As fortes críticas de líderes do União Brasil a Lula e seu governo
Um dos maiores do Congresso, o partido já votou contra o Planalto apesar de comandar três ministérios na Esplanada
Prestes a completar cinco meses, o governo Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta muitas dificuldades para unificar a base aliada e garantir o apoio necessário no Congresso. Reportagem da edição de VEJA desta semana mostra como o União Brasil — um dos maiores partidos na Câmara e detentor, em tese, de três ministérios — dá sinais incertos sobre o futuro do casamento com o petista.
Entre as principais queixas estão as divergências programáticas, algo que ficou evidente na primeira votação importante para o governo — o União votou de forma unânime para derrubar os decretos de Lula que alteravam o Marco Legal do Saneamento. “A bancada tem majoritariamente uma formação reformista e liberal. Votamos o marco do saneamento, a desoneração dos impostos federais sobre os combustíveis. E o governo não tem a capacidade de diálogo pra ter essa compreensão, mas vai ter que ter”, afirma Danilo Forte (União-CE).
Mas não é só isso. Para além da cartilha liberal e reformista que o partido diz defender, há questões bem mais pragmáticas a azedar a relação entre o partido e o governo, como a ineficácia do governo para liberar emendas e distribuir cargos de segundo escalão. Interlocutores queixam-se de que, mesmo após acertadas as conversas sobre as indicações, o governo a bel-prazer rearranja os acordos. “Querem apoio na hora de votar, mas há uma dificuldade constante pelo comportamento do governo. Aparece petista pra tudo o que você imaginar”, diz reservadamente um parlamentar.
Outro alvo é o comportamento do ministro Rui Costa (Casa Civil), a quem cabe coordenador as diversas pastas do governo. Parlamentares do União Brasil dizem que ele tentou tirar da sigla a superintendência da Codevasf na Bahia. “Eles têm o governo da Bahia inteiro na mão, mas para eles não adianta compartilhar. Não entendem que queremos ajudar o governo. O que querem é aniquilar os adversários da província”, queixa-se um deputado.
Para Arthur Maia (União-BA), o Planalto peca ao não colocar na prática a promessa de governo de coalizão com a qual Lula foi eleito presidente nas últimas eleições, além de não enxergar que a esquerda foi “derrotada” nos governos estaduais e no Congresso. “A vitória do Lula não corresponde a uma vitória do ideário de esquerda, e foi muito mais em função do comportamento errático do Bolsonaro. O Lula se elegeu falando em pacto com o setor produtivo para destravar o crescimento. E ele não vai conseguir fazer o Brasil crescer revertendo privatizações, fazendo o retorno do imposto sindical, não coibindo invasão de terra, querendo mudar pelo STF o que votamos em relação à estatização da Eletrobras”, diz.
Outro ponto da discórdia matrimonial entre PT e União está exatamente nos ministérios que a sigla supostamente ocupa. A avaliação de membros da legenda é a de que os ocupantes das pastas foram escolhas pessoais de Lula e não contemplam o partido. É o caso de Daniela Carneiro (Turismo), esposa do prefeito de Belford Roxo (RJ) Waguinho, um apoiador importante do petista na Baixada Fluminense na campanha. De malas prontas para o Republicanos, a ministra é tida como uma decisão unilateral do presidente para acomodar interesses junto ao casal. Situação semelhante acontece com Waldez Góes (Desenvolvimento Regional). Indicado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), o ministro sequer formalizou sua migração para a sigla — está no PDT — e é visto como um estranho no ninho. O mais enturmado no partido é Juscelino Filho (Comunicações), que foi forçado a submergir após se envolver em suspeitas de ocultação de patrimônio e de uso do orçamento secreto para benefício próprio. Sua ausência no debate sobre a regulamentação das redes sociais, um dos assuntos quentes do Congresso, inclusive, é vista como um sinal de degola iminente.