nominal de sua história, superando pela primeira vez o valor de 6 reais. O frenesi com a moeda americana é creditado em boa parte à reação negativa do mercado ao pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que misturou um tímido corte de gastos com o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5.000 reais.
Nesta sexta-feira, por volta das 11h, a moeda americana bateu em 6,10 reais, superando a cotação com que fechou o dia anterior, em 6 reais. O valor nominal supera também as cotações acima da média registradas durante a pandemia, entre 2019 e 2021, quando o dólar ficou boa parte do período acima de 5 reais.
Mas esse não é o maior valor real da história recente, ao menos desde 1999, quando o governo Fernando Henrique Cardoso anunciou o fim da política de paridade da moeda brasileira com a americana.
Corrigido pelas inflações do Brasil e dos Estados Unidos, o maior valor continua sendo os registrados entre setembro e outubro de 2002, quando o mercado viveu dias de pânico com a possibilidade real de vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial.
Lula fechou o primeiro turno, no dia 6 de outubro, com 46% das intenções de voto e quase derrotou o candidato do governo, José Serra (PSDB), sem a necessidade de uma nova rodada de votação. A agonia ainda durou até 27 de outubro, quando o petista confirmou a vitória sobre o tucano com 61% dos votos e conquistou o primeiro de seus três mandatos como presidente.
Ajustado pelas inflações, o dólar chegou a 8,76 reais em setembro de 2002 — em valores nominais, o valor ficou perto de 4 reais pela primeira vez. Além do risco da vitória petista, o boom da moeda americana também foi influenciado pelas condições precárias da economia brasileira, com inflação chegando a dois dígitos e o país perdendo o status internacional de mercado seguro para investimentos.
Antes do atual momento, o maior valor corrigido, segundo estudo da Elos Ayta Consultoria, foi de 6,72 reais em outubro de 2020 em um dos momentos mais críticos da pandemia.
Por ironia, o valor corrigido mais baixo foi registrado também sob Lula, em julho de 2011, quando a moeda americana chegou a 2,31 reais, ajudado por um bom momento dos commodities e da entrada de investimentos externos no país.