Após cacique milionário, PF mira outras lideranças indígenas por corrupção
Nova operação em reserva do Mato Grosso apura pagamento de propina de 70 mil reais por madeireiros
Em março deste ano, uma operação da Polícia Federal no Mato Grosso expôs um delicado problema envolvendo a questão indígena: o suborno de lideranças da tribo por pecuaristas para conseguir criar gado dentro da reserva, em terras protegidas por lei.
O cacique Damião Paridzané, uma importante liderança xavante na região, que já participou de conferências ambientais internacionais e recebeu em 2014 o Prêmio Direitos Humanos das mãos da presidente Dilma Rousseff, foi acusado, com base em depoimentos de presos na investigação, de receber 889.000 reais mensais de proprietários rurais para permitir a exploração ilegal da Terra Indígena Marãiwatsédé, que ele lidera.
Nesta terça-feira, 12, outra operação da PF, deflagrada para investigar o desmatamento ilegal na Terra Indígena Menkragnoti, no município de Peixoto de Azevedo, também em Mato Grosso, encontrou problema semelhante: madeireiros teriam cooptado as lideranças indígenas da aldeia Kororoti, ofertando cerca de 70 mil reais para a retirada de 2.000 metros cúbicos de madeira do local.
O desmatamento foi detectado por uma operação conjunta com o Ibama e órgãos ambientais locais, que envolveu o sobrevoo de helicóptero da região. Na ação desta terça, foram apreendidos armas e veículos – estes foram destruídos pela PF pela impossibilidade de retirá-los do local.
O nome da operação, Escudo de Palha, segundo a PF, é decorrente da “aparente proteção que os indígenas locais empreendiam em favor da floresta, quando na verdade a proteção era facilmente sobrepujada por suborno em favor de liderança local”.
Problema
Para o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Mato Grosso, Gilberto Santos, cooptar lideranças indígenas e abrir as terras para a entrada de invasores tem constante no governo Jair Bolsonaro. Ele lembra que há situações em que a comunidade aceita empreendimentos dentro das terras por falta de assistência. “Há uma desestruturação do atendimento daquilo que é direito das comunidades, então vai se criando um ambiente que força as comunidades a buscarem outras alternativas”, diz Santos.