Consulta sobre vacina em criança chega ao último dia com 20 mil interações
Termina neste domingo a iniciativa do Ministério da Saúde, que contraria as recomendações da Anvisa e de especialistas e vai na contramão de outros países
Até o início da tarde deste domingo, 2, último dia do prazo para colher sugestões, 19.625 pessoas já haviam opinado na consulta pública aberta pelo Ministério da Saúde para decidir sobre a vacinação contra a Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos de idade.
A consulta pública é considerada desnecessária pela maioria dos especialistas, uma vez que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já aprovou, no dia 16 de dezembro, o uso da vacina Comirnaty, da Pfizer, para imunização contra Covid-19 em crianças. A autorização veio após uma análise técnica criteriosa de dados e estudos clínicos. Segundo a agência, a vacina é segura e eficaz para o público infanti.
A iniciativa de fazer a consulta pública foi do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e foi interpretada como mais um movimento para agradar ao presidente Jair Bolsonaro e à militância bolsonarista, que são contra a vacinação infantil contra a Covid-19 – e fazem campanha ostensiva sobre o tema, principalmente nas redes sociais.
Na consulta pública, o ministério diz que o objetivo é “informar e conhecer as dúvidas da população”, “com a finalidade de obter subsídios e informações da sociedade para o processo de tomada de decisões”. Diz, ainda, o ministério que “tal relevância, no que se refere ao tema de vacinação de crianças nesta faixa etária, se dá por se tratar de público em pleno desenvolvimento e com lacunas ainda no que se refere a custo benefício desta vacinação considerando o cenário epidemiológico e regulatório atual”.
A postura do ministério contrasta com a adotada pela comunidade científica internacional e pelos governos de dezenas de países, entre eles Estados Unidos, Reino Unido e França. Nos Estados Unidos, mais de 5 milhões de crianças já foram vacinadas.
Após o término do prazo da consulta, a expectativa é que o ministro Marcelo Queiroga anuncie nesta semana qual será a posição do governo federal. No dia 4, o ministério ainda irá promover uma audiência pública com especialistas em imunização antes de decidir o que irá fazer. Tanto Queiroga quanto Bolsonaro já sinalizaram que a imunização de crianças não será obrigatória e que será exigida prescrição médida para a vacinação de crianças, o que também foi duramente criticado por especialistas. A maioria dos estados, no entanto, entre eles São Paulo, já anunciou que vão iniciar a vacinação de crianças em janeiro, independentemente da posição do governo federal e que não irão exigir prescrição médica para isso.